Veritatis Splendor |
- Autor: Jesús Mondragón (Saulo de Tarso)
- Fonte: Católico, Defiende tu Fe (http://www.catolicodefiendetufe.org/)
- Tradução: Carlos Martins Nabeto
No mundo dos cristãos evangélicos protestantes, a doutrina do Purgatório é apenas uma invenção a mais da Igreja Católica e ainda que existam dezenas de textos na Bíblia que falam sobre o Purgatório sem empregar essa palavra, a pergunta que se impõe é: acreditavam no Purgatório os primeiros cristãos, sucessores e discípulos dos Apóstolos, melhor conhecidos como “Pais da Igreja”?
A resposta é: SIM! Os Pais da Igreja primitiva e os primeiros cristãos acreditavam no Purgatório e oravam pelos seus falecidos, demonstrando assim que a Igreja Católica não inventou nada, mas que a compreensão da Bíblia, da história eclesiástica e da teologia pelo mundo protestante está anos-luz atrás da única e verdadeira Igreja cristã fundada por Jesus Cristo: a Igreja Católica.
Eis aqui os testemunhos dos Pais Apostólicos, discípulos e sucessores dos Apóstolos, e sua crença no Purgatório:
- “E após a exibição, Trifena novamente a recebeu. Sua filha Falconila havia morrido e disse para ela em sonhos: ‘Mãe: deverias ter esta estrangeira, Tecla, como a mim, para que ela ore por mim e eu possa ser levada para o lugar dos justos” (Atos de Paulo e Tecla, ano 160).
- “Se alguém parte desta vida com pequenas faltas, é condenado ao fogo que consome todos os materiais combustíveis e prepara a alma para o Reino de Deus, onde nada de impuro pode entrar. Pois se sobre o fundamento de Cristo contruístes não apenas ouro e prata mas pedras preciosas e ainda madeira, cana e palha, o que esperas que ocorra quando a alma seja separada do corpo? Entrarias no céu com tua madeira, cana e palha e, deste modo, mancharias o reino de Deus? Ou em razão destes obstáculos poderias ficar sem receber o prêmio por teu ouro, prata e pedras preciosas? Nenhum destes casos seria justo. Com efeito, serás submetido ao fogo que queimará os materiais levianos. Para nosso Deus, àqueles que podem compreender as coisas do céu, encontra-se o chamado ‘fogo purificador’. Porém, este fogo não consome a criatura, mas aquilo que ela construiu: madeira, cana ou palha. É manifesto que o fogo destrói a madeira de nossas transgressões e logo nos devolve o prêmio de nossas grandes obras” (Orígenes de Alexandria, anos 185-232; cf. Patres Groeci. 13, col.445,448).
- “Cidadão de pátria ilustre, construí este túmulo durante a vida, para que meu corpo, num dia, pudesse repousar. Chamo-me Abércio: sou discípulo de um Santo Pastor, que apascenta seu rebanho de ovelhas, por entre montes e planícies. Ele tem enormes olhos que tudo enxergam, ensinou-me as Escrituras da Verdade e da Vida (…) Eu, Abércio, ditei este texto e o fiz gravar na minha presença, aos 72 anos. O irmão que o ler por acaso, ore por Abércio” (Epitáfio de Abercio, ano 190).
- “Através de grande disciplina o crente se despoja das suas paixões e passa a mansão melhor que a anterior; passa pelo maior dos tormentos, tomando sobre si o arrependimento das faltas que possa ter cometido após o seu batismo. Então, é torturado mais ao ver que não conseguiu o que os outros já conseguiram. Os maiores tormentos são atribuídos ao crente porque a justiça de Deus é boa e sua bondade é justa; e estes castigos completam o curso da expiação e purificação de cada um” (Clemente de Alexandria, anos 150-215; cf. Patres Groeci. IX, col. 332 [A.D. 150-215]).
- “Imediatamente, nessa mesma noite, isto me foi mostrado em uma visão: eu vi Dinocrate saindo de um lugar sombrio, onde se encontravam também outras pessoas; e ele estava magro e com muita sede, com uma aparência suja e pálida, com o ferimento de seu rosto quando havia morrido. Dinocrate foi meu irmão de carne, tendo falecido há 7 anos de uma terrível enfermidade (…) Porém, eu confiei que a minha oração haveria de ajudá-lo em seu sofrimento e orei por ele todo dia, até irmos para o campo de prisioneiros (…) Fiz minha oração por meu irmão dia e noite, gemendo e lamentando para que [tal graça] me fosse concedida. Então, certo dia, estando ainda prisioneira, isto me foi mostrado: vi que o lugar sombrio que eu tinha observado antes estava agora iluminado e Dinocrate, com um corpo limpo e bem vestido, procurava algo para se refrescar; e onde havia a ferida, vi agora uma cicatriz; e essa piscina que havia visto antes, vi que seus níveis haviam descido até o umbigo do rapaz. E alguém incessantemente extraía água da tina e próximo da orla havia uma taça cheia de água; e Dinocrate se aproximou e começou a beber dela e a taça não reduziu [o seu nível]; e quando ele ficou saciado, saiu pulando da água, feliz, como fazem as crianças; e então acordei. Assim, entendi que ele havia sido levado do lugar do castigo” (Perpétua, ano 203; Paixão de Perpétua e Felicidade 2,3-4).
