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sábado, 25 de abril de 2020

Nova datação do Novo Testamento (Parte 5/11): os Atos dos Apóstolos e os Evangelhos Sinóticos

Os Atos dos Apóstolos e os Evangelhos Sinóticos

5. OS ATOS DOS APÓSTOLOS E OS EVANGELHOS SINÓTICOS
No início do Capítulo 4 (“Atos e Evangelhos Sinóticos”), Robinson trata brevemente da autoria do Evangelho de Lucas e dos Atos dos Apóstolos, concluindo que não vê razões decisivas contra a aceitação da atribuição tradicional de ambas as obras (ou melhor dizendo, de Lucas-Atos, uma obra conjunta composta de duas partes) a São Lucas.
Em seguida, o autor passa a considerar o problema da datação de Lucas-Atos, sustentando que os três principais fatores a se levar em conta são:
a) As profecias sobre a queda de Jerusalém, em Lucas;
b) A dependência do Evangelho de Lucas em relação ao Evangelho de Marcos (tema que se inscreve dentro do “problema sinótico”); e
c) A parte final de Atos.
Robinson já tratou do fator (a), concluindo que não há razão suficiente para supor que essas profecias tenham sido compostas depois do evento. Deixando para o final do capítulo a análise do problema sinótico, o autor passa a considerar o problema da parte final de Atos:
  • “As palavras finais de Atos são: ‘Paulo permaneceu 2 anos completos no lugar que havia alugado e recebia todos que vinham até ele. Pregava o Reino de Deus e ensinava o referente ao Senhor Jesus Cristo com toda liberdade e sem nenhuma perturbação'” (Atos 28,30-31).
A pergunta é: por que a narrativa termina aqui? Como disse Harnack (em “A Data de Atos” 95s):
  • “Ao longo de 8 capítulos inteiros, São Lucas mantém seus leitores intensamente interessados no progresso do julgamento de São Paulo, até que, simplesmente, no final, ele os desilude totalmente: eles (os leitores) não ficam sabendo nada sobre o resultado final do julgamento! Tal procedimento é escassamente menos indefensável que aquele que relatasse a história de Nosso Senhor e terminasse a narrativa com a entrega a Pilatos, pois Jesus tinha sido trazido agora até Jerusalém e tinha feito sua aparição diante do principal juiz da principal capital” (pp.82-83).
Várias explicações foram propostas para este final, mas nenhuma delas parece satisfatória, senão a mais simples (e a que se deveria prestar maior atenção): o relato de Atos termina aqui porque São Lucas escreveu Atos logo depois disto. É importante notar que Atos não menciona a perseguição aos cristãos por parte do imperador Nero, nem a morte no ano 62, por ordem do Sinédrio (que aproveitou um momento, após a morte do procurador Festo, para aplicar a pena capital sem a autorização de Roma) de Tiago, “o irmão do Senhor”, líder da comunidade cristã de Jerusalém. Ademais, Atos tampouco oferece qualquer indício da rebelião judaica contra os romanos. A partir da leitura de Atos, ninguém consegue perceber o violento enfrentamento que ocorreu pouco depois entre judeus e romanos.
Se Atos foi escrito na etapa em que sua narrativa termina (isto é, no início dos anos 60), isto implica que o Evangelho de Lucas (obviamente anterior, cf. Atos 1,1) foi escrito cerca de uns 30 anos antes do que geralmente se supõe. E se também supormos, com a grande maioria dos especialistas do Novo Testamento, a prioridade de Marcos, isto implica que Marcos foi escrito bem cedo, talvez por volta do ano 50.
Isto leva o autor a reconsiderar o “problema sinótico”, ou seja, o problema das relações, semelhanças e diferenças entre os três Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). Como se sabe, a solução mais comumente aceita deste problema é a “Hipótese dos 2 Documentos”. Esta hipótese sustenta que Mateus e Lucas dependem de dois documentos anteriores: Marcos e Q, sendo Q uma hipotética fonte de ditos de Jesus. Robinson afirma que o consenso em torno desta solução fundamental “começou a mostrar sinais de esgotamento. Ainda que esta seja todavia a hipótese dominante, contida nos manuais-texto, suas conclusões já não podem ser tidas por certas, entre os ‘resultados seguros’ da crítica bíblica” (p.86).
O autor defende a tese de que as interrelações entre os três Evangelhos Sinóticos são muito mais complexas do que as permitidas pela Hipótese dos 2 Documentos. Sua posição sobre o problema sinótico é representada pelo seguinte esquema provisório:
1. Formação das coleções de histórias e ditos (P, Q, M e L): anos 30 a 40+
2. Formação de “proto-Evangelhos”: anos 40 a 50+
3. Formação dos nossos Evangelhos Sinóticos: anos 50 a 60+
Robinson dá muita importância aos testemunhos da antiga tradição cristã sobre a redação dos Evangelhos. Em particular, ele sublinha que a Didaqué fala muitas vezes do Evangelho (no singular), como se fosse uma única obra literária. Também destaca que são bem numerosos os testemunhos antigos (Papias, Ireneu, Clemente de Alexandria, Jerônimo, Prólogo Antimarcionita) que relacionam o Evangelho de Marcos com a pregação de Pedro, de quem Marcos foi assistente e intérprete. Vários desses testemunhos afirmam que Marcos redigiu o seu Evangelho em Roma.
O autor conclui:
  • “Portanto, creio que alguém deve estar preparado para levar a sério a tradição de que Marcos – em cuja casa, em Jerusalém, Pedro buscou refúgio antes de sua apressada fuga (Atos 12,12-17) e a quem, mais tarde, em Roma, iria se referir a ele como seu ‘filho’ (1Pedro 5,13) – acompanhou Pedro até Roma no ano 42 como seu intérprete e catequista e, depois da partida de Pedro da capital, aceitou o reiterado pedido de registrar a pregação do Apóstolo, talvez por volta do ano 45” (p.106).
Veritatis Splendor

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF