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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

TEOLOGIA: A Catolicidade da Igreja (Parte 2/8)

George Florovsky | Ecclesia

A Catolicidade da Igreja

Trad.: Pe. Pedro Oliveira Junior

3. A qualidade interior da catolicidade

A catolicidade da Igreja não é um conceito quantitativo ou geográfico. Ele não depende em nada da dispersão dos fiéis pelo mundo todo. A universalidade da Igreja é a conseqüência ou a manifestação, mas não a causa ou a base de sua catolicidade. A extensão por todo o mundo ou a universalidade da Igreja é só um sinal exterior, sinal que não é absolutamente necessário. A Igreja era católica mesmo quando as comunidades cristãs não eram mais do que raras ilhas num mar de descrença e paganismo. E a Igreja permanecerá católica mesmo até o final dos tempos quando o mistério do "desfigurar-se" será revelado, quando a Igreja mais uma vez diminuirá para um "pequeno rebanho." "Quando porém vier o Filho do Homem, porventura achará fé na terra?" (Lc 18-8).

O Metropolita Philaret expressou-se mui adequadamente nesse ponto: "Se uma cidade ou pais afasta-se da Igreja universal, esta ainda permanecerá um corpo integral e imperecível." (Opiniões e afirmações de Philaret, Metropolita de Moscou, a respeito da Igreja Ortodoxa no Oriente, São Petersburgo, 1886, p. 53). Philaret usa aqui a palavra "universal" no sentido de catolicidade. Esse conceito não pode ser medido por sua expansão pelo mundo todo; universalidade não expressa esse conceito exatamente. Καθολικη vindo de Καθ óλου significa, antes de tudo, a totalidade e integralidade internas da vida da Igreja. Nós estamos falando aqui de totalidade, não só de comunhão, e de modo nenhum de uma simples comunhão empírica. Καθ óλου não é o mesmo que Κατα παντóς; esse conceito de catolicidade não pertence ao plano fenomenológico ou empírico mas ao plano nouético (intelectual e intuitivo) e ontológico; ele descreve a essência em si, não as manifestações externas. Nós podemos verificar isso já no uso pré-cristão dessa palavra, começando por Sócrates. Se catolicidade também significa universalidade, esta não é certamente uma universalidade empírica mas sim ideal; a comunhão de idéias, não de fatos, é o que ela tem em vista.

Os primeiros cristãos quando usando as palavras 'Ekklisía Katholikí' (Εκκλησια Καθολικη) nunca quiseram que isso significasse uma Igreja mundial. Essa palavra dá mais proeminência à ortodoxia da Igreja, à verdade da "Grande Igreja," em contraste com o separatismo e particularismo sectários; era a idéia de integridade e pureza que era expressa. Isso foi afirmado com muita força nas bem conhecidas palavras de Santo Inácio de Antioquia: "Onde há um bispo, que haja ali uma completa multidão; assim como onde Jesus Cristo está, ali também está a Igreja Católica" (Ignatius Smyrn. 8:2). Essas palavras expressam a mesma idéia que a da promessa: "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu Nome, aí, estou Eu no meio deles (Mt 18, 20). É esse mistério de reunirem-se (μυστηριον της συναξεως, Mystírion tis sinakseos) que a palavra catolicidade expressa. Mais tarde São Cirilo de Jerusalém explica a palavra "catolicidade" que é usada no credo na maneira tradicional de sua Igreja. A palavra "Igreja" significa "reunião de todos em uma união"; por isso ela é chamada de "reunião" (εκκλεσια, Ekklesía). A Igreja é chamada católica, por que ela se espalha por todo o universo e submete a totalidade da raça humana à justiça, porque na Igreja, também os dogmas são ensinados "totalmente, sem qualquer omissão, catolicamente e completamente" (καθολικως και ανελλειπως) porque, de novo, na Igreja todo tipo de pecado é curado e sarado" (Cathech. 18:23 Migne p.g. 33 c. 1044) . Aqui, novamente catolicidade é entendida como uma qualidade interior. Só no Ocidente, durante a luta contra os donatistas a palavra "católica" foi usada no sentido de "universal," em oposição ao provincialianismo geográfico dos donatistas.

(cf. Pierre Batifoll, Le Catholicisme de St. Augustin, I; Paris, 1920, p. 212. - Rappelons que le nom 'Catholique' a servi à qualifier la Grande Eglise par opposition aux hérétiques...Le nom est vraisemblablement de creation populaire e apparait en orient au second siecle. Les tractatores du 4. siècle, que lui cherchent une signification étymologique et savante, veulent y voir l'expression soit de la perfection intégrale de la foi de l'Eglise, soit du fait que l'Eglise ne fait pas acception de personnes de rang, du culture, soit enfin et surtout du fait que l'Eglise est dans le mond entire d' uné extremité à l'autre. Augustin ne veut connaître que ce dernier sens." Cf. também Bispo Lightfoot, em sue edição de St. Ignatius, v. 2 (Londres, 1889), p. 319. Nota ad Loc.

A história do uso cristão e pré-cristão dos termos ekklisía katholikí (Εκκλησια Καθολικη) e katholikós (καθολικóς) geralmente em várias colocações merece estudo cuidadoso; aparentemente não existiram investigações especiais sobre o assunto. Em russo, deve ser feita referência ao, mui valioso, apesar de não exaustivo e não sem falhas, artigo mais recente do Professor M. D. Muretov no suplemento do seu livro Ancient Jewish Prayers Ascribed to St Peter (Sergiev Posad, 1905). Ver também Bispo Lightfoot, St. Ignatius, v. 2 (Londres, 1889), p. 310, nota).

Mais tarde, no Oriente, a palavra "católica" foi entendida como sinônimo de [...]

O crescimento da Igreja está no aperfeiçoamento de sua totalidade interior, de sua catolicidade interior na "perfeição da totalidade"; "para que eles sejam perfeitos em unidade" (Jo 17,23).


FONTE:

Folheto Missionário nP95. Holy Trinity Orthodox Mission
466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011
Redator: Bispo Alexandre Mileant



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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF