+ Sergio da Rocha Cardeal Arcebispo de Brasília |
A Palavra de Deus orienta a nossa vivência da Quaresma, que deve ser um tempo de conversão, através da oração, da penitência e da caridade. O Evangelho proclamado (Jo 2,13-25) nos mostra o “zelo pela casa do Senhor”, demonstrado por Jesus, ao expulsar do templo de Jerusalém os vendedores e os cambistas que lá estavam transformando-o em “uma casa de comércio” (Jo 2,16). Jesus restaura, assim, o verdadeiro sentido do templo. Os templos de hoje também devem ser espaços privilegiados de encontro pessoal e comunitário com Deus, por meio da oração e das celebrações litúrgicas. O Evangelho se refere ainda à morte e ressurreição de Jesus que é um tema de especial importância neste tempo quaresmal. Diante do pedido de um sinal, Jesus fala da sua ressurreição. O próprio texto joanino esclarece que Jesus, ao falar em destruir e reconstruir o templo em três dias, “estava falando do templo do seu corpo” (Jo 2,20), acrescentando que mais tarde, os discípulos se lembraram disso e acreditaram na Palavra dele (Jo 2,22). O corpo ressuscitado de Jesus é o novo templo. A resposta ao “sinal” pedido pelo povo é a própria ressurreição de Jesus, que supera o sinal representado pelo majestoso templo de Jerusalém.
Neste 3º Domingo da Quaresma, nós rezamos o Salmo 18, reconhecendo que o Senhor tem “palavras de vida eterna”. Tais “palavras” se encontram resumidas no Decálogo, recordado na primeira leitura. Os Dez Mandamentos se situam no contexto do Êxodo e encontram a sua plenitude em Jesus Cristo. Antes de começar a pronunciar os mandamentos, Deus afirma: “Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, da casa da escravidão” (Ex. 20,2). Estas primeiras palavras são fundamentais para se compreender o que vem depois, pois pressupõem a experiência do Êxodo. A fé no verdadeiro Deus é a base do Decálogo, fundamentando uma nova vida, ao contrário da opressão sofrida no Egito, baseada nos ídolos. Os Mandamentos devem ser compreendidos como fonte de vida e de verdadeira liberdade e não como um peso a ser suportado. O Povo de Deus encontra neles “palavras de vida eterna”, critérios norteadores para o seu agir pessoal, familiar, comunitário e social.
Seja o tempo da Quaresma, ocasião especial para vivência da Palavra do Senhor, no interior dos templos e fora deles. Procuremos dar testemunho da fé através do amor fraterno, anunciando com palavras e com a vida que “somos todos irmãos”, conforme o lema da Campanha da Fraternidade. A superação da violência pela via da fraternidade é sinal da conversão e consequência da oração e da penitência que devem marcar a nossa vivência quaresmal.
Arquidiocese de Brasília
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