- “A alegoria do Senhor [cf. Mateus 5,25-26] (…) é muitíssimo clara e simples em seu significado (…) [cuide-se para não ser como] um transgressor de seu contrato, diante de Deus, o Juiz (…) e para que este Juiz não envie sobre você o Anjo-executor da sentença, para levá-lo à ‘prisão do inferno’, de onde você não sairá até que o menor dos seus delitos seja apagado durante o período anterior à ressurreição. Pode haver alguma coisa mais lógica do que isso? Qual seria a melhor interpretação?” (Tertuliano de Cartago, ano 210; Da Alma 45).
- “A fiel viúva ora pela alma do seu esposo e suplica por ele no repouso interino e na participação da primeira ressurreição; e oferece orações no aniversário da sua morte” (Tertuliano de Cartago, ano 213, Da Monogamia 10).
- “Uma coisa é pedir perdão; outra coisa, alcançar a glória. Uma coisa é estar prisioneiro sem poder sair até ter pago o último centavo; outra coisa, receber simultaneamente o valor e o salário da fé. Uma coisa é ser torturado com longo sofrimento pelos pecados, para ser limpo e completamente purificado pelo fogo; outra coisa é ter sido purificado de todos os pecados pelo sofrimento. Uma coisa é estar suspenso até que ocorra a sentença de Deus no Dia do Juízo; outra coisa é ser coroado pelo Senhor” (Cipriano de Cartago, ano 253, Epístola 51[55],20).
- “Então mencionamos também a todos os que já adormeceram: primeiro os patriarcas, profetas, apóstolos e mártires, os quais, com suas orações e súplicas a Deus, recebem os nossos pedidos; a seguir, mencionamos também os Santos Padres e Bispos que já adormeceram e, para torná-lo simples, a todos os que entre nós já adormeceram. Porque cremos que será de grande benefício para almas pelas quais pedimos, quando o santíssimo e solene sacrifício é oferecido” (Cirilo de Jerusalém, ano 350; Leituras Catequéticas 23,5,9).
- “Vamos auxiliá-los e comemorá-los. Se os filhos de Jó foram purificados pelo sacrifício de seu pai, ‘porque deveríamos duvidar que quando nós também oferecemos [o sacrifício] pelos que já partiram, recebem eles algum consolo’? Já que Deus costuma atender aos pedidos ‘daqueles que pedem pelos demais’, não cansemos de ajudar os falecidos, oferecendo em seu nome e orando por eles” (João Crisóstomo, ano 392).
- “Não sem razão foi determinado, mediante leis estabelecidas pelos Apóstolos, que na celebração dos sagrados e impressionantes mistérios se faça a memória dos que já passaram desta vida. Sabiam, com efeito, que com isso os falecidos obtêm muito fruto e tiram grande proveito” (João Crisóstomo, ano 402; Homilias sobre Filipenses 3,9-10).
- “Dai o perfeito descanso ao teu servo Teodósio, o descanso que preparaste para os teus santos (…) O amei e também o seguirei à terra dos viventes; e o acompanharei com lágrimas e orações; o conduzirei, pelos seus méritos, até a Santa Montanha do Senhor” (Ambrósio de Milão, ano 395; Sermão durante o Funeral de Teodósio 36-37).
- “A isto se deve o uso eclesiástico, conhecido pelos fiéis, de se mencionar os nomes dos mártires diante do altar de Deus; não para orar por eles, mas pelos demais falecidos de que se faz menção. Seria uma injúria rogar por um mártir, a cujas orações devemos nos encomendar” (Agostinho de Hipona, ano 411; Sermão 159,1).
- “Contudo, há penas temporais que alguns padecem apenas nesta vida, outros após a morte, e outros agora e depois. De toda forma, estas penas são sofridas antes daquele severíssimo e definitivo juízo. Mas nem todos os que hão de sofrer penas temporais através da morte cairão nas eternas, que terão lugar após o juízo” (Agostinho de Hipona, ano 419; A Cidade de Deus 21,13).
- “Que deve haver algum fogo, inclusive depois desta vida, não é incrível. Algo pode ser examinado e levado à luz ou ocultado, dependendo do fiel que pode ser salvo: alguns mais lentamente, outros mais rapidamente, em maior ou menor grau, conforme amaram as coisas que se consomem mediante um certo fogo purificador [purgatorial]” (Agostinho de Hipona, ano 421; Manual sobre a Fé, a Esperança e a Caridade 18,69).
Com efeito, o consenso unânime dos Pais Apostólicos e primeiros cristãos é que existe uma purificação dos pecados após a morte ou Purgatório. Acrescente-se ainda que os primeiros cristãos, como vemos, também oravam pelos seus falecidos.
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