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Ao surgir os primeiros raios do sol, Cléofas e o seu companheiro retomaram a difícil caminhada em direção a Emaús. Para eles, caminhar nunca havia sido tão complicado, pois a poeira, as pedras e os desníveis do caminho não eram nada diante da tristeza, da desesperança e do sentimento de perda provocados pela Paixão, crucifixão e morte do Salvador. Por que fizeram isso com o Messias esperado? E agora onde iremos depositar todas as nossas esperanças? Essas e tantas outras perguntas ruminavam, silenciosamente, no interior de seus corações que estavam revestidos dos sentimentos de tristeza, de perda e de ausência.
Tal qual encanto, desde as primeiras horas daquele memorável dia, o sol irradiava uma maior quantidade de luz e de calor. Era como se o sol quisesse alegrar os dois discípulos. Mas, como seria possível transmitir alegria quando só se vislumbravam os sinais do sofrimento? Esses sinais de sofrimento, sinais de uma perda irreparável, eram visíveis nas faces dos discípulos. Com a voz embargada e com os olhos cheios de lágrimas, Cléofas e o seu companheiro caminhavam recordando aquelas trágicas horas.
Buscando novas forças para prosseguir naquele caminho que parecia não levar a lugar nenhum, Cléofas tentava consolar o companheiro, mas, ao mesmo tempo, ele também precisava ser consolado. Ao olhar para o horizonte, notou que o vento começou a soprar impetuosamente, parecia que uma tempestade estava se aproximando. O ruah emitido pelo vento era assustador. Mas, em pouco tempo, o vento passou e foi aí que eles ouviram uma voz que lhes dizia: “Que palavras são essas que trocais enquanto ides caminhando? ”.
Com espanto e sem palavras para uma resposta imediata, os dois discípulos se questionavam, interiormente: de onde havia surgido aquele peregrino? Será que ele estava conosco desde o início de nossa caminhada? Sentindo que o peregrino transmitia uma certa paz e uma imensa tranquilidade e, mesmo sem reparar nos primeiros momentos quem era aquele desconhecido, Cléofas e o seu companheiro começaram a entabular com Aquele viandante o mais significativo diálogo de suas vidas. No decorrer desse diálogo, os discípulos de Emaús ouviram a Palavra de Deus, que lhes foi explicada de uma forma única e com tal fascínio que, diante da intenção do peregrino de partir, de ir mais adiante, os dois discípulos suplicaram: “Fica conosco, Senhor! ” Por favor, permanece conosco, pois há pouco o nosso caminho era vazio, sem ideal, sem perspectivas de vida e sem nenhuma possibilidade de mudança. Por favor, permanece conosco, pois com você tudo adquire um sentido novo, suas palavras são centelhas de amor, são fogo de um evento pascal que irradia algo novo em nosso ser, transformando profundamente as nossas vidas. Sem suas palavras, sem sua contínua catequese, perdemos o nosso referencial. Então, por favor, continue conosco, amigo peregrino!
Percebendo nas faces de Cléofas e do companheiro a visibilidade da maturação do crer em Deus e a retomada da confiança em Suas promessas de ressurreição, o amigo peregrino aceitou ficar e participar da Ceia. Naquela inesquecível Ceia, tudo aos poucos foi se modificando. Logo no início, ficou claro que, apesar do convite para o banquete ter sido feito pelos discípulos, a presidência da comensalidade coube ao Peregrino que, de uma forma profunda, harmônica e autêntica, partiu o Pão, evidenciando, com os gestos, os sinais e as Palavras, os anunciados e esperados sinais da ressurreição. Sim, era Ele! Ele é Jesus, o Crucificado Ressuscitado que caminha conosco pela estrada de Emaús, ensinando-nos que, nesta via de purificação na qual caminhamos, juntos com Cléofas e o seu companheiro, a Fração do Pão, a Sagrada Eucaristia, é o mais perfeito sinal de Sua presença em meio a nós e, por isso, hoje, neste Terceiro Milênio da era cristã, o caminho de Emaús continua acessível a todo aquele que aceita o convite a sentar-se à Mesa, a todo aquele que aceita o convite para se alimentar, não com as ideias e as palavras humanas, mas sim, com a Palavra de Deus e a Sua real presença na Eucaristia.
Após a participação na Fração do Pão, Cristo desapareceu dos olhos dos discípulos de Emaús, mas nunca mais desapareceu de seus corações, de suas mentes, de seus pensamentos e de suas almas. Cristo permaneceu de tal modo junto a eles que, de imediato, eles voltaram para Jerusalém, para anunciar com renovado entusiasmo: “O Senhor ressuscitou! ” E ali, junto aos Apóstolos, eles puderam narrar todos os detalhes da aparição do Cristo ressuscitado em Emaús e puderam também ouvir os relatos de Pedro, de João e dos demais Apóstolos sobre outras aparições do Senhor vivo e ressuscitado. Nos detalhes desses relatos, os discípulos de Emaús perceberam como é bom pertencer à Igreja, como é bom estar junto de Pedro, de Maria Santíssima e dos Apóstolos, anunciando ao mundo que a luz prevalece sobre as trevas, a vida prevalece sobre a morte, a caridade prevalece sobre a desesperança e a presença de Cristo prevalece sobre qualquer forma de medo.
Não sei quanto a você, caro amigo, mas eu, cada vez mais, me reconheço como um descendente e herdeiro de Cléofas e de seu companheiro e daqueles primeiros discípulos que participaram dos acontecimentos da Páscoa de Jesus, pois, todas as vezes que permaneço diante do Altar de nosso Senhor, eu reconheço o Cristo na Fração do Pão, na Sagrada Comunhão, na benevolência de Seu olhar misericordioso. Faço e refaço a experiência de Emaús quando medito nas Sagradas Escrituras tudo o que diz respeito ao Cristo, o Cordeiro de Deus que nos libertou do pecado e de todos os males.
Atualizo a experiência de Emaús quando reconheço que a Sagrada Comunhão é um Sacramento, um Sinal do amor de Deus, um Sacrifício, uma Presença viva e transformadora. Renovo a experiência de Emaús quando percebo que o caminho de Emaús é o caminho de todos os discípulos de Jesus, mais ainda, o caminho de Emaús é o caminho de todo o ser humano. E assim é, porque nas nossas caminhadas, nas nossas estradas, Cristo vivo e ressuscitado faz-Se nosso amado Companheiro de percurso, para revigorar em nossos corações o ardor da fé, da esperança e da caridade.
Não sei quanto a você, caro amigo, mas eu aprendi que, no final de cada dia, no final das celebrações eucarísticas e ao término de mais um serviço missionário, eu devo voltar para casa, eu devo voltar para Jerusalém, eu devo voltar para a minha cidade, transbordando do amor de Deus Pai, da presença de Cristo, na comunhão do Espírito Santo, bradando efusivamente: Ele apareceu também a mim! Ele aceitou o meu convite e, diante da Mesa, revelou-me os sinais da Sua eterna presença! Ele permanece comigo! Ele permanece conosco! No caminho de Emaús, Ele permanece em nós! Hoje e sempre, quando a noite se aproxima e o dia cai, Ele permanece conosco, aquecendo a nossa esperança com os sinais do Seu amor e do Seu acolhimento!
Aloísio Parreiras
https://arqbrasilia.com.br/
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