Mural de grafite do artista Eduardo Kobra em homenagem às vítimas do coronavírus, Itu, São Paulo (AFP or licensors) |
“Neste
momento da história há muitos pontos que são comuns à família humana, porém há
um em particular: o sofrimento, que não conhece nacionalidade, religião,
etnia”. Entrevista com o estudioso islâmico Cenap Aydin, fundador do Instituto
Tevere para o Diálogo Inter-religioso.
Francesca Sabatinelli – Cidade do Vaticano
Neste
momento de crise pela pandemia, chegou o momento de se dedicar à contemplação e
à reflexão. Dia 14 de maio, será dedicado à oração e ao jejum e à invocação a
Deus pela humanidade atingida pela pandemia, com a participação do Papa
Francisco. A iniciativa nasceu do Alto Comitê para a Fraternidade Humana,
formado por líderes religiosos que se inspiram no documento assinado em Abu
Dhabi pelo Papa Francisco e o Grão-Imame de Al-Azhar, Al Tayyeb.
Entrevistamos Denap
Aysin, de nacionalidade turca, diretor fundador do Instituto Tevere, Centro
de diálogo intercultural e inter-religioso e especialista em islamismo para nos
falar desta importante iniciativa.
Recordamos os pedidos de jejum e oração de São João
Paulo II
“Esta
iniciativa – explica Aydin – não é apenas para as pessoas de fé, mas para todos
os seres humanos”. A atitude de Francisco, é uma “atitude muito inspirada.
Sempre pediu aos fiéis, e não só aos fiéis, para rezarem principalmente pela
paz, convida a todos para sentirem necessidade de paz, paz pelo bem-estar, pelo
bem comum”. O dia de oração de 14 de maio cai em pleno Ramadã, o mês sagrado e
de jejum para o Islã, um jejum que será de todos. Aydin recorda e não é a
primeira vez, do convite de São João Paulo II pela paz na Bósnia massacrada
pela guerra nos anos 1993 e 1994. E depois, cita o Angelus de 18 de novembro de
2001, quando o Papa Wojtyla convidava para um dia de jejum e oração, eram os
dramáticos meses logo depois do atentado às Torres Gêmeas em Nova York, e
também na época era tempo de Ramadã, explica, muçulmanos e católicos foram
convidados a fazer um dia de jejum e oração juntos.
O
estudioso continua: “Também agora, para o dia 14 de maio, estamos no Ramadã,
mas o convite é mais alargado, dirigido a todos. Desta vez fazemos um passo
adiante e o papel das religiões é muito claro porque agora os fiéis, mas
principalmente os líderes religiosos, testemunham a unidade para que o mundo
saiba que as religiões, fazendo parte da família humana, são diretamente
envolvidas para encontrar soluções a esta crise e aos muitos problemas que
afligem nossa humanidade”.
No Alcorão, Maria enfrenta o jejum da palavra
Para
Cenap Aydin neste momento da história há muitos pontos que são comuns à família
humana, porém há um em particular: o sofrimento, que não conhece nacionalidade,
religião, etnia. As más notícias deste período nos fazem aproximar uns dos
outros, nos fazem unir os esforços para uma solução imediata. O diretor do Instituto
Tevere conclui seu pensamento dirigindo-se à Maria da história, a Maria deste
mês mariano. “No Alcorão, capítulo 19, Maria, Maryam é convidada por Deus,
segundo a tradição islâmica a observar o jejum, um jejum muito particular, o da
palavra, ficar em silêncio quando nasce Jesus. Maria estava muito preocupada
com a resposta que deveria dar ao seu povo, portanto vemos uma Maria, Maryam,
que não fala, fica em silêncio, fazendo jejum, em oração, em contemplação,
esperando uma resposta de Deus. Hoje, em uma outra situação, podemos recordar
desta cena no Alcorão. Redescobrimos a nossa debilidade, descobrimos que somos
tão frágeis, porém agora é nossa fragilidade que nos leva a estar reunidos de
novo em oração, no jejum, no amor que nos abraça e, através da oração, ao amor
de Deus”.
Vatican News
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