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Nas Sagradas Escrituras, contemplando a história de inúmeras famílias, nós temos acesso à revelação de Deus acerca da família e aprendemos que nós, seres humanos, devemos comunicar a beleza e a riqueza do relacionamento entre o homem e a mulher, entre pais e filhos. Aprendemos também que a família é a instituição que alicerça a vida na sociedade e, quando se reveste das características de uma Igreja doméstica, lugar de comunicação e de encontro com Deus, a família é manancial de vida, um saudável ambiente da vivência da fé e fonte de transmissão do mistério de Deus.
A primeira família que encontramos na Bíblia Sagrada é a de Adão e Eva, juntamente com seus dois filhos, Caim e Abel. Decisões não apropriadas, gestos de desamor e egoísmo e desencontros com a vontade de Deus se fizeram presentes neste primeiro ambiente familiar. Olhando o ambiente deste primeiro núcleo familiar, nós aprendemos que, quando o amor e a vontade de Deus não são acolhidos em nossos corações, a vida pode apresentar sinais de violência, de trevas e de morte. Por outro lado, salta diante de nossos olhos a certeza de que, diante da culpa, do pecado e do mal, brotam os rios da divina misericórdia que nos ajudam a descobrir a face amorosa do Pai. Ele nunca abandona o Seu povo, e assegura que, apesar de todas as dificuldades e sofrimentos, das tempestades e das pandemias, o bem sempre triunfa sobre o mal.
Outra família do Antigo Testamento que nos ajuda a compreender melhor a missão da família no cotidiano da história é a família de Abraão e Sara, que vivenciou o desafio da fé proposto pelo Deus vivo: ser pai de uma multidão e conduzir o povo de Deus à Terra prometida. Novas expectativas de vida, esperanças e, acima de tudo, o abandono nas mãos providentes de Deus foram os combustíveis que impulsionaram este caminho familiar da fé, da perseverança, da fortaleza e da coragem.
Olhando o ambiente dessa família patriarcal advinda de Abraão, nós percebemos a necessidade de ouvir o chamado de Deus e de corresponder à nossa vocação, caminhando pelas novas estradas do mundo com a consciência de que Deus está no meio de nós fazendo história, renovando nossa pertença à Igreja e impulsionando nossos ideais de santidade.
Percorrendo os livros da Sagrada Escritura, nós encontramos também a família de Moisés que, logo após o seu nascimento, foi salvo das águas para posteriormente proteger, guiar e libertar o povo de Deus da escravidão do Egito. Assim como a família de Moisés, a nossa família deve receber e transmitir os ensinamentos divinos. Deve também adorar, em espírito e verdade, o único e verdadeiro Deus que nos liberta de todas as prisões quando vivemos sem reserva o êxodo do pecado para a vida renovadora da graça.
No Novo Testamento, por meio dos ensinamentos transmitidos pelo Cristo, nós temos acesso à síntese da fé cristã e à comunicação eficaz de que a família é a Igreja doméstica, lugar de aprendizado da fé, dos bons hábitos, do diálogo, do acolhimento e da partilha. Igrejas domésticas são comunidades onde todos se preocupam com a salvação de todos, aprazíveis lugares de oração, de escuta da Palavra de Deus e de encontros por meio da fração do Pão. Igrejas domésticas são ambientes privilegiados de encontros na gratuidade do amor, espaços privilegiados, onde as distâncias são reduzidas e o acolhimento é realizado, evidenciando a gratidão e o entusiasmo dos laços familiares.
Um bom exemplo de boa conduta familiar no Novo Testamento nos é transmitido pela família de Zacarias e de Isabel, os pais de São João Batista, que expressam sinais de justiça e de fidelidade a toda prova. Já idosos, eles sentiam a falta de um filho, mas não lhes faltava a fé no Deus que torna o impossível possível. Pela fidelidade à fé, Deus lhes concedeu a graça de serem pais do profeta, que é o elo entre o Antigo e o Novo Testamento, o precursor do Cristo que preparou o caminho para o eficaz anúncio do Evangelho.
É sobretudo na Sagrada Família de Nazaré, em Jesus, Maria e José, que nós encontramos o modelo ideal de família que devemos almejar. Com a Sagrada Família, nós aprendemos as fecundas lições do lar, o valor do serviço ao próximo e a necessidade de fazermos memória das maravilhas que Deus realiza em nossa história. Aprendemos, acima de tudo, a amar, a perdoar, a ser generosos e disponíveis, e não fechados e egoístas. Aprendemos a ir além das nossas próprias necessidades, para encontrar outras pessoas, os pobres, os marginalizados e os excluídos, e a partilhar as nossas vidas com eles.
Nestes nossos tempos, onde as grandes transformações ocorridas na sociedade acarretam mudanças na estrutura familiar e geram questionamentos ao modelo de família instituído por Deus, cabe a nós o grato dever de professar que a família é e sempre será um lugar privilegiado para a evangelização e transmissão da fé e, por isso, a família cristã tem hoje um urgente campo de ação, principalmente para com as outras famílias não cristãs ou afastadas da prática religiosa, pois o fortalecimento de uma igreja santa e evangelizadora passa pela restauração da família como instituição básica para transmitir os sólidos valores humanos e cristãos.
Aloísio Parreiras
(Escritor e membro do Movimento de Emaús)
Arquidiocese de Brasília
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