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terça-feira, 29 de setembro de 2020

TEOLOGIA: A Catolicidade da Igreja (Parte 6/8)

 

George Florovsky | ECCLESIA

A Catolicidade da Igreja

Trad.: Pe. Pedro Oliveira Junior

7. Liberdade e autoridade

Na catolicidade da Igreja as dolorosas dualidade e tensão entre liberdade e autoridade é resolvida. Na Igreja não há e não pode haver autoridade externa. Autoridade não pode ser uma fonte de vida espiritual. Assim a autoridade cristã apela para a liberdade; essa autoridade deve convencer, não constranger. Sujeição oficial não seria de maneira nenhuma verdadeira unidade de mente e coração. Mas isso não significa que todos receberam liberdade ilimitada de opinião pessoal. É precisamente na Igreja que "opiniões pessoais" não devem e não podem existir. Um duplo problema é encarado por todo membro da Igreja. Antes de tudo, ele deve controlar sua subjetividade, colocar-se livre de limitações psicológicas, elevar o padrão de sua consciência para sua medida inteiramente católica. Em segundo lugar, ele deve viver em espiritual simpatia com, e compreender a histórica plenitude da experiência da Igreja. Cristo não se revela para indivíduos separados e nem é o destino pessoal desses indivíduos que Ele dirige.

Num certo sentido o todo da História é História sagrada. No entanto, ao mesmo tempo, a história da Igreja é trágica. A catolicidade foi dada para a Igreja; o atingimento dessa catolicidade é a tarefa da Igreja. A verdade é concebida em trabalho e luta. Não é fácil superar subjetividade e particularismo. A condição fundamental do heroísmo cristão é humildade diante de Deus, aceitação de sua revelação. E Deus revelou-se na Igreja. Essa é a revelação final, que não passa. Cristo revela-se a nós, não em nosso isolamento, mas em nossa catolicidade mútua, em nossa união. Ele se revela como o novo Adão, como a Cabeça da Igreja, a Cabeça do Corpo. Por isso, humildemente e com confiança, devemos entrar na vida da Igreja e tentar encontrarmo-nos nela. Nós devemos acreditar que é justo na Igreja que a plenitude de Cristo é realizada. Cada um de nós deve enfrentar suas próprias dificuldades e dúvidas. Mas nós acreditamos e esperamos que com esforços unidos, católicos e heróicos, essas dificuldades possam ser resolvidas. Cada trabalho de companheirismo e concórdia é um passo na direção da plenitude católica da Igreja. E isso é agradável aos olhos do Senhor: "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu Nome, aí estou Eu no meio deles" (Mt 18:20). 

8. A mente católica

É impossível começar com uma definição formal da Igreja. Pois, estritamente falando, não há ninguém que possa pleitear qualquer autoridade doutrinal. Nada pode ser encontrado nos padres. Nenhuma definição foi dada pelos Concílios Ecumênicos. Nos sumários doutrinais esboçados em várias ocasiões na Igreja Ortodoxa no século dezessete e tomados com freqüência (mas erroneamente) como os "livros simbólicos," de novo nenhuma definição da Igreja foi dada, exceto uma referência à relevante cláusula do credo, seguida por alguns comentários. Essa falta de definição formal não significa, entretanto, uma confusão de idéias ou qualquer obscuridade de visão. Os padres não ligaram muito para a definição da Igreja precisamente porque a gloriosa realidade da Igreja estava aberta para a visão espiritual deles. Não se define o que está auto-evidente. Isso conta para a ausência de um capítulo especial sobre a Igreja em todas primeiras apresentações da doutrina cristã: em Orígenes, em São Gregório de Nyssa, até em São João Damasceno. Muitos eruditos modernos, tanto ortodoxos quanto católico-romanos, sugerem que a Igreja ainda não definiu sua essência e natureza. "Die Kirche selbst hat sich bis heute noch nicht definiert," diz Robert Grosche, (Robert Grosche, Pilgernde Kirche, Freiburg am Breisgau, 1938, p. 27). Alguns teólogos vão mais longe e alegam que a definição da Igreja não é possivel (Sergius Bulgakov, The Orthodox Church, 1935, p. 12; Stefan Zankow, Das Orthodoxe Christentum des Ostens, Berlim 1928, p. 65; Tradução Inglesa pelo Dr. Lowrie, 1929, p. 6gf). Em todo caso, a teologia da Igreja está ainda, im Werden, em processo de formação (ver M.D. Koster, Ecclesiologie im Werden, Paderborn 1940).

Em nosso tempo, ao que parece, deve-se ir além das modernas disputas teológicas para se recuperar uma perspectiva histórica mais ampla, para recuperar a verdadeira "mente católica," que englobaria o todo da experiência histórica da Igreja em sua peregrinação através dos séculos. Deve-se sair da sala da escola e ir para a Igreja orante e talvez mudar o dialeto de escola usado na teologia para a linguagem pictórica e metafórica das Escrituras. A verdadeira natureza da Igreja pode muito mais ser pintada e descrita do que propriamente definida. E seguramente isso só pode ser feito de dentro da Igreja. Provavelmente essa descrição só será convincente para aqueles da Igreja. O Mistério é apreendido somente pela fé. 

Ecclesia

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF