+ Dom Sérgio da Rocha Cardeal Arcebispo de Brasília |
A Liturgia da Palavra continua a nos interpelar a respeito da nossa relação com os bens materiais, levando-nos a pensar como administramos, utilizamos e partilhamos os bens deste mundo, perante Lázaro. A parábola narrada por S. Lucas (Lc 16,19-31) nos apresenta dois personagens: um homem rico que vivia luxuosamente, em meio a festas, e um pobre chamado Lázaro, que estava doente e com fome, sem conseguir nada da mesa do rico. Após a morte, enquanto o rico foi condenado, Lázaro foi “levado pelos anjos junto de Abraão” (Lc 16,22), isto é, mereceu um lugar de honra no banquete do Reino, juntando-se aos patriarcas e profetas. O rico não ouviu a Palavra de Deus anunciada por Moisés e os Profetas (Lc 16,31); não teve compaixão de Lázaro que estava a sua porta, morrendo aos poucos.
Dentre esses Profetas que não foram ouvidos pelo homem rico, está Amós, que denunciou os que viviam no luxo e não se preocupavam com os sofrimentos dos pobres, conforme o texto proclamado na primeira leitura (Am 6,1-7). A parábola se conclui com a referência aos cinco irmãos que permaneciam neste mundo e necessitavam ser advertidos para mudarem de atitude, a fim de não terem o triste fim daquele homem rico. Como fazer isso? “Ele têm Moisés e os Profetas, que os escutem!” (Lc 16,9), é a resposta dada.
Por isso, é preciso refletir sobre a nossa conduta diante dos bens materiais e, de modo especial, perante Lázaro, que representa os que sofrem com a miséria. Necessitamos de simplicidade de vida, ao invés do luxo e do consumismo; necessitamos da partilha e da justiça social, ao invés da acumulação egoísta de bens; necessitamos de compaixão e solidariedade, ao invés da indiferença perante os que mais sofrem. Os discípulos de Cristo devem testemunhar o amor ao próximo em ações concretas de compaixão e partilha. Lázaro interpela a todos nós!
Entretanto, devemos ser cristãos por inteiro. A atitude justa diante dos bens materiais não acontece isoladamente; depende do modo como vivemos o Evangelho. Trata-se de um fruto de uma vida de “homem de Deus”. S. Paulo, escrevendo a Timóteo (1Tm 6,11-16), traça um retrato do “homem de Deus” que cada discípulo de Cristo é chamado a ser. Dentre os seus traços, estão “a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza e mansidão”. O texto se conclui com um belo hino litúrgico apresentando Deus como o verdadeiro soberano, em contraste com os falsos deuses e com os títulos atribuídos aos reis e senhores deste mundo.
Neste Dia Nacional da Bíblia, escutemos mais atentamente a Palavra de Deus, recebendo-a como “Palavra da Salvação” e procurando discernir o que Deus quer de nós.
Arquidiocese de Brasília / O Povo de Deus
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