O Papa Francisco diz que a Igreja deve estar “ao lado daqueles que sofrem”.
Hoje no mundo parece haver um único tema de conversa: o coronavírus. A mídia e a opinião pública ignoram conflitos e guerras, problemas internacionais e crises que continuam afetando certos países como Turquia, Síria e Grécia, para citar alguns poucos exemplos.
É verdade que o vírus que surgiu na China causa grande preocupação entre as populações, às vezes até pânico. Há muitas pessoas que sofrem.
Mas e aqueles que, nas periferias do mundo, sofrem calamidade, abandono, fome, desamparo, desumanidade? O sofrimento vai além do coronavírus hoje no mundo.
Por essa razão, o Papa Francisco, no dia 11 de março, lançou um grito em favor de quem padece de outros sofrimentos:
Não gostaria que esta dor (o coronavírus), esta epidemia tão forte nos faça esquecer os pobres sírios que estão sofrendo na fronteira da Grécia e da Turquia: um povo há anos sofredor. Devem fugir da guerra, da fome, das doenças. Não esqueçamos os irmãos, irmãs e tantas crianças que estão sofrendo ali.
O Papa recebe diariamente informações sobre o drama existente na fronteira entre a Turquia e a Grécia: os turcos, a despeito da Europa (que não apoia sua atuação na Síria), abriram as fronteiras para os refugiados partirem rumo à União Europeia, passando pela Grécia, fronteira com a Turquia.
A Grécia tem recusado com veemência os refugiados.
A Igreja, diz o Papa, “deve estar ao lado daqueles que sofrem”.
A situação dos migrantes e exilados sírios na Turquia é gravíssima: eles vivem quase na miséria, sem escolas, alojados em campos de refugiados, sem trabalho e, quando o têm, são empregos servis.
E agora que a Turquia abriu a fronteira para eles passarem, eles não podem regressar ao cenário de guerra em seu país, a Síria. Eles buscam atravessar a fronteira com a Grécia, mesmo correndo risco de morte. Um forte drama humano.
Parece uma multidão abandonada por todos, sem país, sem futuro, sem comida: ninguém os quer. E o direito humano de asilo? A Europa olha para o lado e só permite a passagem de algumas crianças e jovens, quando há dezenas de milhares de pessoas na fronteira.
Por que esse conflito ocorre?
A União Europeia, com sede em Bruxelas, chegou a um acordo com a Turquia para fazer com que este país atue como barreira para refugiados que se dirigem à Europa. Em troca, a Europa paga 6 bilhões de euros (cerca de US$ 6,3 bilhões) ao governo turco de Recep Tayyip Erdogan. Foi um acordo bastante embaraçoso.
A guerra civil na Síria começou em 2011, entre o governo de Damasco, presidido por Bashar al-Asad, e seus oponentes que queriam derrubá-lo, na chamada “Primavera Árabe”.
Desde então milhões de sírios fugiram das bombas, das perseguições, da guerra que varre tudo. E eles fugiram principalmente para Turquia, Líbano, Jordânia e, acima de tudo, Europa.
Os Estados Unidos apoiaram a oposição contra Bashar al Asad, que foi diretamente apoiado pelo Irã e pela Rússia. Contra o governo sírio estava também uma parte dos curdos, um povo indo-iraniano que vivia entre a Turquia, o Iraque, o Irã e a Síria.
Os curdos, aliados dos Estados Unidos, realizaram boa parte da luta contra os terroristas do Estado Islâmico que se fortaleceram em algumas regiões da Síria, como a bela Aleppo. Mas o regime de Erdogan considera os curdos terroristas contra seu país.
Quando os Estados Unidos deixaram a área, em 2019, os curdos ficaram sozinhos em uma luta não apenas contra o governo sírio de Damasco, mas também em sua luta contra a Turquia e o Estado Islâmico. Erdogan decidiu penetrar 30 quilômetros no território sírio para controlar o terrorismo.
Esta situação não agradou nem a Rússia nem o Irã, que faz fronteira com a Turquia, aliados de Damasco. Então a guerra na Síria reacendeu: bombardeios, destruição e refugiados em direção à Turquia. A ação turca passou a ser aceita pelos Estados Unidos, desde que a guerra causasse poucas mortes. Não foi assim. Era o ano de 2019.
Erdogan continuava irritado com a União Europeia porque ela não o apoiou nem na guerra na Síria nem em suas aspirações de se tornar parte da UE. Ele cobra o estabelecimento de uma unidade aduaneira com a Europa. Ele ameaçou – e cumpriu – abrir as fronteiras para os refugiados sírios seguirem para a Europa, através da fronteira com a Grécia, uma eterna adversária da Turquia, apesar de serem ambos membros da OTAN.
Erdogan não agiu assim com a Bulgária – outro país membro da UE que também tem fronteira com a Turquia -, pois fez um acordo estratégico com o presidente búlgaro, em março deste ano no palácio presidencial de Ancara, capital da Turquia.
Um acordo da semana passada entre a Rússia e a Turquia, entre Vladimir Putin e Erdogan, terminou com um cessar-fogo na cidade de Idlib. Mas até quando vai durar?
O fato é que o mundo – mesmo atravessando a emergência sanitária do coronavírus – não pode esquecer o drama dos refugiados sírios.
Aleteia Brasil
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