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segunda-feira, 18 de maio de 2020

ESTUDOS BÍBLICOS: O LIVRO DE JÓ (5/6)

Tradução do espanhol por: Pe. André Sperandio

TERCEIRA SESSÃO DE DISCURSOS (22,1–27,23)

As duas primeiras sessões discursos transcorre de modo ordenado: os amigos falam e Jó responde a cada um deles. A terceira, no entanto, aparece desordenada e confusa. Elifaz fala e Jó responde. O discurso de Bildad, de apenas cinco versículos, está provavelmente truncado; Sofar permanece em silêncio. E mais: parte do que diz Jó parece mais apropriado na boca de seus amigos. Os peritos ainda estão tentando chegar a uma conclusão coerente, mas dá a impressão de que Jó e seus amigos estão gritando, todos ao mesmo tempo, o que poderia ser muito provável no final de um «diálogo entre surdos» sobre a ordem cósmica e moral.

TERCEIRO DISCURSO DE ELIFAZ (22,1-30)

Elifaz reage à refutação de Jó e lhe acusa de uma série de pecados graves (6,11), justamente o que costumam fazer os poderosos contra os pobres e desamparados (8). No antigo Oriente Médio, as viúvas e os órfãos eram considerados os mais desvalidos e necessitados da sociedade, já que não tinham quem os defendesse diante de um tribunal. Ao longo do Antigo Testamento, o dever dos poderosos era o de estar do lado dos fracos e desamparados e estabelecer a justiça, não perverte-la. Elifaz persiste em seu discurso e, por último, convida Jó a que acerte ele mesmo as suas pendências com Deus (21-30). Se se arrepender, poderá novamente desfrutar da luz e do cuidado de Deus (28), e encerra assim a sua argumentação. Elifaz nos revela o triste retrato da degeneração a que pode chegar uma «pessoa religiosa», quando confunde seus pobres intentos de conhecer a Deus com a revelação mesma. É o que acontece frequentemente também em nossos dias. Seria demasiado ingênuo considerar que este seja apenas um problema do passado.

RESPOSTA DE JÓ A ELIFAZ (24,25)

Jó anseia de novo poder levar seu caso a um tribunal. Os versículos 23,3-7 abundam em terminologia jurídica. Curiosamente, parece que dispensa a ajuda de um mediador (árbitro, testemunha ou advogado), mas está disposto a conduzir ele mesmo o seu caso, convencido de que pode provar a sua inocência. Mas as coisas não são tão fáceis. Deus desapareceu (23,8s). A ironia de 23,10b chama a atenção: nós, os leitores, sabemos que Jó está sendo provado e que, finalmente, a justiça será feita; contudo, Jó atravessa a noite escura da alma. Ele se manteve completamente fiel, mas Deus tem seus caminhos misteriosos (23,11-14). Jó se pergunta porque Deus ainda não fixou uma data para se sentar no tribunal e tomar suas decisões (24,1). Retomando o tema da injustiça social, Jó descreve o comportamento dos malvados que oprimem os fracos e desvalidos (24,2-4); segue-se uma longa descrição da luta dos pobres pela própria sobrevivência. Novamente estamos diante de um problema de então que se repete diariamente em nossas ruas nos dias de hoje. A próxima unidade (24,13-17) é uma espécie de reflexão sapiencial sobre os dois caminhos, o da luz e o das trevas, focando melhor aqueles que amam as trevas. Dia e noite simbolizam as duas opções de vida. O assassino, o adúltero e o ladrão se protegem na escuridão para cometer seus crimes. Transtornando a ordem natural das coisas, o anoitecer é para eles como o amanhecer, quando despertam para realizar as obras do mal.

TERCEIRO DISCURSO DE BILDAD (25,1-6)

Bildade inicia suas alegações finais louvando a Deus Criador que estabelece a paz no céu. Os versículos seguintes (4-6) retornam ao tema familiar: todos os seres humanos estão corrompidos e cheios de iniquidade (4,17-21; 11,11; 15,14-16). A pretensa inocência de Jó é simplesmente impossível. Um ser humano inocente? Não existe tal coisa. Estas reflexões sobre a condição humana são as últimas palavras registradas dos amigos de Jó.

RESPOSTA FINAL DE JÓ (26,1–27,23)

Os dois capítulos seguintes são problemáticos; parecem mais o resultado de fragmentos posteriormente recolhidos e justapostos. Jó começa respondendo as provocações habituais de seus amigos e repreende-os valendo-se da abundância da clássica terminologia sapiencial, ou seja, conselhos, avisos e reflexões (26,2s). Eles se afastaram do autêntico caminho da sabedoria por não levar em consideração um fato fundamental: a experiência pela qual Jó está passando. A magnífica descrição da criação, que vem logo a seguir (26,5-14), poderia muito bem ser a continuação do hino ao Criador de Bildad (25,2-6). Tal como está o texto, dá a impressão que Jó tenha interrompido Bildad para concluir, ele mesmo, o hino iniciado por seu amigo, descrevendo a atividade criadora de Deus em termos que lembram Gn 1. Com um juramento solene, Jó continua, uma vez mais a insistir em sua inocência. É Deus quem lhe faz injustiça, mas, ao contrário de seus amigos, Jó não servirá a Deus com mentiras e falsidades (27,4;. Cf. 13,7-9). O fato de Jó insistir no que diz ser «minha justiça» não significa que não se reconheça pecador, mas que a sua posição é justa enquanto a de seus amigos é falsa (27,6). Os versículos seguintes (27,7-21) soam curiosamente como fora de lugar na boca de Jó. Eles parecem ser mais o eco daquilo que os amigos reprovam nele. Alguns especialistas tentaram reconstruir a partir deles um terceiro discurso perdido de Zofar. Buscando, no entanto, um sentido para este texto, tal como ele está, bem que poderia ser este: segundo a lei do antigo Israel, aquele que se reconhecesse culpado de falso testemunho contra um inocente, lhe seria imposta a mesma punição recebida pela parte inocente. É isso que Jó deseja aos seus pretensos amigos (27,7), explicitando depois os castigos com os quais eles o ameaçaram (27,8-23).

POEMA SOBRE A SABEDORIA (28,1-28)

Este capítulo não se encaixa muito bem no livro. A maioria dos especialistas concorda que se trata de uma composição independente. Sua função no texto seria a de uma interrupção, ou melhor ainda, um comentário editorial do narrador. O tema é tomado do refrão que se encontra em 12,20: «Onde se acha a sabedoria?». Às vezes, o texto hebraico é difícil. Em 28,1-12, a sabedoria não pode ser extraída da terra e muito menos ser comprada. Os seres humanos usam a imaginação e destreza para escavar e retirar da terra minerais valiosos: ouro, prata, cobre, ferro, pedras preciosas. No entanto, nessa busca toda por coisas preciosas, onde se pode encontrar a sabedoria? Nem os pássaros com vista penetrante, nem os animais que vagueiam pela terra, jamais a viram.

NADA NEM NINGUÉM NA CRIAÇÃO CONHECE O CAMINHO PARA A SABEDORIA (28,13-23)

Todo o esforço humano é inútil, e nada na criação pode servir de ajuda. A sabedoria é mais preciosa do que o ouro e a prata (cf. Pr 3, 14s) e de tudo o que possa ser encontrado em uma amostra de jóias (15-19). A busca por sabedoria se revela como uma tarefa impossível, porém, é assim realmente? 28,24-28 32 Deus faz conhecer o caminho. Só Deus, na plenitude do seu conhecimento e poder criativo, conhece o caminho da sabedoria. A atividade criadora de Deus é descrita pela primeira vez (28,3; 9,11). A associação entre a criação de conhecimento e sabedoria tradição percorre todo o Antigo Testamento (cf. Prov 3,18-20;. 8,22-31). É através da criação que Deus provê e nos abre o caminho para a sabedoria. Da mesma forma que a sabedoria humana se manifesta no comportamento dos seres humanos e da sabedoria de Deus é revelada em Sua atividade divina.

SÓ DEUS CONHECE O CAMINHO (28,24-28)

Só Deus, na plenitude de seu conhecimento e poder criador, conhece o caminho para a sabedoria. A atividade criadora de Deus é descrita por primeiro (28,3; 9,11). A relação entre criação e sabedoria percorre toda a tradição sapiencial do Antigo Testamento (cf. Pr 3,18-20;. 8,22-31). É por meio da criação que Deus estabelece, abre e revela o caminho para a sabedoria. Da mesma forma que a sabedoria humana se manifesta através do comportamento humano, assim também a sabedoria de Deus se revela em sua divina atividade. Se antes foi dito que a busca da sabedoria pelos seres humanos era uma empresa inútil, agora se diz que há um caminho que nos leva a ela: o temor de Deus e afastamento do mal (e Jó possui essas virtudes, cf. 1,1-8) é o princípio da sabedoria. Em outras palavras, a busca pela sabedoria deve começar por estabelecer um bom relacionamento com Deus. O capítulo 28 volta-se para o debate precedente e sugere que a busca apontada alí era uma pretensão demasiado ambicosa. Em seguida, volta-se para as palavras do Senhor e para o final do livro onde se afirma que a sabedoria está em Deus, revelada sim, na criação, mas para além do alcance dos seres humanos.

MONÓLOGO DE JÓ: FIM DE SUA DEFESA (29,1–31,40)

Jó esgota todos os seus recursos. Sua tentativa de arbitrar em causa própria não encontra ouvidos. Já não pode citar a Deus, pois este se foi. Além disso, as testemunhas são falsas e se declaram contra ele diante do tribunal. Seu longo discurso se estende sobre os capítulos 29-31. Tem início a descrição de uma feliz relação que teve com Deus (29) e, com doloroso lamento, contrasta depois com a situação presente (30), e conclui suspirando por sua futura reivindicação com um vibrante juramento de inocência, corroborada pela longa série de seus comportamentos morais.

QUE TEMPO BOM, AQUELE! (34 29,1-25)

Jó começa por recordar a proximidade e as bênçãos de Deus que experimentou naqueles dias felizes em que era honrado por todos. Às portas da cidade, onde o povo se reunia para discutir negócios e tratar de questões sociais e legais, Jó era considerado um sábio, especialmente pelo respeito com que suas palavras eram acolhidas (21-23). No contexto de todo o livro, essas recordações estão repletas de amarga ironia. Seu comportamento honrável se manifestava na forma como tratava com justiça todos os demais, em especial os pobres, as viúvas, os órfãos, os cegos, os coxos, os necessitados, os estrangeiros, todos vítimas dos malvados (12-17). Por conseguinte, teria o direito de esperar as bênçãos correspondentes que lhe asseguravam uma feliz velhice.

AGORA AS MESAS VIRARAM (30,1-31)

Agora, em vez de honra, desonra e vergonha!, desprezado até mesmo pela escória da sociedade. O lamento de Jó se volta para Deus (20-26). Agora, na necessidade, quem está do seu lado (24-26)? Jó falou de seus inimigos e Deus, agora descreve sua própria situação (16.17,28-31). Sua vida se desvanece; até os ossos lhe doem; sente-se só e abandonado. Durante todo este tempo, suspeirou por um amigo que lhe fizesse companhia. E agora, seus únicos amigos tornaram-se chacais e avestruzes - animais do deserto conhecidas por sua «linguagem» ofensiva (29) .

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF