Casa comum |
Em
comunhão com o Papa Francisco celebramos, neste 1º de setembro, o Dia Mundial
de Oração e Cuidado com a Criação.
Orani João, Cardeal Tempesta, O.
Cist.
Arcebispo Metropolitano de São
Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Com o
tema central da humildade e da generosidade, neste primeiro dia de setembro e
também o 22º domingo do tempo comum, iniciando o Mês da Bíblia, em comunhão com
toda a Igreja no Brasil somos convidados a estudar e aprofundar de forma
especial a Palavra de Deus e o que Deus nos ilumina na oração e no cuidado para
com o planeta terra, a nossa “casa comum”. Em comunhão com o Papa Francisco
celebramos, também, neste 1º de setembro, o Dia Mundial de Oração e Cuidado com
a Criação. Relembro três trechos da Laudato Si: no primeiro (n.8-9)
o Papa recorda que “o Patriarca Bartolomeu tem se referido particularmente à
necessidade de cada um se arrepender do próprio modo de maltratar o planeta, porque
«todos, na medida em que causamos pequenos danos ecológicos», somos chamados a
reconhecer «a nossa contribuição – pequena ou grande – para a desfiguração e
destruição do ambiente». No segundo – n. 236 – o Pontífice sublinha como na
Eucaristia “a criação encontra a sua maior elevação”. No terceiro (n. 241-242),
o Papa refere-se a Maria e José, colocando em evidência, em particular, como a
Virgem ” Assim como chorou com o coração trespassado a morte de Jesus, assim
também agora Se compadece do sofrimento dos pobres crucificados e das criaturas
deste mundo exterminadas pelo poder humano”.
Nas
intenções de intercessão, se reza para que os cristãos busquem em primeiro
lugar o Reino de Deus, cresçam no espírito, produzam frutos abundantes,
trabalhem pelo bem da Igreja e não falte nunca às novas gerações a partilha dos
bens da criação.
Na liturgia dominical contemplamos que a humildade atrai sobre si o amor de
Deus e o apreço dos outros, ao passo que a soberba os repele. Por isso, a
primeira leitura (Cf. Eclo 3,19-21. 30-31) aconselha-nos: “Filho, realiza teus
trabalhos com mansidão e serás amado mais do que um homem generoso. Na medida
em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça
diante do Senhor” (Cf. Eclo 3,19-20). O homem humilde compreende melhor a
vontade divina e sabe o que Deus lhe vai pedindo em cada circunstância. O
humilde respeita os outros, as suas opiniões e as suas coisas; possui uma
especial fortaleza, pois apoia-se constantemente na bondade e onipotência de
Deus: “Quando sou fraco, então sou forte”, proclama São Paulo.
O que é ser humilde? Humildade deriva de humus, pó, lama, barro...
Ser humilde é reconhecer-se dependente diante de Deus, é saber-se pobre,
limitado diante do Senhor. Quem é assim, sabe avaliar-se na justa medida porque
sabe ver-se à luz do Senhor! O humilde tem diante de si a sua própria verdade:
é pobre, é indigente, mas infinitamente agraciado e amado por Deus. Por isso, o
humilde é livre e, porque livre, manso. Tinha razão Santa Teresa de Jesus
quando afirmava que a humildade é a verdade. O humilde vê-se na sua verdade
porque vê-se como Deus o vê, vê-se com os olhos de Deus! Então, o humilde é
aberto para o Senhor, dele reconhece que é dependente, e a ele se confia. Podemos,
assim, compreender as palavras do Eclesiástico: “Filho, realiza teus
trabalhos com mansidão; na medida em que fores grande, deverás praticar a
humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor. O Senhor é glorificado
nos humildes”. É assim, porque somente o humilde, que reconhece que depende
de Deus, pode ser aberto, e acolher como uma criança o Reino que Jesus veio
trazer.
No Evangelho (Cf. Lc 14, 1. 7-14) no banquete na casa do fariseu, o Senhor diz:
“Quando fores convidado, vai tomar o último lugar, para que, quando vier o que
te convidou, te diga: Amigo vem mais para cima. Então serás honrado na presença
de todos os convivas. Porque todo aquele que se exalta será humilhado; e aquele
que se humilha será exaltado”. A virtude da humildade não tem nada a ver com a
timidez ou a mediocridade. A humildade leva-nos a ter plena consciência dos
talentos que Deus nos deu, mas para fazê-los render com o coração reto. A
humildade faz que tenhamos consciência clara de que os nossos talentos e
virtudes, tanto naturais como na ordem da graça, pertencem a Deus, porque da
sua plenitude, todos recebemos. Tudo o que é bom vem de Deus; a deficiência e o
pecado, esses, sim, são nossos. Humildade é reconhecer que valemos pouco – nada
-, e ao mesmo tempo sabermo-nos “portadores de essências divinas de um valor
inestimável”.
A atitude que o Cristo hoje nos ensina é a gratuidade: “Quando
deres uma festa (Tu dás: a festa da vida que o Senhor te concedeu e,
mais ainda da vida nova em Cristo, recebida no Batismo e celebrada na
Eucaristia), convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu
serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na
ressurreição dos justos”. A gratuidade é a virtude que dar sem esperar nada
em troca, dar e sentir-se feliz, sentir-se realizada no próprio dar. Se
prestarmos bem atenção, a gratuidade é filha da humildade. Só quem sabe de
coração que em tudo depende de Deus e de Deus tudo recebeu gratuitamente
(humilde), também sente-se impelido a imitar a atitude de Deus: dar
gratuitamente! “De graça recebestes, de graça dai!” (Mt 10,8)
ou, como dizia Santa Teresinha do Menino Jesus: “Viver de amor é dar sem
medida, sem nesta terra salário reclamar; sem fazer conta eu dou, pois
convencida de que quem ama já não sabe calcular!” Pois bem, quem faz crescer em
si a humildade e cultiva a gratuidade, experimenta a Deus e seu Reino, pois
aprende a sentir o coração do próprio Deus, que tudo nos deu gratuitamente.
Quem cultiva a humildade e a gratuidade, deixa o Reino ir entrando em si e
entrará, um dia, no Reino de Deus.
A humildade elimina os complexos de inferioridade – que com frequência resultam
da soberba ferida -, torna-nos alegres e serviçais, sequiosos de amor de Deus:
Nosso Senhor porá em nós tudo o que nos faltar. Só o humilde procura a sua
felicidade e a sua fortaleza no Senhor. Um dos motivos pelos quais os soberbos
andam à cata de louvores e se sentem feridos por qualquer coisa que possa
rebaixá-los na sua própria estima ou na dos outros, é a falta de firmeza
interior; o seu único ponto de apoio e de esperança são eles próprios.
Pratiquemos
a humildade e a generosidade, prenhe de compaixão, cuidando e protegendo a
nossa “casa comum”! Que a Palavra de Deus, que é lâmpada para os nossos pés e
luz para os nossos caminhos, nos anime em comunidade a ler, refletir e rezar a
Palavra de Deus, Amém!
Rádio Vaticano
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