+ Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília
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O anúncio da paixão e morte na cruz, que Jesus faz no Evangelho, precisa ser claramente recordado no mundo de hoje. No atual contexto cultural, torna-se ainda maior a tentação de se acomodar num cristianismo morno e pouco exigente. Persiste na história a atitude inicial de Simão Pedro, de não admitir que o Messias e seus seguidores pudessem passar pela cruz. Segundo a lógica do mundo, a vitória não pode estar na cruz e na doação da própria vida, mas no sucesso alcançado a qualquer custo, sacrificando-se até mesmo os valores do Reino para preservar a si próprio e fazer valer seus interesses. Pedro teve muito a aprender com Jesus para tornar-se o discípulo fiel que doa a própria vida. Nós temos muito a aprender com Jesus, contemplando a sua cruz, sinal de fidelidade e doação. O caminho de Jesus e, consequentemente, do discípulo, exige renúncias e sacrifícios para ser coerente com a fé e doar a própria vida.
Conforme São Paulo, os cristãos são chamados a não se acomodarem aos esquemas do mundo, através de uma contínua conversão. O “culto espiritual” que oferecem se faz através da oferta de si próprios, em “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12,1). Para tanto, é preciso confiança na graça de Deus e esforço sincero.
A situação dos profetas, no Antigo Testamento, também não foi fácil. Na primeira leitura, o profeta Jeremias descreve a sua situação de sofrimento, desprezado e perseguido, por ser fiel a sua missão profética. Contudo, ele permaneceu coerente e confiante em Deus, assim como deve acontecer conosco quando passamos por provações.
Há muitos que se sacrificam para alcançar bens que passam, como a beleza corporal, a riqueza, a fama e o poder, mas não são capazes de sacrificar-se pelos outros, nem de fazer renúncias para serem coerentes com o Evangelho. Viver somente para si não condiz com o ensinamento de Jesus e não traz felicidade duradoura. Feliz é quem se doa aos irmãos no serviço paciente e generoso da caridade, na convivência misericordiosa com o próximo e na partilha dos seus bens. Feliz é quem permanece fiel a Jesus até o fim, amando como ele amou, sendo próximo de quem sofre através da oração e de gestos concretos de solidariedade.
No próximo dia 07 de setembro, toda a Igreja no Brasil está sendo convidada, pelos Bispos, a oração e jejum pelo Brasil. O jejum é sinal de despojamento e conversão, oportunidade para partilha e vida nova. É preciso rezar, refletir e mobilizar pacificamente, para contribuir na superação da grave crise política, econômica e ética que sofremos. Entre os cristãos, as mobilizações populares pela justiça e a paz no Brasil sejam sustentadas pela fé e acompanhadas pela oração!
Arquidiocese de Brasília
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