Diocese de São Carlos |
No
itinerário da fé, nós somos desafiados a abandonar tudo aquilo que atrapalha a
nossa caminhada na santidade e a repudiar todas as coisas que estorvam a plena
união com o Cristo que está vivo e ressuscitado na Sua Igreja e que é fonte de
esperança para todos nós.
Caminhando com o Cristo, escutando os Seus ensinamentos e aquecendo os nossos
corações com a Sua presença, nós aprendemos que quem quer percorrer o caminho para
o céu precisa renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz e segui-Lo com fortaleza e
humildade. Aprendemos também que a renúncia de si e o tomar a cruz estão intimamente
ligados, e, por isso, a nossa salvação depende da aceitação e da vivência dessas
duas ações.
Desde os primeiros passos na senda da conversão, Cristo nos convida a ponderar as
exigências da vida cristã, evidenciando que precisamos realizar sacrifícios e renúncias,
para que possamos crescer na correspondência ao Seu amor. Ele nos diz: “Se alguém
quer Me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e Me siga. Pois quem quiser
salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de Mim vai encontrá-la”.
(Mt 16, 24-25).
Escutar as exigências que o Cristo apresenta a todo aquele que se predispõe ao Seu
seguimento é uma das etapas da conversão, mas não basta apenas escutar os desafios
que Ele nos demonstra, pois nós temos que manifestar as boas disposições para que
possamos acompanhá-Lo sem reservas e sem medo.
A primeira atitude que devemos manifestar diante das propostas de nosso Redentor
é manifestar o bom uso da liberdade dizendo sim a Ele, expressando a certeza de
que “é para a liberdade que Cristo nos libertou”. (Gl 5,1). Agindo assim, demonstramos
que a liberdade é uma característica fundamental da pessoa humana, pois é pelo
exercício da liberdade que trilhamos o caminho do bem, da verdade e da felicidade.
Quando somos conduzidos pela força da liberdade, nós renunciamos ao luxo, ao comodismo
e ao prazer e abraçamos o serviço da reconciliação, do perdão e da metanoia com
o propósito de passar pelo mundo fazendo o bem, testemunhando a certeza de que
“somente o Cristo Redentor revela plenamente o homem ao próprio homem”. (Papa
João Paulo II, Carta Encíclica Redemptor Hominis, nº 10).
Abraçar a cruz não é fácil, mas viver sem a presença de Deus em nossas vidas é muito
mais difícil. A cruz é o símbolo da vitória de Cristo, a expressão da
misericórdia e da revelação do poder de Deus. Quando contemplamos o Cristo na
cruz, vislumbramos a certeza de que não podemos viver sem o Seu amor salvífico,
não podemos permitir que a nossa vida seja destituída de seu real sentido, ou
seja, não podemos viver sem usufruir o dom especialíssimo da liberdade que nos
faz responsáveis pelos nossos atos e pela construção do nosso destino eterno.
A vivência da
liberdade é um processo que é realizado por etapas: “Gradação, resignar-se com
a vontade de Deus; conformar-se com a vontade de Deus; querer a vontade de
Deus; amar a vontade de Deus”. (São Josemaria Escrivá, Caminho nº 774).
Em outras palavras: obedecendo a Deus, libertamo-nos do egoísmo, do pecado, dos
vícios e do mal. Dessa maneira, abraçamos a cruz, e o que é pesado se torna
leve.
Agindo assim, estamos capacitados para questionar os nossos coetâneos: Quem realmente
é mais livre? Quem se reserva de todas as possibilidades por medo de perdê-las,
ou quem se consome resolutamente no serviço e assim se encontra cheio de vida pelo
amor que concedeu e recebeu?
A segunda atitude que devemos manifestar diante das propostas de nosso Redentor
é abraçar com entusiasmo o caminho espiritual que Ele nos indica, expressando
sempre a alegria do Evangelho que é visível nos rostos dos seres humanos que
encontram, seguem, conhecem e amam a Cristo no cotidiano da História; afinal, a
amizade com o Senhor Jesus assegura às nossas almas o dom da serenidade e a paz
profunda também nos momentos obscuros e nas provações da vida.
Algumas outras atitudes que o Cristo nos solicita em Seu seguimento é cumprir os
Seus Mandamentos, viver as bem-aventuranças, realizar as obras de misericórdia e
não poupar esforços em prol da salvação de todas as almas. Além disso, também é
necessário aprender a ouvir os conselhos dos santos que nos dizem: “Diz-me que
sim, que estás firmemente decidido a seguir a Cristo. Pois então tens de
caminhar ao passo de Deus; não ao teu”. (São Josemaria Escrivá, Forja nº 531).
Na senda do Cristo, gastando a nossa vida em Seu seguimento, nós aprendemos que
o Senhor é um bom pagador e, por isso, Ele restitui infinitamente tudo o que gastamos
ou abandonamos por amor a Ele. Assim, quem perde a sua vida pelo Senhor vai
reavê-la, pois se perdemos a vida velha, ganhamos, ao mesmo tempo, a vida nova pelo
Espírito Santo.
Nas vicissitudes da história, a cruz de Jesus é a luz que ilumina e orienta o
nosso caminho; é a força que nos sustenta nas provações; é indicação de um novo
começo e é profecia de um mundo novo. Por conseguinte, a cruz de Cristo é, para
o fiel cristão, o sinal de uma incessante busca e a revelação de uma nova descoberta,
porque “Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre”, mas nós, a história e o mundo,
nunca somos os mesmos e, por isso, Ele vem no nosso encontro para nos oferecer
o Seu amor, a Sua misericórdia e a plenitude da vida.
No seguimento do Cristo, na santificação da cruz, nós adentramos a escola de Maria,
onde nos é revelado que Jesus não é apenas uma pessoa histórica, um homem que
modificou o seu tempo. Ele é o esperado de todos os povos, o Príncipe da paz, o
Messias anunciado pelos Profetas. Ele é o nosso Deus adorado e amado, a máxima expressão
da bondade, da ternura e da compaixão, e não poderia ser diferente, pois “Jesus
não é uma pessoa fechada em si mesma, mas sim a pessoa plenamente humana, aquela
que vale realmente a pena conhecer, que está disponível, através de quem e em quem
se pode reconhecer quem é Deus”. (Cardeal Joseph Ratzinger, Meditação em 6 de setembro
de 1970).
No seguimento do Cristo, nas horas de cansaço, fraquezas e incertezas, contemplemos
a Virgem Santa Maria, a humilde serva do Senhor, a Virgem Mãe que é plenamente
livre porque é imaculada, imune ao pecado, e toda santa, toda dedicada ao serviço
de Deus e do próximo.
Mãe Maria, ajudai-nos, com o vosso zelo maternal, a seguir a Cristo no cotidiano
da fé, a fim de que possamos conhecer e viver a liberdade de sermos filhos no Filho,
professando que os caminhos do coração se decidem no que é aparentemente insignificante,
na renúncia e nos sacrifícios, moldando sempre os sinais da pertença a Deus em
nossas almas e edificando a Igreja como um espaço sagrado de vida e de esperança
em nossa História.
Aloísio
Parreiras
Arquidiocese de Brasília
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