S. Vicente de Paulo, Juan Nepomuceno Herrera |
“Meus irmãos, amemos a Deus, custe o
que custar, com a fadiga dos nossos braços e o suor do nosso rosto”.
Vicente de Paulo nasceu, em 1581, em uma pequena cidade da Gasconha, região da
França, no seio de uma família de camponeses. Embora tenha transcorrido a sua
adolescência no campo, a sua perspicácia foi percebida por um benfeitor, que
lhe ofereceu a oportunidade de estudar, tanto que, em 1600, com apenas 19 anos,
foi ordenado sacerdote, mas obteve o diploma em teologia somente em 1604. Abriu
uma escola particular, mas teve muitos gastos. Além disso, durante uma viagem
marítima de Marselha a Narbonne, seu navio foi atacado por piratas: Vicente foi
preso e vendido como escravo em Túnis. Ao receber sua alforria, dois anos
depois, voltou para França, graças ao seu terceiro patrão, que, no entanto, se
converteu ao cristianismo.
De mestre dos ricos a pároco dos pobres
Finalmente, em 1612, tornou-se pároco
de uma igreja em Clichy, na periferia de Paris. No entanto, conheceu o Cardeal
Pierre de Bérulle, que foi seu diretor espiritual, por muito tempo. Assim,
começou suas atividades como catequista, mas, no ano seguinte, foi encarregado
da formação dos filhos dos Marqueses de Gondi, onde permaneceu quatro anos.
Ali, Vicente percebeu, pela primeira vez, o enorme abismo entre ricos e pobres,
não só do ponto de vista material e social, mas também cultural e moral. Sua preocupação
com a pobreza foi compartilhada pela Marquesa Gondi, que colocou uma grande
quantidade de dinheiro à sua disposição, para que fosse instituída uma obra de
pregação quinquenal entre os camponeses das suas terras. Contudo, não podendo
contar com a ajuda de outros padres para esta missão, Vicente desistiu,
deixando, temporariamente, o castelo para ir trabalhar em uma pequena paróquia
na periferia de Châtillon-le-Dombez. Ali, em contato direto com a miséria dos
camponeses, ficou mais chocado ainda com a situação.
A “descoberta” da Caridade, que
mobiliza o mundo
A primeira coisa, que Vicente fez
como pároco, foi cuidar de uma família doente, que não tinha o que comer. Por
isso, promoveu uma rede promissora de solidariedade entre os paroquianos.
Porém, percebeu que, quando o dinheiro acabasse, a família voltaria à sua
indigência de antes. Daí, buscou outro meio, mais eficiente e em longo prazo,
para ajudar esta e outras famílias necessitadas da região. Assim, em 20 de
agosto de 1617, nasceu a primeira célula da Caridade Vicentina, que foi
confiada, segundo os ditames da sociedade, às mulheres, que foram chamadas
“Servas dos Pobres”. A instituição cresceu de modo extraordinário, obtendo, em
tempo recorde, a aprovação do Bispo de Lyon. Vicente notou que a mobilizar
todas as coisas era o amor; por isso, dedicou-se a ela de alma e corpo,
transmitindo aos demais pelo menos um pouco daquele amor, com o qual se sentia
profundamente amado por Deus.
Damas e Filhas: famílias da Caridade
Vicente voltou ao castelo de Gondi,
mas, desta vez, só para tratar da promoção humana e material dos camponeses.
Depois, transferiu-se para Paris, porque é nas grandes metrópoles que as
diferenças sociais, entre quem tem tudo e quem não tem nada, são maiores:
sentiu que era ali que devia intervir. Na capital, muitas senhoras nobres,
ansiosas de fazer beneficência, quiseram contribuir, financeiramente, para suas
obras de "Monsieur Vincent": assim, em 1617, nasceram as Damas da
Caridade, entre as quais se encontrava também a futura rainha da Polônia. A
obra mais importante que conseguiram realizar foi a abertura de um hospital
municipal. Porém, as senhoras não davam conta, seja pelo seu número seja pela
sua posição social, para atender às necessidades mais humildes. Por isso, em
1633, Vicente fundou uma Congregação feminina, inovadora para a época: as
Filhas da Caridade, que não seriam "monjas", distantes do mundo e
dedicadas à contemplação, mas "freiras", irmãs dos últimos, que vivem
ao lado deles no mundo e deles cuidam diariamente. Enfim, pela primeira vez,
também as mulheres consagradas participam do apostolado ativo. Ainda hoje, as
Filhas da Caridade são a maior família religiosa feminina da Igreja.
Formação do clero e os
"Lazaristas"
A obra incessante de Vicente não se
limitou apenas à comunidade das Irmãs, mas começou a pregar a Palavra de Deus
nas aldeias, onde muitos sacerdotes se uniram ele. Assim, nasceu uma nova
comunidade, que contava com a ajuda financeira da família Gondi: a Congregação
da Missão, mais tarde conhecida como Lazaristas, cuja sede foi o convento de
São Lázaro. Entre as suas regras, destacavam-se a necessidade da vida em comum,
a renúncia aos cargos eclesiásticos mais cobiçados, a assistência espiritual
aos galeotes e o ensino do catecismo. Contudo, Vicente percebeu que, muitas
vezes, a ignorância dos camponeses estava associada à pouca preparação dos
sacerdotes, que deveriam cuidar deles, Por isso, comprometeu-se também com a
formação do clero, promovendo exercícios espirituais e animando os
"encontros das terças-feiras", nos quais os sacerdotes transmitiam
suas experiências apostólicas e encaminhavam suas vocações à santidade.
“Regulae” de Monsieur Vincent
Vicente de Paulo faleceu em Paris, em
27 de setembro de 1660, com a idade de 79 anos, sem deixar nenhuma obra escrita.
A sua única obra ou a sua obra-prima foi a Caridade: uma caridade, o verdadeiro
amor, que não fazia distinção entre o de Deus e o ao próximo. A espiritualidade
vicentina, fundada na dupla descoberta de Cristo e dos pobres, na igualdade
entre a oração e ação, no compromisso com o mundo e para o mundo, concretiza-se
com a evangelização e a promoção humana. Seus Filhos religiosos, portanto, se
inspiram apenas nas "Regulae", que encarnam as características do
espírito vicentino: simplicidade, humildade, mansidão, mortificação e zelo pela
salvação das almas. São Vicente de Paulo foi canonizado por Clemente XII, em
1737, enquanto, em 1885, o Papa Leão XIII o proclamou padroeiro de todas as
Associações católicas de caridade.
Vatican News
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