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terça-feira, 7 de julho de 2020

Manso e humilde de coração

Bispos – Diocese Oliveira
Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro
Bispo de Oliveira (MG)
“Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso pois o meu jugo é suave e o meu fardo leve” (Mt 11,29).
Estamos tão acostumados a ouvir determinados trechos do Evangelho que as palavras de Jesus podem não mais nos interpelar o necessário com toda a sua força. Mas, o que faz leve o fardo é o amor com que o abraçamos. E que outro jugo é o do Senhor que o amor sem medida? Tanto mais suave, quanto mais amamos, esvaziados de nosso egoísmo e presunção.
Só podem acolher a Jesus os que não estão cheios de si, pois o Senhor rejeita os soberbos. A fé, por isso, é dom do Espírito Santo que devemos pedir.  Mas, viver segundo o Espírito exige de nós a mansidão de coração, que não é passividade, mas renúncia às ambições de poder, à opção pela violência da vingança ou mesmo às armas, para tentar conter a violência do mundo. Violência gera violência.  O senhor nos desafia à humildade e mansidão, que se traduz em solidariedade para com os irmãos.
O profeta Zacarias já havia anunciado que o Messias viria na humildade, não em cavalos de guerra, mas na cavalgadura dos pobres, sobre “manso jumento, potro novo, cria de jumenta” (Zc 9,9e), num animal novo e, por este motivo, destreinado para qualquer luta. Esta é a escolha do Pai. E, deste modo, Jesus foi aclamado rei em sua entrada em Jerusalém antes de sofrer a Paixão (cf. Mt 21, 1-10; Mc11,1-11; Lc 19,28-40; Jo 12,12-19).
Aprenderemos a ser humildes e mansos se contemplarmos a Paixão do Salvador. Por ela, Ele nos ensina a viver cada uma das bem-aventuranças e a crescer na identificação com Ele.
Ser manso é lavar os pés uns dos outros, mesmo daquele que nos atraiçoam: “Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros” (Jo 13,14), porque “não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” (Mt 6,3).
É assumir tanto a fraqueza humana, como a força que vem da verdade pessoal. “Meu Pai, se possível, afasta de mim este cálice, todavia não seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mt 26,39). Verdade manifestada na coragem diante dos soldados que o procuravam no Horto e a quem perguntou: – “A quem procurais?” Diante de sua resposta: – “A Jesus de Nazaré”, corajosamente Jesus que lhes disse: – ”Sou Eu”. Eles caíram por terra, pois o seu nome é o próprio Nome de Deus, Emanuel. Verdade que não foi capaz de reconhecer Pilatos, ao vê-Lo chagado diante de si após a flagelação. E a verdade era um inocente condenado injustamente: – “Não encontrei nele culpa alguma!” (Lc 6,22).
Mansidão é suportar insultos e ingratidões sem abrir a boca: “Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha que é muda perante os seus tosquiadores. (Is 53,7; cf. 19,1-16).
Mansidão é a rejeição de toda a violência. Quando interrogado por Pilatos se era rei, respondeu-lhe: “O meu Reino não é deste mundo (Jo 18,36), acrescentando que se o fosse, os seus soldados o teriam defendido, como acontece ainda hoje. No horto mandou ainda que Pedro guardasse a sua espada na bainha (cf. Jo 18,1), pois “todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão” (Mt 26,52).
Na cruz, Jesus ensina-nos a suprema mansidão ao perdoar os inimigos e desculpar a ignorância dos outros: “Pai, perdoai-os porque eles não sabem o que fazem.” (Lc 23,34). Cumpre assim o seu preceito de amarmos os nossos inimigos e rezar pelos que nos odeiam e nos perseguem (cf. Mt 5,44).
Ser manso é ser esperança para os desesperados e consolar os tristes e sofredores como ao Bom Ladrão na cruz: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43).
É preocupar-se com a dor e o desamparo do outro. Ao ver Maria, sua mãe, entregou-a aos cuidados de João e toda a Igreja, nele representada, aos cuidados da mãe: “Mulher, eis aí o seu filho… Então disse ao discípulo: Eis aí tua mãe…” (Jo 19,26-27).
É rezar com confiança na bondade de Deus, mesmo quando tudo parece escuro e sem saída: “Elí, Elí, lama sabactani? (Deus, meu Deus, por que me abandonaste?)” (Mt 27,46 e Mc 15,34). Jesus rezava o Salmo 21, de confiança em Deus na experiência da dor e do abandono.
É comprometer-se até o fim com a justiça e a paz. “Tenho sede” (Jo. 19,28). Revelava assim não só sua humanidade, que conheceu todas as nossas dores (cf. Hb 4,14-15), mas, como dizem os Santos Padres, demonstrava a sede que tem o Senhor de que todos os homens se salvem. “Esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não deixe perecer nenhum daqueles que me deu, mas que os ressuscite no último dia” (Jo 6,39).
É guardar com fidelidade os compromissos assumidos até o fim: “Tudo está consumado” (João 19,30). “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).
É acolher, vencendo as resistências pessoais, a vontade de Deus: “Não seja feito como eu quero, mas como Tu queres” (Mt 26,39), e entregar-se confiante nas mãos do Pai: “Pai, em tuas mãos entrego meu Espírito” (Lc 23,46).
Somente a graça do Espirito Santo que nos foi dado permitirá que vivamos tudo isto, como em todos os tempos as testemunhas da Fé. Mas a vida é combate. Por isso, exorta o Apóstolo São Paulo: “Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio. Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares. Tomai, portanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias maus e manter-vos inabaláveis no cumprimento do vosso dever. Ficai alerta, à cintura cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz. 16.Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a Palavra de Deus. Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos os cristãos” (Ef 6,11-18).
Rezemos, pois, cada dia, muitas vezes ao dia: “Jesus manso e humilde de coração, fazei nosso coração semelhante ao vosso!”.
Que a Virgem Maria e São José, fiéis discípulos do Senhor, nos ensinem e sustentem cada dia nesse caminho.
CNBB

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF