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segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Do Tratado sobre a Encarnação do Senhor, de Teodoreto de Ciro, bispo

Crucificação de Jesus (DW)

(Nn. 26-27: PG 75, 1466-1467)     (Séc.V)

Curarei os seus tormentos

Com liberdade, vai Jesus ao encontro dos sofrimentos preditos a seu respeito. Por várias vezes os prenunciou aos discípulos, tendo mesmo repreendido a Pedro que repelia o anúncio da paixão, e declarou que por eles se daria a salvação do mundo. Por isso apresentou-se aos que vinham buscá-lo, dizendo: Sou eu a quem procurais (cf. Jo 18,5). Acusado, não respondeu. Podendo esconder-se, não o quis, embora por mais de uma vez se tenha furtado às ciladas dos perseguidores. Chora sobre Jerusalém que pela incredulidade atraía para si a ruína e prediz a suprema destruição do templo outrora famoso. Com toda a paciência suporta ser batido na cabeça por homem duplamente escravo. Esbofeteado, cuspido, injuriado, atormentado, flagelado e por fim crucificado e dado por companheiro de suplícios a dois ladrões, contado entre os homicidas e celerados. Bebe o vinagre e o fel produzidos pela má videira, coroado de espinhos em lugar de louros e cachos de uva. Escarnecido com a púrpura, batido com a cana, ferido o lado pela lança e enfim levado ao sepulcro.  

Tudo isto sofreu enquanto operava nossa salvação. Pois àqueles que se haviam escravizado ao pecado eram devidos os castigos do pecado. Ele, isento de todo pecado, tendo cumprido toda a justiça, suportou a pena dos pecadores, destruindo por sua cruz o antigo decreto de maldição. Cristo, assim diz Paulo, nos remiu da maldição da lei, feito maldição por nós; por que está escrito: Maldito todo aquele que pende do lenho (Gl 3,13; cf. Dt 21,23). Com a coroa de espinhos põe fim ao castigo de Adão. Pois, após o pecado, este ouvira: Maldita a terra em teus trabalhos; germinarão para ti espinhos e abrolhos (cf. Gn 3,17-18).  

Com o fel bebeu a amargura e a dor da vida humana passível e mortal. Pelo vinagre assumiu em si a mudança do ser humano para o pior e concedeu a volta ao melhor. A púrpura significava o reino; a cana, o frágil poder do diabo. A bofetada publicava nossa liberdade, tolerando as injúrias, flagelos e chagas a nós devidas.  

O lado aberto, à semelhança de Adão, deixa sair não a mulher que, por seu erro, gerou a morte, mas a fonte de vida que com dupla torrente vivifica o mundo. Uma, no batistério, nos renova e cobre com a veste imortal; outra, à mesa divina, alimenta os renascidos como leite aos pequeninos.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF