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O Profeta Santo Elias
Tradução do Amado Irmão WILMAR SANTIN
9. Elias e os Carmelitas
No tempo das cruzadas, alguns soldados se retiraram ao Monte Carmelo, atraídos pela beleza do lugar, pela sua posição geográfica e também pela lembrança do profeta. Tiago de Vitry, a princípios do século XIII, traçou um quadro retrospectivo do renascimento espiritual da Terra Santa depois das cruzadas dos séculos XI e XII:
“Devotos peregrinos e homens santos de diversas partes do mundo, compareciam a Terra Santa... Varões santos, renunciando ao século, impulsionados por vários sentimentos, desejos e tomados pelo fervor religioso, escolhiam os lugares mais aptos para seu santo propósito e devoção... Alguns, a exemplo e imitação do santo e solitário varão Elias profeta, no Monte Carmelo e particularmente naquela parte que domina a cidade de Porfiria que hoje se chama Haifa, junto à fonte chamada de Elias e não longe do monastério da virgem Santa Margarida, levavam uma vida solitária em alvéolos de pequenas celas, elaborando qual abelhas do Senhor o mel da doçura espiritual" (Historia orientalis sive hierosolymitana, I, caps. 51-52; ed. J. Bongars, Gesta Dei per Francos, Hanoviae 1611, p. 1075).
Entre os anos 1206-1214, um grupo de monges latinos, que viviam "junto à fonte no Monte Carmelo", receberam das mãos de Alberto, patriarca de Jerusalém, uma “norma de vida”, confirmada depois pelo papa Honório III em 1226. Estes viriam a ser os Carmelitas, os irmãos de Nossa Senhora do Carmelo e os filhos de Elias. Não é certo que fora a veneração do profeta Elias o que atraiu estes eremitas ao Monte Carmelo. A Regra não fala de uma inspiração eliana da vida carmelitana. Mais tarde, Nicolau Gálico, ao expressar seu desejo de que os Carmelitas recobrassem a pureza da vida eremítica, não invoca em sua Ignea sagitta o exemplo do grande solitário do AT. É mais provável que o nascimento e desenvolvimento da devoção a Santo Elias tenha surgido do fato de habitarem o Monte Carmelo e, mais tarde, a lembrança conservada. Só ao longo da história é que o tema de Elias se tornou "parte integrante" da espiritualidade carmelitana. Alguma alusão à lenda sobre uma vida eremítica ininterrupta no Monte Carmelo desde o tempo de Elias até as Cruzadas, se encontra na rúbrica prima das Constituições do Capítulo de Londres do ano 1281:
“E assim dizemos, dando testemunho da verdade, que a partir dos profetas Elias e Eliseu, devotos habitantes do Monte Carmelo, alguns santos padres, tanto do Velho como do Novo Testamento, realmente apaixonados pela solidão deste monte, tão adequado à contemplação das coisas celestiais, viveram ali, sem dúvida, de modo digno de louvor, junto à fonte de Elias, em santa penitência, praticada sem interrupção com santos resultados. E nos tempos de Inocêncio III, Alberto patriarca da igreja de Jerusalém reuniu numa comunidade ("collegium") os seus sucessores e lhes escreveu uma regra, que o Papa Honório, sucessor de Inocêncio, e numerosos outros depois dele, aprovando esta Ordem a confirmaram tão devotamente, como o atestam suas bulas. E nesta profissão que nós, seus discípulos, servimos ao Senhor até o dia de hoje nas diversas partes do mundo” (texto latino em AnalOC, XV [1950], p. 208).
Se havia ainda uma diferença entre os primeiros eremitas do Antigo e do Novo Testamento e seus sucessores da época de Inocêncio III, na primeira rubrica das Constituições de 1324, os sucessores aparecem já nos tempos de Cristo. É assim que se forma a idéia da ininterrupta sucessão hereditária da Ordem do Carmelo. Esta convicção desembocará no tão penoso litígio entre os Carmelitas e Daniel Papenbroek. Entretanto, a figura de Elias foi se tornando cada vez mais significativa na espiritualidade da Ordem. No século XV Tomás Waldense escreve, sem ulteriores correções: "nossa profissão religiosa nos estimula a viver segundo sua inspiração" (Mhc, p. 446).
Tudo indica que foi João Baconthorp, morto em 1346, quem pela primeira vez uniu a devoção mariana da Ordem do Carmelo com a lembrança do profeta Elias:
“Segundo os profetas (as profecias?), os Frades do Carmelo nasceram especialmente para venerar à Santíssima Virgem Maria... E posto que [a Virgem Maria] é honrada e pregada através do Carmelo, convém que no Carmelo, dado a ela, exista os carmelitas que a venerem de um modo especial. E assim foi na antiguidade. Na realidade as profecias se compreendem à luz dos acontecimentos... Quantos profetas e reis estiveram no Carmelo rendendo honras à Senhora do lugar, a bem-aventurada Maria! Para continuar o culto à Virgem Maria em seu Carmelo, nasceu a Ordem dos Irmãos do Carmelo. Porque o culto celebrado nos lugares dos santos é tributado primeiro a Deus e depois aos próprios santos... Mas também se todos aqueles que deveriam ser salvos na época dos profetas honraram ao futuro Filho da Virgem Maria..., com muito maior razão os religiosos do Carmelo, venerando no tempo de Elias e Eliseu aquele que havia de vir, instauraram no Carmelo sua Ordem da bem-aventurada Maria... Consequentemente é para este culto que tiveram origem” (Speculum de institutione Ordinis, cap. I; texto latino também em Élie, II, p. 42-43).
A forma mais completa desta espiritualidade eliana e profética encontra-se num escrito do séc. XIV, o Liber de institutione primorum monachorum (texto também em AnalOC, II [1914-16], p. 347-49).
Cosmas Peters
FONTE:
Título original: Elia Profeta, em Santi del Carmelo, Institutum Carmelitanum, Roma 1972, p. 136-153)
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