Úrsula Giuliani nasceu em Mercatello, perto de Urbino, nos antigos Estados Pontifícios, hoje Itália, no ano de 1660. Foi a sétima filha de um casal profundamente católico. Desde muito pequena, já lhe aconteciam fenômenos extraordinários. Suas primeiras palavras, com um ano e meio de vida, foram dirigidas com autoridade divina a um comerciante que observou, quando acompanhava alguém da casa à mercearia, e que roubava no peso dos produtos: “Não trapaceie na venda, pois Deus vê tudo”.
Com três anos, convidava o Menino Jesus esculpido numa imagem a partilhar do seu almoço, e Ele descia do colo da Virgem para comer com ela. Também com três anos começou a desejar o martírio, ao ouvir a mãe e as irmãs falarem dos santos; querendo fazer como Santa Rosa de Lima, que se flagelava em segredo, fez pequenos nós em seu avental com a intenção de imitá-la, mas sua mãe descobriu e a impediu.
Caridosa com os pobres, a menina Úrsula lhes dava, quando nada mais tinha para oferecer, algo do seu vestuário. Viu um par de sapatos que doara para uma pequena pedinte, mais tarde, nos pés de Nossa Senhora.
Quando seus familiares voltavam da Missa, sentia um odor divino naqueles que haviam comungado, e pensava que isto era normal e partilhado por todos. Quando passou a ir à Missa, via o Menino Jesus na Hóstia Consagrada. E quando recebeu a Primeira Eucaristia aos dez anos, sentiu um fogo abrasante no coração. Pensando que isto era o normal para todos, perguntou ingenuamente à família quanto tempo durava aquele fogo depois da Comunhão.
Contudo havia também algumas sérias distorções no comportamento da menina Úrsula. Assim, quando as irmãs não queriam ajudá-la a fazer seus pequenos altares para Nossa Senhora, chegava a empurrá-las da escada. Certa vez, julgando que as visitas ricas que viriam comer os bolos preparados para elas não precisavam desses alimentos, amassou-os para que não fossem servidos, mas sim doados aos pobres.
Também, com já 16 anos, por causa de um zelo excessivo, ela erroneamente repreendia e mesmo maltratava os que visse cometendo alguma falta, chegando a dar uma bofetada numa criada que agia mal. Tornava-se ditatorial quando outras pessoas não a queriam acompanhar nas práticas religiosas.
O pai deseja para ela um vantajoso casamento, e tudo fez para que ela desistisse da vontade de ser religiosa que manifestou quando adolescente. Levava-a assim para recreações e distrações mundanas, que de fato lhe diminuíam o fervor. Porém, esta contradição fez com que ficasse doente, e o pai acabou permitindo que seguisse sua vocação.
Aos 17 anos, entrou para o convento das monjas Capuchinhas de Città di Castello, adotando o nome de Verônica. Logo começaram as provações: apesar da sua paz e convicção de alma, o corpo parecia oprimido dentro do mosteiro. O demônio aparecia em sua cela com a aparência da mestra de noviças, dizendo-lhe que não se confessasse com seu diretor espiritual, pois havia boatos de que eram amantes e portanto isto seria um escândalo para a Congregação; posteriormente, Verônica descobriu que não era a mestra das noviças que a visitava.
Trabalhou no convento sucessivamente faxineira, porteira, camareira, cozinheira, encarregada da despensa, enfermeira, sacristã, mestra das noviças (durante 22 anos) e, finalmente, abadessa, sempre dando o exemplo de amor a Cristo e à Sua Paixão e a Nossa Senhora, com espírito sobrenatural. Conquistou deste modo as outras religiosas e fez do mosteiro uma escola de perfeição.
A união de Verônica coma Paixão de Jesus aumentou continuamente desde a sua entrada no mosteiro, incluindo muitas manifestações místicas. Primeiramente sentiu-se chamada por Ele a também carregar Sua Cruz. Com 21 anos, pediu ao Senhor para participar das dores da Sua coroa de espinhos, e foi atendida: a partir de então, passou a sentir uma dor imensa na cabeça, aumentada pelos médicos que, tentando aliviá-la, usaram um bastão de fogo no local e furaram-lhe a pele do pescoço com uma agulha incandescente; por fim, reconheceram que não podiam curar aquela “enfermidade”. Esta dor permaneceu com Verônica até a sua morte.
Outra manifestação mística foi a sua percepção da união dos Sagrados Corações de Jesus e Maria num só, aos Quais se unia também o seu.
Começou a escrever um diário, por ordem do seu confessor e diretor espiritual, relatando suas experiências místicas ao longo do tempo. A partir de 14 de agosto de 1720, Nossa Senhora lhe apareceu e começou a ditar coisas que não se lembrava da sua infância; estas passagens estão escritas na segunda pessoa do singular e nelas aparecem por extenso inclusive as orientações de pontuação feitas pela Virgem.
Nos 44 volumes e 22 mil páginas do diário Santa Verônica expõe o desejo de Jesus de que participemos da Salvação que nos obteve na Cruz por meio dos nossos sofrimentos. Narrou igualmente os sofrimentos que ela mesma padeceu, não por causas médicas, mas como fenômenos sobrenaturais e extraordinários que a permitiam unir-se a Cristo. (Mas também fazia mortificações voluntárias pela conversão dos pecadores). Por causa da importância deste testemunho, o diabo procurava atormentá-la, de modo a que ela não escrevesse.
A partir de cinco de abril de 1697, uma Sexta-Feira Santa, após intensa contrição e purgação, viu Jesus Crucificado com Nossa Senhora aos pés da Cruz. A virgem pediu a Cristo que concedesse a Verônica os Seus estigmas, e então cinco raios de luz saíram da Cruz e a atingiram, marcando-a de forma invisível e visível nas mãos, pés e coração.
Por humildade, Verônica pediu ao Senhor que ninguém soubesse do ocorrido, mas as irmãs viram as chagas. Seu confessor foi consultar o bispo e este o Santo Ofício, que determinou uma prova de obediência, humildade e resignação a Verônica. Inicialmente houve investigações, interrogatórios e a tentativa, inútil, da cura das feridas por médicos. Então, ela foi destituída do cargo que então ocupava, mestra das noviças, e ficou isolada numa cela, proibida de escrever cartas a não ser para as irmãs religiosas, de ir ao locutório, de ir ao coro para rezar exceto nos dias de preceito para ouvir a Missa, e o pior, de receber a Comunhão. Além disso uma irmã conversa foi nomeada para dirigi-la, tratando-a com severidade.
A tudo isso Verônica reagiu com humildade, tranquilidade e paz inalterável, sem qualquer sinal de tristeza, tornando-se admirada pelas outras irmãs, até que o Santo Ofício reconheceu a veracidade dos estigmas. Ela reassumiu o cargo de mestra das noviças, no final do ano.
Eleita abadessa em 1716, demonstrou que, além de mística, possuía um agudo senso prático (como outra grande mística, Santa Teresa de Ávila), desenvolvendo um trabalho extraordinário. Instalou água encanada no mosteiro e expandiu os prédios, construindo um grande dormitório e uma capela interior. Procurou proporcionar à comunidade todas as comodidades compatíveis com a sua Regra. O bispo local aconselhava-se com ela sobre a direção da sua diocese, e reconhecia que ela seria capaz de governar um império.
Em 1727, após 11 anos como abadessa, Verônica adoeceu, e seus últimos 33 dias de vida foram marcados por intenso sofrimento no leito, até seu falecimento em 9 de julho. Os estigmas nas mãos e pés ainda estavam presentes, e ela havia desenhado num cartão em forma de coração os símbolos da Paixão que Cristo colocara no seu próprio coração. Na autópsia, diante do bispo, do governador local, de professores de Medicina e outras sete testemunhas dignas, foi constatado que tais marcas apareciam exatamente como ela havia descrito – é o fenômeno da transverberação do coração, isto é, a experiência de ter transpassado o coração com feridas físicas, de origem mística.
À Santa Verônica foi revelado que suas orações e penitências haviam convertido inúmeros pecadores e libertado muitas almas do Purgatório, que aliás lhe apareciam para agradecer tal caridade.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
Santa Verônica, inspiradora da santidade de São Pio de Pietrelcina, foi escolhida por Deus para vivenciar manifestações sobrenaturais, desde muito pequena. Tais situações pertencem somente à misteriosa sabedoria divina, e por isso não devemos ficar buscando fenômenos extraordinários para a nossa vida – o que seria evidência de um coração ordinário – mas sim viver um amor extraordinário a Ele e ao próximo, pois é esse o caminho ordinário da santidade. E mesmo na busca da perfeição, muitas vezes, como ela, agimos erradamente por excessos. Daí a necessidade de nos aproximarmos da vontade de Deus mais do que da nossa própria, cuja apenas nos empurrará abaixo pela escadaria do pecado. Por exemplo, há os que, por egoístico interesse pessoal, querem afastar de Deus os demais, de modo mais grave os que estão sob seus cuidados, proporcionando a eles intencionalmente acesso ao que é mundano. Ora, Deus há de nos lembrar o que escrevemos no livro da nossa vida; se não deixarmos que Nossa Senhora dos diga o que nele anotar, teremos apenas pontuado os sofrimentos que iremos merecer. Portanto, devemos ler e viver o que ela registrou no seu diário, o desejo de Cristo de que nos unamos à Sua Paixão, aceitando os sofrimentos pela conversão dos pecadores, de modo a que unamos também à Salvação. Isto não implica, para a maioria de nós, em grandes dores místicas ou terrenas do corpo ou da alma, mas nas dificuldades normais e comuns da existência, tanto as que não escolhemos como aquelas que derivam do nosso serviço a Deus e ao próximo, e que escolhemos livremente fazer. A escala desses serviços, paradoxalmente, é inversamente proporcional na régua de humildade de os dimensiona: assim, como Verônica, de porteira a abadessa foi cada vez mais serva das irmãs, por causa da responsabilidade dos cargos sucessivamente assumidos, Cristo, na Sua dignidade divina, rebaixou-Se à nossa humanidade decaída, lavando com Seu sangue na Cruz os nossos pecados – por isso pede que nos unamos a Ele no Madeiro, único lugar onde seremos encharcados de purificação. Esta verdade espiritual se manifesta no concreto, por isso Santa Verônica, sendo mística, nos dá o exemplo dos serviços práticos que fez no seu mosteiro, para o melhoramento da vida da comunidade. De fato, Jesus e Maria não podem ser apenas imagens em nossas vidas, mas, como na dela, uma convivência concreta, ainda que invisível. Nós o faremos canalizando as águas do nosso Batismo na direção do conforto das almas, incluindo as do Purgatório.
Oração:
Deus de amor eterno, cujo mistério de bondade é um abismo insondável, concedei-nos pela intercessão de Santa Verônica Giuliani a graça de fazer nosso coração arder incessantemente por Vós, para ter nele não as feridas do pecado, mas a marca do de Jesus, de modo a não vivermos sob o estigma da condenação, mas ao contrário podermos partilhar com Ele da ceia eterna. Pelo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
Fonte: https://www.a12.com/
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