Cardeal Dom Sérgio da Rocha Administrador Apostólico da Arquidiocese de Brasília |
A Quaresma tem sido, desde as origens, um tempo batismal por excelência, marcado pela preparação dos catecúmenos para o Batismo e pela renovação das promessas batismais na Páscoa. A Liturgia da Palavra dos domingos da Quaresma serve de itinerário catequético para os que se preparam para o Batismo e para os que renovam a vida batismal. Por isso, o tema da água, proposto pela Liturgia deste domingo, adquire um sentido ainda maior pelo seu caráter batismal.
O Êxodo fala da água que Moisés fez brotar da rocha, na difícil travessia do povo pelo deserto rumo à nova terra. O povo purificou e amadureceu a sua fé atravessando o deserto. No deserto, chegou a duvidar da presença de Deus, conforme o final do texto proclamado: “O Senhor está no meio de nós ou não?” (Ex 17,7). Entretanto, no deserto, eles experimentaram a misericórdia e o poder de Deus, como demonstra o episódio da água que brota da rocha. Deus caminha com o seu povo na travessia do deserto, saciando a sua sede.
Nós somos o novo Povo de Deus que necessita de “água” para saciar a sede, especialmente quando passamos por situações de deserto representadas por provações, pelo cansaço e pela aridez. O diálogo de Jesus com a mulher samaritana ocorre à beira do poço, que foi do patriarca Jacó, por volta do meio dia, sob o sol forte e o calor. Jesus aproveita aquele momento para falar de outra sede e de outra água: “quem beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede” (Jo 4,14). No diálogo, ele se revela como a fonte da água viva. Mais tarde, ele dirá: “se alguém tiver sede, venha a mim e beba” (Jo 7,37). Assim como a samaritana, nós também somos convidados a pedir a Jesus, nesta Quaresma: “Senhor, dá-me dessa água” (Jo 4,15).
Uma vez saciados, não podemos reter essa água. Quem a recebe deve ser portador dessa boa nova, a fim de que outros também possam abraçar a fé em Cristo, como ocorreu com a samaritana. “Muitos creram por causa da sua palavra”, afirma o texto joanino. Por isso, nesta Quaresma, beba da fonte da água que sacia a nossa sede de vida plena, que é Cristo, e ajude outros a fazerem a mesma experiência.
Há uma relação essencial entre água e vida. A Campanha da Fraternidade, neste ano, nos convida a acolher a vida como “dom e compromisso”, fazendo-nos refletir e agir diante de tantas situações que destroem a vida. Necessitamos defender a vida e a dignidade de cada pessoa, em qualquer situação em que ela se encontrar, especialmente a vida mais indefesa ou fragilizada. Saciados pela água viva, que é Cristo, possamos “ver, sentir compaixão e cuidar”, inspirados na parábola do Samaritano.
Folheto: O Povo de Deus/Arquidiocese de Brasília
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