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domingo, 30 de agosto de 2020

ABRAÇAR A CRUZ

No alto da Cruz, Jesus nos mostra Maria como nossa Mãe
Canção Nova

Logo no início de Sua vida pública, o Cristo afirmou aos Seus discípulos: “Se alguém quiser Me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e Me siga!”. (Mt 16,24).
Com esses ensinamentos, o nosso Redentor nos ensina que, para permanecermos na escola do Evangelho, nós precisamos abraçar a Cruz, que aos olhos do mundo parece uma derrota, um fracasso, uma perda de vida, sabendo que não a carregamos sozinhos, mas unidos a Jesus, partilhando o Seu caminho de entrega, de doação e de sacrifício.
Para nós, católicos, membros do Corpo Místico de Cristo, a Cruz que preside o Altar é a pedra fundamental da caminhada do Povo de Deus, é o sinal da nossa redenção, baluarte da esperança, símbolo da morte e da vida, da dor e da alegria; é o trono de Jesus, a partir do qual Ele reina atraindo a Si todas as coisas.
Percorrendo a história da Igreja, nós percebemos que a linguagem da Cruz nem sempre foi entendida pelos homens. Desde os primeiros séculos da era cristã, e ainda hoje, para muitas pessoas, a linguagem da Cruz é um escândalo, uma loucura, pois se limita à visão do sacrifício, da dor e da morte. Por outro lado, para todos nós, fiéis cristãos, a Cruz é parte integrante da mensagem salvífica de Cristo, é a máxima expressão do amor ilimitado de Deus e da entrega de nosso Redentor em prol de nossa salvação. Portanto, quando abraçamos a Cruz e aceitamos o seu verdadeiro sentido, nós percebemos que ela manifesta plenamente quem é Deus, ou seja, o Amor que precisa ser amado.
Quando encontramos a Cruz no caminho de nossas vidas, sentimos nossas debilidades e fraquezas. Mas é precisamente na Cruz que a nossa debilidade revela o poder de Cristo, ou seja, a generosidade do amor e a possibilidade de participarmos, de alguma forma, da obra redentora de Jesus e, por isso, nós seguimos e “proclamamos Cristo crucificado, poder de Deus e sabedoria de Deus”. (1 Cor 1, 23-24). Pelo dom da sabedoria, tocamos a Cruz e assim fecundamos os caminhos do nosso coração com a fé que nos redime. Deste modo, “ninguém pode tocar a Cruz de Jesus sem deixar algo de si mesmo nela e sem trazer algo da Cruz para sua própria vida”. (Discurso do Papa Francisco, na Via Sacra com os jovens, na Praia de Copacabana, em 26 de julho de 2013).
As marcas da Cruz de Cristo em nossa existência nos ajudam a vislumbrar o seu autêntico significado: Cristo morreu por nós e, por isso, nós somos convocados a empregar nossos dons e talentos, alegrias e tristezas, sucessos e dificuldades no serviço missionário da Igreja, para que possamos ser discípulos e missionários de Jesus que comunicam o amor gratuito e misericordioso de Deus.
Quando percorremos o caminho da santidade, quer queiramos ou não, podemos sofrer a tentação de julgar que o Cristianismo é um caminho fácil e cômodo onde só existem alegrias. No entanto, pertence à revelação de Jesus Cristo o anúncio de que as dificuldades, as perseguições, as noites escuras e as cruzes fazem parte da senda da fé, pois “misteriosamente, o próprio Cristo, para desenraizar do coração do homem o pecado de presunção e manifestar ao Pai uma obediência total e filial, aceitou morrer na Cruz”. (Papa Paulo VI, Gaudete in Domino).
Do alto do madeiro da Cruz, Cristo nos desafia a abraçar e a santificar as dificuldades cotidianas com a plena consciência de que, por meio da Cruz, reconhecemos e incentivamos a graça que mora em nós, a fim de superarmos o medo.
Abraçar a Cruz significa, desde os primeiros séculos e até o fim do mundo, encontrar a coragem necessária de enfrentarmos as pandemias, as chacotas e as contrariedades, abandonando a ânsia de ser bem visto ou compreendido. Significa também abrir caminhos e possibilidades onde todos só enxergam o fim da jornada, pois a cruz não é o fim, mas sim, o triunfo da vida.
Unidos ao Cristo, obtemos a revelação de que a Cruz não é uma loucura, um erro ou um insulto ao bom senso. A Cruz é, sim, uma das principais letras do alfabeto de Deus. Por conseguinte, a Cruz é parte integrante das nossas vidas, é um mistério que nos toca. Querer excluí-la da nossa existência é como desejar ignorar a nossa realidade de seres humanos. Sim, nós somos criados para a vida; no entanto, não podemos eliminar da nossa história pessoal o sofrimento, as dores, as limitações, as fraquezas e as dificuldades.
Pelos relatos do Evangelho, nós temos conhecimento de que, após o primeiro anúncio da Paixão, Simão Pedro tentou afastar a Cruz da missão de Jesus e, por isso, ele foi censurado com veemência. Quando imitamos a atitude de Pedro e tentamos afastar de nossas vidas a mensagem da Cruz, nós também somos censurados por Cristo. Após a censura, Ele nos faz sentir que somente na aceitação da Cruz estamos capacitados para percorrer o caminho da nossa fé com garbo e elegância. Em Cristo, professando os sinais da nossa esperança, podemos questionar os nossos coetâneos: “Que seria de um Evangelho, de um Cristianismo sem Cruz, sem dor, sem o sacrifício da dor? Seria um Evangelho, um Cristianismo sem Redenção, sem salvação, da qual – devemos reconhecê-lo com plena sinceridade – temos necessidade absoluta. O Senhor salvou-nos por meio da Cruz; com a Sua morte, devolveu-nos a esperança, o direito à vida”. (Papa Paulo VI, Alocução, em 24 de março de 1967).
A cruz é a Fonte de salvação e, por isso, hoje, amanhã e sempre, Jesus Cristo continua a associar a Si e à Sua missão seres humanos dispostos a abraçar a Cruz e a segui-Lo com renovada esperança. Portanto, para os fiéis cristãos levar a Cruz não é algo facultativo, mas é uma missão que se deve realizar por amor.
Nesses nossos dias, onde enfrentamos distanciamento social e somos cercados por sinais de morte e de medo, onde a busca para a cura da enfermidade que assola o mundo parece ser o grande ideal humano, nosso Senhor Jesus Cristo nos questiona: “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida?”. (Mt 16, 26).
Na caminhada da vida, diante dos desafios dos nossos tempos, nós temos que olhar para a Cruz de Jesus, a fim de refletirmos sobre o seu alcance e, assim, podermos bradar: “A Cruz vitoriosa iluminou quem estava cego pela ignorância, libertou quem estava preso pelo pecado, trouxe à humanidade a redenção”. (São Cirilo de Jerusalém).
Quando abraçamos a Cruz, vislumbramos ao nosso lado a Virgem Santa Maria, que nos acompanha em todas as dificuldades, para nos encorajar com o Seu olhar maternal e nos ajudar a construir a civilização do amor. Ela nos ampara, fortalece-nos e nos faz ver que Cristo nos fala com a linguagem da Cruz, revelando-nos as inúmeras possibilidades de aprendizado da santidade.
Juntos da Virgem Mãe, aprendemos que, quando abraçamos a Cruz,
proclamamos o Evangelho da Salvação e incrementamos a certeza de que a Cruz de Cristo é a única esperança que nos guia, com determinação, para a alegria e a paz da ressurreição e da vida eterna. Supliquemos a intercessão da Virgem Santa Maria, a primeira que seguiu o Cristo pelo itinerário da Cruz até ao fim, para que Ela nos ajude a seguir o Senhor, com decisão e sabedoria, a fim de que possamos vivenciar desde já, mesmo nas provações, a glória da ressurreição.

Aloísio Parreiras
(Escritor e membro do Movimento de Emaús)

Arquidiocese de Brasília

 

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF