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sábado, 16 de maio de 2020

Pais da Igreja: Nicolas Cabasilas

Ecclesia

ANTOLOGIA

A vida de Jesus Cristo, livro 6
«Um paralítico trazido por quatro homens»
Invoquemos Cristo a toda a hora, Ele, o princípio de todos os nossos pensamentos. Para o invocar, não é preciso nenhuma preparação da oração, nem lugar especial, nem clamor. Com efeito, Ele não está ausente de nenhum lugar. É impossível que não esteja em nós, pois Ele está mais próximo daqueles que o buscam do que o seu próprio coração. Em consequência, devemos acreditar que Ele nos atenderá para lá das nossas preces, e não duvidarmos disso, apesar dos nossos defeitos. Tenhamos antes confiança, pois Ele é bom para os ingratos e para os pecadores que o invocam. Longe de menosprezar as preces dos ses servos rebeldes, desceu à terra e, em primeiro lugar, chamou aqueles que ainda O não tinham chamado, e nem sequer tinham nunca pensado nEle: «Eu vim, disse Ele, chamar os pecadores» (Mt 9,13). Se Ele procurou os que não O desejavam, o que não fará se o invocam? Se Ele amou os que O odiavam, como iria afastar aqueles que O amam? «Se, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho, com mais razão, depois desta reconciliação, seremos salvos pela sua vida.» (Rm 5,10)
«Batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo»
Sobre a vida em Cristo
Apesar de a Santíssima Trindade ter dado a Salvação ao gênero humano por um único e mesmo amor aos homens, a Fé diz-nos que cada uma das Pessoas Divinas dá a sua contribuição particular para a Salvação. O Pai reconciliou-se conosco, o Filho foi o instrumento da reconciliação e o Espírito Santo foi o dom concedido àqueles que se tornavam os amigos de Deus. O Pai libertou-nos, o Filho foi o resgate da nossa libertação; quanto ao Espírito, Ele é a liberdade em pessoa... (cf. 2Co 3,17). Se o Pai nos criou, o Filho re-criou-nos e é o Espírito que nos dá a vida(Jo 6,63). Na verdade, na criação inicial, a Trindade inscrevia-se em filigrana. O Pai era o modelador, o Filho era a Sua mão, o Espírito Defensor insuflava a vida. Mas... foi só na nova criação que nos foram reveladas as distinções que existem em Deus...
No plano da Salvação pelo qual foi restaurado o nosso gênero humano, foi a Trindade toda una que quis a minha salvação e que viu desde toda a eternidade como ela se realizaria. Mas não foi a Trindade toda una que a realizou.O seu autor é só o Verbo, só o Filho único... Foi por Ele que a natureza recebeu uma vida nova e que o Batismo foi instituído como um novo nascimento e uma nova criação. É por isso que, quando se batiza alguém, é preciso invocar Deus, distinguindo as três pessoas: o Pai, o Filho, o Espírito Santo, o qual apenas nos foi revelado por esta nova criação.
«O Esposo está com eles»
A Vida em Cristo, II, 75ss
Para nós há duas maneiras de conhecer os objectos: o conhecimento que se pode receber por nos ser contado, e aquele que se pode adquirir por nós próprios. Pelo primeiro, não alcançamos o objecto em si, apenas o percebemos através de palavras, como numa imagem […]; de modo diverso, fazer a experiência dos objectos é encontrá-los realmente em si próprios. Neste segundo tipo de conhecimento, a forma do objecto prende a alma e desperta o desejo como um sinal à medida da sua beleza […].
Da mesma forma, se o nosso amor pelo Salvador nada produz de novo nem de extraordinário, é evidente que o nosso empenhamento em amá-Lo deriva de apenas termos ouvido falar a seu respeito. Como poderíamos nós, apenas por ouvir falar d’Ele, conhecê-Lo como merece, Esse a quem nada se assemelha […], Esse a quem nada pode ser comparado e que não pode ser comparado a nada? Como poderíamos conhecer a sua beleza e amá-Lo à medida da sua beleza? Mas, sempre que os homens experimentam um intenso desejo de amar, um desejo de fazer por Ele coisas que ultrapassam a natureza humana, é porque foi o próprio Esposo a tê-los tocado e ferido. Ele abriu-lhes os olhos à beleza divina. A profundidade da ferida testemunha o quanto a seta de facto penetrou; e o ardor do desejo revela Quem os feriu.
Eis como a nova Aliança é diferente da Antiga; antigamente era a palavra o que educava os homens; hoje, é Cristo em pessoa quem, de uma maneira indizível, prepara e modela as almas dos homens. Se o ensinamento da Lei bastasse para os conduzir, então não teriam sido necessários os actos extraordinários de um Deus tornado homem, que foi crucificado e depois morto. Isto é verdade também para os apóstolos, nossos pais na fé. Eles tinham ouvido os ensinamentos do Salvador, as palavras da sua boca; tinham visto os seus milagres e assistido a todas as provações que suportou pelos homens, viram-No morrer, ressuscitar e em seguida elevar-Se nos céus. Tudo isto eles o sabiam, mas nada mostraram de novo, de generoso, de verdadeiramente espiritual, até se terem baptizado no Espírito Santo […]. Só então, somente, o verdadeiro desejo por Cristo neles se acendeu, e através deles, se acendeu em outros.
«Cristo, o médico, vem curar os doentes»
A Vida em Jesus Cristo, Livro 6
Cristo desceu à terra, e começou por chamar aqueles que ainda não tinham chamado por Ele, e que nunca tinham sequer pensado Nele: «Eu vim chamar os pecadores», diz. Se veio à procura daqueles que não O desejavam, o que fará àqueles que Lhe rezam? Se amou aqueles que O odiavam, como poderá afastar aqueles que O amam? Como dizia São Paulo: «Se, de facto, sendo nós inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte de Seu Filho, com muito mais razão, depois de reconciliados, seremos salvos pela Sua vida» (Rom 5, 10).
Consideremos, pois, em que consiste a nossa oração. É certo que não somos dignos de obter aquilo que convém aos amigos pedir e receber, mas antes aquilo que é dado a servos rebeldes, a devedores faltosos. Não invocamos o nosso Mestre para que Ele nos dê uma recompensa, ou um favor, mas para que Ele tenha misericórdia de nós. Pedir a Cristo, amigo dos homens, a misericórdia, o perdão ou a remissão dos pecados, e não partir de mãos vazias após esta oração – a quem convém tal coisa, senão a devedores, dado que «não são os que têm saúde que precisam de médico»? Em suma, se convém aos homens elevarem a voz para Deus, implorando a Sua piedade, só poderão fazê-lo os que têm necessidade de misericórdia, os pecadores.
Invoquemos, pois, a Deus, não somente com a boca, mas também com os desejos e os pensamentos, a fim de aplicarmos a tudo aquilo por meio do qual pecámos o único remédio que pode salvar-nos, porque «não há debaixo do céu qualquer outro nome dado aos homens que nos possa salvar» (Act 4, 12).
«Se alguém me ama..., meu Pai amá-lo-á,
e habitaremos nele»
A Vida em Cristo, IV, 6-8
A promessa vinculada à mesa eucarística faz-nos habitar em Cristo e Cristo em nós, porque está escrito: «Permanece em Mim e Eu nele» (Jo 6,56). Se Cristo habita em nós, de que necessitaremos? O que nos poderá faltar? Se permanecemos em Cristo, que mais poderemos desejar? Ele é ao mesmo tempo nosso hóspede e nossa morada. Nós somos felizes por sermos sua habitação! Que alegria em sermos nós próprios a morada de um tal hóspede! Que bem poderia faltar aos que ele trata deste modo? Que teriam eles de comum com o mal, os que resplandecem numa tal luz? Que mal poderia resistir a tanto bem? Mais ninguém pode morar em nós ou vir assaltar-nos quando Cristo se une a nós deste modo. Ele rodeia-nos e penetra o mais profundo de nós mesmos; ele é a nossa protecção, o nosso refúgio; ele encerra-nos de todos os lados. Ele é nossa morada, e é o hóspede que enche toda a sua casa.
Porque nós não recebemos uma parte dele mas ele próprio, não um raio de luz mas o sol..., a ponto de formar com ele um só espírito (1Cor 6,17) ... A nossa alma está unida à sua alma, o nosso corpo ao seu corpo e o nosso sangue ao seu sangue... Como disse S. Paulo: «O nosso ser mortal é absorvido pela vida» (2Cor 5,4) e «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gal 2,20).
«Exalta os humildes»
Homilia sobre a Dormição da Mãe de Deus
Era preciso que a Virgem fosse associada a seu Filho em tudo o que respeita à nossa salvação. Tal como ela o fez partilhar a sua carne e o seu sangue..., assim ela tomou parte em todos os seus sofrimentos e em todas as suas dores... Foi ela quem primeiro se tornou conforme à morte do Salvador por uma morte semelhante à dele (Rm 6,5). Foi por isso que, antes de qualquer outro, ela participou da ressurreição. Com efeito, depois de o Filho ter quebrado a tirania do inferno, ela teve a felicidade de o ver ressuscitado e de receber a sua saudação e de o acompanhar tanto quanto pôde até à sua partida para o céu. Depois da ascensão, ela tomou o lugar que o Salvador tinha deixado livre entre os apóstolos e os outros discípulos... Não convinha isso a uma mãe, mais do que a qualquer outra pessoa?
Mas era preciso que aquela alma santíssima se separasse daquele corpo sacratíssimo. Deixou-o e uniu-se à alma de seu Filho, ela que era uma luz criada uniu-se à luz que não teve princípio. E o seu corpo, depois de ter ficado algum tempo debaixo da terra, também ele foi levado ao céu. Era preciso, com efeito, que ele passasse por todos os caminhos que o Salvador tinha percorrido, que resplandecesse para os vivos e para os mortos, que santificasse a natureza em todos os aspectos e que, em seguida, recebesse o lugar que lhe convinha. Por isso, o túmulo o abrigou durante algum tempo; depois, o céu acolheu aquela terra nova, aquele corpo espiritual, mais digno do que os anjos, mais santo do que os arcanjos. E o trono foi entregue ao rei, o paraiso à árvore da vida, o mundo à luz, a árvore ao seu fruto, a Mãe ao Filho; ela era perfeitamente digna pois que ela o tinha gerado. 
O bem-aventurada! Quem encontrará as palavras capazes de exprimir os benefícios que recebeste do Senhor e os que prodigalizaste a toda a humanidade?... Só lá em cima podem resplandecer as tuas maravilhas, nesse "novo céu" e nessa "nova terra" (Ap 21,1), onde brilha o Sol da Justiça (Ma 3,20) que as trevam nem seguem nem precedem. O próprio Senhor proclama as tuas maravilhas, enquanto os anjos te aclamam.

NOTAS:
1 PG 150,368-492; Fontes chrétiennes, 4a, Paris, 1967; trad Salaville S. French, Paris-Lyon 1943, 2 ed Paris 1967; .. Trad romeno E. Braniste, Bucareste, 1943 .; trad. Inglês JM Mc Nulty, Londres 1960.
2 Editado por W. Gass, Greifswald 1848, 2ª ed 1899 e reimpresso em PG 150,493-725; tradução francesa de S. Broussaleux, Amay 1932 e Chevetogne 1960. Trad alemaria de G. Koch-E.
3A edição espanhola (3 ed. Rialp, Madrid 1957) é acompanhada por um amplo estudo preliminar dos PP. L. Gutiérrez Vega e B. García Rodríguez.
BIBLIOGRAFIA:
W. GASS, Die Mystik des Nikolaus Cabasilas vom Leben in Christo, Griefswald 1849 y 1899; T. FERNET, Cabasilas Nicolas, en DTC II, col. 1292-1295; S. SALAVILLE, Cabasilas Nicolas, en DSAM II, col. 1-9; E. TONIOLO, La mariologia di Nico- la Cabasila, Vicenza 1955; I. SEVCENKO, Nicolas Cabasilas "Anti-Zealot" Discourse: A Reinterpretation, «Dumbarton Oaks Papers», XI (1957) 79-171; M. LOT-BORDINE, Un ma!tre de spiritualité bizantine au XIVe siecle. Nicolas Cabasilas, París 1958; G. GHARIB, Nicolas Cabasilas et l'explication symbolique de la liturgie, "Le Proche-Orient chrétien" 10 (1960) 114-133; P. NELLAS, Prolegomata eis ten meleten Nikolaou tou Kabasila, Atenas 1968.
TOMAS SPIDLIK.
Cortesía de Editorial Rialp. Gran Enciclopedia Rialp, 1991

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF