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sábado, 6 de abril de 2019

5º Domingo da Quaresma - Ano C

A liturgia de hoje fala-nos (outra vez) de um Deus que ama e cujo amor nos desafia a ultrapassar as nossas escravidões para chegar à vida nova, à ressurreição.
A primeira leitura apresenta-nos o Deus libertador, que acompanha com solicitude e amor a caminhada do seu Povo para a liberdade. Esse “caminho” é o paradigma dessa outra libertação que Deus nos convida a fazer neste tempo de Quaresma e que nos levará à Terra Prometida onde corre a vida nova.
A segunda leitura é um desafio a libertar-nos do “lixo” que impede a descoberta do fundamental: a comunhão com Cristo, a identificação com Cristo, princípio da nossa ressurreição.
O Evangelho diz-nos que, na perspectiva de Deus, não são o castigo e a intolerância que resolvem o problema do mal e do pecado; só o amor e a misericórdia geram activamente vida e fazem nascer o homem novo. É esta lógica – a lógica de Deus – que somos convidados a assumir na nossa relação com os irmãos.
LEITURA I – Is 43,16-21

ATUALIZAÇÃO:

• O nosso Deus é o Deus libertador, que não Se conforma com qualquer escravidão que roube a vida e a dignidade do homem e que está, permanentemente, a pedir-nos que lutemos contra todas as formas de sujeição. Quais são as grandes formas de escravidão que impedem, hoje, a liberdade e a vida? Neste tempo de transformação e de mudança, o que posso eu fazer para que a escravidão e a injustiça não mais destruam a vida dos homens meus irmãos?
• A vida cristã é uma caminhada permanente, rumo à Páscoa, rumo à ressurreição. Neste tempo de Quaresma, somos convidados a deixar definitivamente para trás o passado e a aderir à vida nova que Deus nos propõe. Cada Quaresma é um abalo que nos desinstala, que põe em causa o nosso comodismo, que nos convida a olhar para o futuro e a ir além de nós mesmos, na busca do Homem Novo. O que é que, na minha vida, necessita de ser transformado? O que é que ainda me mantém alienado, prisioneiro e escravo? O que é que me impede de imprimir à minha vida um novo dinamismo, de forma que o Homem Novo se manifeste em mim?
LEITURA II – Filip 3,8-14
ATUALIZAÇÃO:
• Neste tempo favorável à conversão, é importante revermos aquilo que dá sentido à nossa vida. É possível que detectemos no centro dos nossos interesses algum desse “lixo” de que Paulo fala (interesses materiais e egoístas, preocupações com honras ou com títulos humanos, apostas incondicionais em pessoas ou ideologias…); mas Paulo convida a dar prioridade ao que é importante – a uma vida de comunhão com Cristo, que nos leve a uma identificação com o seu amor, o seu serviço, a sua entrega. Qual é o “lixo” que me impede de nascer, com Cristo, para a vida nova?
• É preciso, igualmente, ter consciência de que este caminho de conversão a Cristo é um caminho que está, permanentemente, a fazer-se. O cristão está consciente de que, enquanto caminha neste mundo, “ainda não chegou à meta”. A identificação com Cristo deve ser, pois, um desafio constante, que exige um empenho diário, até chegarmos à meta do Homem Novo.
EVANGELHO – Jo 8,1-11
ATUALIZAÇÃO:
• O nosso Deus – di-lo de forma clara o Evangelho de hoje – funciona na lógica da misericórdia e não na lógica da Lei; Ele não quer a morte daquele que errou, mas a libertação plena do homem. Nesta lógica, só a misericórdia e o amor se encaixam: só eles são capazes de mostrar o sem sentido da escravidão e de soprar a esperança, a ânsia de superação, o desejo de uma vida nova. A força de Deus (essa força que nos projecta para a vida em plenitude) não está no castigo, mas está no amor.
• No nosso mundo, o fundamentalismo e a intransigência falam frequentemente mais alto do que o amor: mata-se, oprime-se, escraviza-se em nome de Deus; desacredita-se, calunia-se, em razão de preconceitos; marginaliza-se em nome da moral e dos bons costumes… Esta lógica (bem longe da misericórdia e do amor de Deus) leva-nos a algum lado? A intolerância alguma vez gerou alguma coisa, além de violência, de morte, de lágrimas, de sofrimento?
• Quantas vezes nas nossas comunidades cristãs (ou religiosas) a absolutização da lei causa marginalização e sofrimento… Quantas vezes se atiram pedras aos outros, esquecendo os nossos próprios telhados de vidro… Quantas vezes marcamos os outros com o estigma da culpa e queimamos a pessoa em “julgamentos sumários” sem direito a defesa… Esta é a lógica de Deus? O que nos interessa: a libertação do nosso irmão, ou o seu afundamento?
• Neste caminho quaresmal, há duas coisas a considerar: Deus desafia-nos à superação de todas as realidades que nos escravizam e sublinha esse desafio com o seu amor e a sua misericórdia; e convida-nos a despir as roupagens da hipocrisia e da intolerância, para vestir as do amor.
PALAVRA PARA O CAMINHO…
A mulher adúltera… “Esta mulher foi apanhada em flagrante delito de adultério…” “Aquela martirizou o seu filho…” “Aquela deixou-o morrer de fome…” “Aquela outra…” …e as nossas mãos já estão cheias de pedras para a lapidar. Esta semana, a convite de Jesus, comecemos por olhar onde se situa o nosso pecado… De seguida, em relação a todas estas mulheres de hoje condenadas sem apelo, abramos o nosso coração à compreensão… à misericórdia… e talvez ao apoio na sua angústia.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF