+ Sergio da Rocha Cardeal Arcebispo de Brasília |
O Evangelho, hoje proclamado, dá sequência ao episódio apresentado na liturgia do último domingo. Conforme o Evangelho segundo S. Lucas, Jesus foi a Nazaré, entrou na sinagoga e foi convidado a ler e a comentar um trecho do Profeta Isaías. Ele o fez, aplicando a si próprio a passagem anunciada. O trecho de hoje (Lc 4,21-30) relata a reação dos habitantes de Nazaré diante das palavras de Jesus. Num primeiro momento, eles ficam admirados. Contudo, a admiração inicial, demonstrada pelos seus conterrâneos, logo se desfaz. Eles o conheciam há muito tempo; sabiam da sua origem humilde, chamando-o de “filho de José”, o carpinteiro. A reação de desprezo se completa com a dura rejeição a Jesus: “levantaram-se e o expulsaram da cidade”; pretendiam até “lança-lo no precipício”. O que aconteceu para que “todos” na sinagoga ficassem tão “furiosos”?
Jesus se referiu, corajosamente, à rejeição sofrida pelos profetas na própria terra e recordou a manifestação da misericórdia de Deus e a acolhida da salvação entre os que não pertenciam ao povo eleito, nos tempos de Elias e Eliseu: a viúva de Sarepta e o leproso Naamã, que era sírio. Assim sendo, esta passagem do Evangelho não fala apenas de recusa sofrida por Jesus e pelos profetas da parte dos seus conterrâneos. Ela fala, sobretudo, do amor misericordioso de Deus, oferecido a todos os que creem e acolhem a sua Palavra, sejam membros do povo eleito, sejam habitantes de outros povos. O alcance universal da salvação, testemunhado na alusão a Elias e Eliseu, se manifesta e se cumpre plenamente em Jesus Cristo.
Em meio a perseguições, o profeta sabe que pode contar com a presença de Deus que o sustenta e anima na missão, conforme a vocação de Jeremias. “Não tenhas medo”, “eu estou contigo para defender-te” (Jer 1,17.19), fala o Senhor aos que envia em missão. A firmeza e a fidelidade que Deus espera dos profetas encontram a sua realização plena em Jesus Cristo. Nesta perspectiva, Lucas ressalta que “Jesus, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho” (Lc 4, 30). Nada impede Jesus de caminhar fielmente para Jerusalém, onde consumará a sua missão, através do mistério de sua morte na cruz.
Na segunda leitura, a Liturgia de hoje nos recorda o verdadeiro sentido do amor cristão, a caridade, conforme nos descreve a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios. O belíssimo hino à caridade nos mostra como viver o mandamento do amor.
Arquidiocese de Brasília / O Povo de Deus
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