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DA PROVIDÊNCIA DIVINA
São Tomás de Aquino
(cf. Suma Teológica)
ARTIGO 5º – SE OS ATOS HUMANOS SÃO REGIDOS PELA PROVIDÊNCIA
Respondo dizendo que, assim como já foi dito anteriormente, tanto mais nobremente algo é colocado sob a ordem da providência quanto mais próximo estiver do primeiro princípio.
Ora, entre todas as criaturas, são as substâncias espirituais as que mais se aproximam do primeiro princípio, de onde que são ditas terem sido assinaladas pela sua imagem; e por isso obtiveram da divina providência que não apenas sejam provistas, mas também que provejam, sendo esta a causa pelas quais as substâncias espirituais podem eleger os seus atos, e não as demais criaturas, que são somente provistas, sem serem providentes.
Importa, porém, que a divina providência, na medida em que diz respeito à ordenação ao fim, seja feita segundo a regra do fim. O primeiro providente, porém, é ele próprio como o fim da providência; possui, portanto, a regra da providência a si unida, de onde que é impossível que por parte dele próprio possa ocorrer algum defeito nas coisas provistas pelo mesmo. Neles, deste modo, não pode haver defeito a não ser por parte dos provistos.
Mas as criaturas, às quais a providência foi comunicada, não são fins de sua providência, mas se ordenam a outro fim, a saber, Deus. São ordenadas, portanto, na medida em que tomam da regra divina a retidão de sua providência. Origina-se daqui que, em sua providência, possa ocorrer defeito não somente por parte dos provistos, mas também por parte dos providentes.
Segundo, todavia, que alguma criatura esteja mais unida à regra do primeiro providente, segundo isto a ordenação da sua providência terá uma retidão mais firme. Como, portanto, tais criaturas podem apresentar defeitos em seus atos, e elas próprias são causas de seus atos, surge daqui que seus defeitos tenham razão de culpa, o que não era o caso dos defeitos das outras criaturas.
Porque, porém, tais criaturas espirituais são incorruptíveis em seus indivíduos, também os seus indivíduos são provistos por causa de si mesmos, e por isso os defeitos que neles ocorrem ordenam-se à pena ou ao prêmio na medida em que lhes compete, e não somente na medida em que são ordenados a outros. E entre estas criaturas está o homem, porque pela sua forma, isto é, a alma, é uma criatura espiritual, da qual vem a raiz dos atos humanos, e pela qual o corpo do homem possui ordenação à imortalidade.
E por isto os atos humanos caem debaixo da divina providência de modo que eles próprios são provisores de seus atos, e seus defeitos possuem uma ordenação para com si próprios e não somente para com os outros, assim como o pecado do homem possui uma ordenação dada por Deus para o bem do homem para que este, ressurgindo após o pecado, se torne mais humilde, ou pelo menos para o bem que se realiza nele pela justiça divina, na medida em que é punido pelo pecado. Mas os defeitos que ocorrem nas outras criaturas possuem uma ordenação somente para com outros, assim como a corrupção deste fogo se ordena à geração daquele ar.
E por isto, para designar este modo especial de providência, pela qual Deus governa os atos humanos, está escrito no livro da Sabedoria: “Dispõe de nós com reverência” (Sabedoria 12, 18).
Veritatis Splendor
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