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sábado, 23 de maio de 2020

A MÃE DO BELO AMOR

ACI Digital
“Eu sou a Mãe do Belo Amor! ”. (Eclo 24, 24). Esta frase, que está no livro do Eclesiástico, é utilizada pela Liturgia para exaltar uma característica da Virgem Santa Maria, ou seja, o seu amor, sem reservas, aos planos salvíficos de Deus. Esta frase cabe, com perfeição, nos lábios da Virgem Mãe, pois, em termos humanos, nunca houve, e jamais haverá em toda a nossa história, um amor a Deus tão grande, tão perfeito, tão ardoroso e tão belo quanto o que teve a Virgem Santa de Nazaré, desde o primeiro instante de sua existência.
O Apóstolo São João nos ensina que “Deus é amor”. (1 Jo 4,8). Maria é a Mãe de Deus, e se Deus é amor, Nossa Senhora é a Mãe do Belo Amor, que é Jesus Cristo em Pessoa. Entre todas as criaturas, Maria é a mais amável, a bendita entre as mulheres, a cheia de graça, a guardiã da beleza do verdadeiro Amor.
O amor da Virgem Maria abriu as portas da plenitude dos tempos, a fim de que Deus viesse habitar entre nós. Graças ao seu sim, à sua entrega e serviço, o amor de Maria embeleza as nossas almas aos olhos de Deus e leva essa amorosa Mãe a nos ter por filhos, pois a natureza do amor é sempre ser expansivo. Quando adentramos a escola de Maria e a acolhemos como nossa bondosa Mãe, podemos afirmar com renovado entusiasmo: “Ó seguro refúgio, a Mãe de Deus é a minha mãe. Que certeza tem a nossa esperança, já que nossa salvação depende da sentença de um Irmão tão bom e de uma tão compassiva Mãe!”. (Santo Anselmo).
Santo Agostinho nos ensina que “a história da humanidade consiste na luta entre dois amores: amor e egoísmo”. O amor é muito mais que do um sentimento, é um mandamento que Cristo nos legou e, por isso, se traduz na identificação com Deus e no serviço ao próximo. Por sua vez, o egoísmo é o amor deturpado que se volta unicamente para si. A Virgem Maria viveu o mais alto grau do amor e, deste modo, com a autoridade da Mãe do Belo Amor, Ela “mostra-nos o que é o amor e de onde este tem a sua origem e recebe incessantemente a sua força”. (Papa Bento XVI, Deus Caritas Est, nº 42).
A Virgem Maria nunca se deixou levar pelas sombras do egoísmo. Ao contrário, Ela sempre comunicou a ternura do abraço que acalenta, acolhe e consola. Ela sempre extravasou os sinais do amor, da ternura e do encanto, salmodiando: “Transborda um poema do meu coração”. (Sl 44,2). E ainda: “Minha alma glorifica ao Senhor e meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador!”. (Lc 1,47).
“Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua Palavra! ” (Lc 1, 38). Ao comunicar ao Arcanjo São Gabriel a generosidade do seu sim, sua decisão de participar livremente nos projetos divinos, a Virgem Maria nos ensina que o amor é uma escolha, a melhor opção da liberdade que, quando realizada com responsabilidade, nos ajuda a ser, sempre mais, imagem e semelhança de Deus, intensificando a nossa união com o Amado. Graças ao sim amoroso de Maria, o amor de Deus se debruçou sobre nós, pecadores, a fim de nos salvar do caos e da morte eterna. Foi o Amor que fecundou a Virgem Mãe, transformando-a na Mãe do Belo Amor.
Logo após a anunciação do Arcanjo São Gabriel e a revelação de que Isabel, sua idosa prima, estava grávida, a Virgem Mãe se dirigiu a Ain Karim para servir a Isabel, testemunhando que o amor é dinâmico e expansivo, é um olhar observador sobre as necessidades do outro, é um gesto de doação, de alegria por poder compartilhar da felicidade do próximo.
Desse modo, a felicidade de Isabel e de Zacarias, pelo nascimento de João Batista, se tornou também a felicidade de Maria, pois o amor sempre se faz presente no nascimento, no início da vida, clareando inúmeras possibilidades de esperança. Em Ain Karim, a Mãe do Belo Amor evidenciou que o amor não se limita a querer o bem das pessoas, pois o amor vai mais longe: o amor realiza, concretiza o bem. Ela também evidenciou que o amor que não sai de si e não encontra o outro acabará esmorecendo, ou, até mesmo, desaparecendo.
Nas Bodas de Caná da Galileia, por meio dos gestos e das palavras de Maria, somos inseridos na revelação de que o amor não é uma posse individual. Maria tinha o pleno conhecimento de que o seu Filho é Deus, mas os vizinhos e os habitantes de Nazaré e das redondezas não sabiam. A partir de Caná, do início da vida pública de Jesus, o nosso Redentor estará fisicamente cada vez menos presente no lar de Nazaré, mas, cada vez mais estará no meio dos pecadores, dos doentes e de todos aqueles que precisam de Sua misericórdia.
Naquela festa de casamento, com o seu olhar amoroso, Maria percebeu a falta do vinho e o possível constrangimento que os noivos iriam sofrer, mas o amor chega primeiro, chega sempre a tempo e resolve as dificuldades, mesmo quando não é percebido. Após o acontecimento de Caná, o relacionamento amoroso entre Maria e o Cristo, entre a Mãe e o Filho, foi inserido em um grau muito superior, envolvendo a Virgem Mãe na dinamicidade da Igreja, onde Ela é a nossa Mãe medianeira.
Aos pés da Cruz de Jesus, a Virgem Maria testemunhou que o amor é inseparável da dor. O amor exige sacrifícios e renúncias, a fim de transformar a realidade, evidenciando os sinais de um novo tempo, a tão esperada ressurreição. Aos pés da Cruz de Jesus, a Mãe das dores nos faz perceber que a ausência de Deus, a falta de fé em Deus, a negação de Deus, é pior do que a miséria, a fome e a pobreza, pois o Amor só faz morada onde é acolhido, onde as portas da salvação se abrem livremente. O Amor é a chama que mantém acesa a nossa esperança, mesmo quando as tempestades sacodem o barco da nossa vida.
Contemplando a vida e o exemplo da Mãe do Belo Amor, participamos dos mistérios divinos e adquirimos a consciência de que a finalidade do amor humano é a correspondência ao amor de Deus, pois no encontro decisivo com o Cristo, nós encontramos a paz, segurança e bondade. Juntos da Virgem Maria, nós somos inseridos nos caminhos da alegria do Evangelho, onde aprendemos que o amor precisa se esvaziar de todas as coisas que atrapalham a caminhada na vida humana e cristã, para que possa ser preenchido pela presença de Cristo, pela realidade sobrenatural da graça e pelos sinais da caridade que jamais passarão.
O amor da Virgem Mãe é uma realidade viva e dinâmica nas almas e corações, pois Ela viveu a plenitude do amor humano em correspondência ao amor do Filho, em uma sublime entrega de amor por todos nós. No dia da sua assunção aos céus, em corpo e alma, “finalmente, após tantos voos espirituais, tantos arrebatamentos e tantos êxtases, aquele castelo santo de pureza e humildade rendeu-se ao último assalto do amor, depois de haver resistido a tantos. O amor a venceu, e consigo levou sua benditíssima alma”. (São Francisco de Sales).
Doce Mãe Maria, Mãe do Belo Amor, ensinai-nos a viver o abandono total à vontade de Deus por meio da vivência do amor. Mãe, nós queremos alcançar a perfeição do amor por nosso Senhor Jesus Cristo e, por isso, recorremos à sua poderosa proteção, dizendo: “Salve, ó Mãe, Rainha do mundo. Tu és a Mãe do Belo Amor. Tu és a Mãe de Jesus, Fonte de toda a graça, o perfume de toda virtude, o espelho de toda a pureza. Tu és alegria no pranto, vitória na batalha, esperança na morte. Que doce sabor o teu nome na nossa boca, que suave harmonia nos nossos ouvidos, que embriaguez no nosso coração! Tu és a felicidade dos que sofrem, a coroa dos mártires, a beleza das virgens. Suplicamos-Te, guia-nos, a seguir a este exílio, até à posse do Teu Filho, Jesus. Amém! ”. (Papa João Paulo II, Homilia em 1º de maio de 1979).  Mãe do Belo Amor, ensinai-nos a amar o que é belo, nobre e justo aos olhos de Cristo, pois assim elevaremos e transfiguraremos a nossa vida, conhecendo sempre mais as riquezas escondidas no vosso coração materno e no Sagrado Coração de Jesus, divina Fonte do Amor!
Aloísio Parreiras
Arquidiocese de Brasília

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF