Translate

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Identificando a Igreja que é “coluna e fundamento da Verdade” (Parte 1/5): introdução e ponto nº 1

Identificando a Igreja que é “coluna e fundamento da Verdade”

INTRODUÇÃO
Tenho observado que quando alguém debate com os irmãos separados, os temas acabam sempre fluindo para a autoridade suprema das Escrituras: um princípio que não é bíblico pelo fato de que não existe qualquer versículo para apoiar esta posição. No entanto, quando alguém acena para eles com o texto de 1Timóteo 3,15, não querem aceitar de maneira nenhuma a autoridade da Igreja. Para eles, a Igreja não tem autoridade, não é infalível e nunca deve reger a vida do cristão, já que ela deve se deixar guiar pelas Escrituras. Porém, esta ideia estaria de acordo com as Escrituras?
Devido a tudo isso, decidi fazer um estudo bíblico sobre essa passagem da Escritura, para assentar de maneira sólida as bases pelas quais a Igreja é a Mestra do cristão e, por sua vez, infalível, já que através dela manifesta-se a Sabedoria de Deus.
1. PILAR OU COLUNA SEGUNDO AS ESCRITURAS
Se recorrermos ao grego, veremos que 1Timóteo 3,15 emprega duas palavras importantes:
  • “ἐὰν δὲ βραδύνω, ἵνα εἰδῇς πῶς δεῖ ἐν οἴκῳ θεοῦ ἀναστρέφεσθαι, ἥτις ἐστὶν ἐκκλησία θεοῦ ζῶντος, στῦλος καὶ ἑδραίωμα τῆς ἀληθείας”.
a) “στῦλος”, que se translitera como “stulos”. Segundo o Dicionário de Strong, é traduzida como “pilar, suporte ou coluna”, e nos diz ainda em que outro lugar essa palavra é usada:
  • “E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as COLUNAS, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão” (Gálatas 2,9).
Assim é que o Novo Testamento possui um outro lugar onde a mesma palavra é usada para demonstrar a importância que esses Apóstolos tinham na primeva comunidade cristã. Está claro, então, que o termo “coluna” ou “pilar” nem sempre é usado no sentido real de um cilindro de concreto, que suporta edifícios ou construções. É empregado também em sentido teológico para denotar certa autoridade, já que Tiago, Cefas e João eram os três Apóstolos mais queridos pelo Senhor, sendo considerados “colunas” da primeva comunidade cristã, isto é, exercendo autoridade sobre os demais.
b) A outra palavra é “ἑδραίωμα” que se translitera como “edraiōma” e que se traduz como “suporte ou fundamento”. É empregada também em outras passagens da Escritura, como por exemplo, em 1Coríntios 15,58 e Colossenses 1,23, denotando firmeza e fundação.
Considerando tudo isso, poderíamos afirmar que quando 1Timóteo 3,15 diz “coluna e fundamento da Verdade” está querendo dizer que é o meio que mantém firme a Verdade e a ensina com autoridade. No entanto, desejo aprofundar mais em relação a esta passagem, pois desejo chegar à esta conclusão final que São Paulo nos ensina aqui: a Igreja é infalível! Para isso, devemos estudar o que significa “coluna” ao longo das Escrituras.
Esta palavra “coluna” pode ser usada no sentido arquitetônico (suporte para uma construção), como se dá em Êxodo 24,2; 26,32.37; 27,11-12.14-15; Números 3,36-37 etc. Porém também encontramos na Escritura esta palavra com um sentido “teológico”:
  • “E o Senhor ia adiante deles, de dia numa COLUNA de nuvem para os guiar pelo caminho, e de noite numa COLUNA de fogo para os iluminar, para que caminhassem de dia e de noite” (Êxodo 13,21).
  • “Nunca tirou de diante do povo a COLUNA de nuvem, de dia, nem a COLUNA de fogo, de noite” (Êxodo 13,22).
  • “E o anjo de Deus, que ia diante do exército de Israel, se retirou, e ia atrás deles; também a COLUNA de nuvem se retirou de diante deles, e se pôs atrás deles” (Êxodo 14,19).
  • “E sucedia que, entrando Moisés na tenda, descia a coluna de nuvem, e punha-se à porta da tenda; e o Senhor falava com Moisés” (Êxodo 33,9).
  • “E, vendo todo o povo a COLUNA de nuvem que estava à porta da tenda, todo o povo se levantava e cada um, à porta da sua tenda, adorava” (Êxodo 33,10).
  • “Então o Senhor desceu na COLUNA de nuvem, e se pôs à porta da tenda; depois chamou a Arão e a Miriã e ambos saíram” (Números 12,5).
  • “E guiaste-os de dia por uma COLUNA de nuvem, e de noite por uma COLUNA de fogo, para lhes iluminar o caminho por onde haviam de ir” (Neemias 9,12).
  • “Todavia tu, pela multidão das tuas misericórdias, não os deixaste no deserto. A COLUNA de nuvem nunca se apartou deles de dia, para os guiar pelo caminho, nem a COLUNA de fogo de noite, para lhes iluminar; e isto pelo caminho por onde haviam de ir” (Neemias 9,19).
  • “Na COLUNA de nuvem lhes falava; eles guardaram os seus testemunhos, e os estatutos que lhes dera” (Salmo 99,7).
Em todos esses textos que citei, vemos que “coluna” é empregado no sentido de “guia, mantenedora e manifestação de Deus”. É que através de uma coluna de fogo, o Povo de Deus foi guiado através do deserto: às vezes, era uma nuvem durante o dia; outras vezes, era de fogo durante a noite, sempre com o objetivo de guiar o Povo de Deus através do deserto. Em outros textos, como no Salmo 99,7 e em Números 12,5, vemos que é através da coluna de nuvem que Deus fala com o seu povo; é a partir daí que se estabeleciam os estatutos e normas que o povo deveria observar.
Tudo isso nos ajuda a compreender o que quer dizer “coluna de fogo/coluna da Verdade” na Escritura: é o instrumento escolhido por Deus – no caso do Novo Testamento, é a Igreja que guia e mantém pelo deserto desta vida (cheia de problemas, dificuldades, pecados) o Povo da Nova Aliança, isto é, todos nós. Mediante essa coluna da Verdade, que é a Igreja do Deus vivo (cf. 1Timóteo 3,15), o povo não se perde no deserto e alcança a promessa; porém, é ainda mais por essa coluna da Verdade que Deus se manifesta ao povo e ensina os Seus estatutos e normas, dando-nos a conhecer sua infinita Sabedoria, tal como São Paulo ensinou em uma outra passagem da Escritura:
  • “Para que agora, pela Igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Efésios 3,10).
Tudo isso nos leva a um segundo ponto: se a Igreja é a coluna e o fundamento da Verdade, isto significa que a Igreja apoia a verdade, evitando seu colapso. Por outro lado, é evidente que se a Igreja pudesse errar, então não teria nenhum fundamento sólido: a Verdade desmoronaria tal como a casa edificada sobre a areia, sem fundação, da qual Jesus falou. E se a Igreja puder errar e ainda assim manter a verdade, isto significa que uma coluna de erro e uma coluna de mentira sustentam a Verdade. Ora, a Verdade não é um erro e, de fato, não pode ser erro por sua própria essência e definição.
Estudemos então o segundo o ponto…
Veritatis Splendor

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF