Dom José Aparecido Adm. Apost. Arquidiocese de Brasília |
SENHOR, QUANTAS VEZES DEVO PERDOAR?
A rezarmos o Pai Nosso, fazemos uma súplica exigente: “perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Com estas palavras ensinadas pelo próprio Senhor Jesus, nós pedimos o perdão das nossas faltas oferecendo ao Pai, que não se cansa de perdoar, a medida do perdão que desejamos receber.
Já no Antigo Testamento lemos que: “Se (alguém) não tem compaixão do seu semelhante, como poderá pedir perdão a Deus?” (Eclo. 28,4). O mesmo sábio aconselha: “Perdoa ao próximo que te prejudica, assim, quando orares, teus pecados serão perdoados” (28,2). Esta palavra já nos aproxima da revelação Evangélica da centralidade do perdão e da misericórdia na vida dos filhos de Deus.
Mesmo o salmista, ao convidar a própria alma a bendizer ao Senhor lembrando-se dos imensos benefícios que o Senhor lhe fez, diz: “Ele te perdoa toda culpa, cura toda tua enfermidade … como um pai se compadece de seus filhos, o Senhor tem compaixão dos que o temem” (Sl. 102,3.13).
Na segunda leitura, o Apóstolo sugere aos cristãos de Roma que na comunidade Cristã nada há de essencial senão a pertença radical a Jesus, pois “quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor”, que “morreu e ressuscitou para ser o Senhor dos vivos e dos mortos” (Rm. 14,8-9). E o fez realizando a reconciliação do gênero humano com o Seu Pai e nosso Pai.
Na sequência da tradição bíblica do perdão e levando-a ao seu pleno cumprimento, Jesus universaliza o sentido do próximo e estabelece o vínculo entre o perdão recebido e o perdão dado (cf. Mt 18, 21-35). São João Paulo II assim comenta o diálogo entre Jesus e Pedro: “Cristo sublinha com insistência a necessidade de perdoar aos outros. Quando Pedro lhe perguntou quantas vezes devia perdoar ao próximo, indicou-lhe o número simbólico de «setenta vezes sete», querendo desta forma indicar-lhe que deveria saber perdoar sempre a todos e a cada um”. (Dives in misericordia, n. 14).
A parábola que ilustra a resposta de Jesus a Pedro, coloca salienta o contraste hiperbólico entre a magnanimidade do senhor que perdoa uma soma incalculável representada pelos dez mil talentos (mais de dois bilhões de denários) e a mesquinhez do criado para com o companheiro que lhe devia apenas cem denários, ou seja, cem vezes o salário de um dia.
O exercício contínuo e generoso do perdão nos configura cada vez mais a Cristo, que “me amou e Se entregou por mim”. E nós confiamos este desejo à intercessão d’Aquela que não cessa de proclamar «a misericórdia, de geração em geração» e também a daqueles em que já se realizaram até ao fim as palavras do Sermão da Montanha, «Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (cfr. Id., n. 15).
Folheto: "O Povo de Deus"/Arquidiocese de brasília.
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