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Inventar histórias e contá-las aos seus filhos ajuda-os a desenvolver a imaginação, a memória e o conhecimento. A seguir encontre algumas dicas para criar contos de fadas feitos sob medida e assim compartilhar um tempo precioso com seus filhos.
“Era uma vez um pequeno chimpanzé que tinha perdido a mãe… – Ah! e qual era o seu nome? – Hmm… Teófilo. – E por que ele se perdeu?” Que pai/mãe já se aventurou fora dos caminhos simples dos livros? Na verdade, não fazemos ideia de quanto as crianças adoram quando ouvem histórias inventadas.
De fato, essa atividade não é apenas um compartilhamento de tempo inestimável que ajuda a fortalecer o vínculo emocional. Nem é só um antídoto formidável para as telas.
Mas ela também é uma oportunidade de ouro para entrar em um diálogo educativo e construtivo. Isso longe das ordens do dia a dia como “tome a sua sopa”, “vá se arrumar”, “lave as mãos”, explicam Laure de Cazenove e Alice Le Guiffant, que escreveram um livro sobre o assunto.
Esse momento também pode ser uma boa oportunidade para construir uma história feita sob medida para cada criança, interagindo com elas. Assim, por meio dos altos e baixos da história, ela pode falar sobre seus medos, suas esperanças e suas fantasias, compartilhar seu mundo interior, sentir-se ouvida.
No entanto, muitas vezes, essa atividade é negligenciada pelos pais. Seja por falta de imaginação, tempo, desejo ou energia, por não saber como fazer, por medo de decepcionar ou entediar as crianças, existem mil e uma desculpas!
As inúmeras virtudes das histórias inventadas pelos pais
E por que inventar histórias, quando os livros estão cheios delas? “Nada impede você de ler histórias também, mas inventá-las tem vantagens que a leitura de livros, por mais maravilhosos que sejam, nunca vai trazer”, asseguram as autoras.
“Inventar uma história para uma criança, objetivando apenas estar com ela e a ela dar total atenção, é verdadeiramente um ato de amor, porque significa coloca-la como a pessoa mais importante daquele instante. Também falamos com o interior dela, pois o que oferecemos vem também do nosso interior”, do fundo do nosso coração e do nosso ser.
Assim, é um momento de cumplicidade importante, como confirma o depoimento de Jacques de Coulon. Filósofo e autor de numerosos livros sobre educação, este ex-reitor de uma importante escola na Suíça ficou profundamente marcado pela figura de seu avô, um notável contador de histórias.
Mundos fascinantes
“As crianças ficavam como que enfeitiçadas pela história. Ele falava devagar, com um tom de voz penetrante, gerando suspense. Lembro-me particularmente de uma história fascinante, que tinha a palavra “negro” voltando como uma ladainha: “Sob um céu negro, negro, negro, mergulhamos na floresta negra, negra, negra… até chegar em frente a um portão negro”. E assim por diante, até chegar nas pesadas cortinas negras por trás das quais se escondia um pássaro com resplandecente plumagem colorida. Era realmente impressionante. Claro, nem todo mundo tem o talento para contar histórias. Mas essa sensação que passa tanto pelo corpo quanto pelas emoções é insubstituível”.
Outro argumento de peso: “A criança que escuta uma história, brinca com ela sem esforço (nem precisa se adaptar ao ritmo de leitura do adulto, nem ler, nem decifrar a história). Ela familiariza-se com uma dinâmica que nutre o gosto pela leitura: a criação de hipóteses”, explica Laure de Cazenove.
Assim, a criança aprenderá a amar os livros como amigos e não como professores. Ouvir uma história, portanto, desenvolve a imaginação, aguça a reflexão, desperta a curiosidade, enriquece a personalidade, prepara inconscientemente as pessoas para estruturar seu pensamento e representar concretamente conceitos abstratos (coragem, bondade, justiça, amor, etc.).
Mas onde encontrar inspiração?
“Meu avô me deu o gosto pela leitura, mas ainda mais, sem dúvida, pela escuta”, concorda Jacques de Coulon. “A audição é um sentido muito poderoso, muito menos complexo do que a visão, por meio do qual forjamos nossas próprias imagens interiores”.
Por conseguinte, ao se sentir um pouco mais ator da história, sem o suporte de imagens ou de uma história pré-formatada, a criança assimila de forma diferente.
Mas o que é uma história? Basicamente, um problema a resolver (o enredo) que colocará em movimento todo um mecanismo.
De fato, o diagrama narrativo dos contos tradicionais – do tipo Grimm ou Andersen – é um diagrama comprovado. Ele oferece as melhores garantias: uma estrutura e personagens precisos, um elemento perturbador que serve como uma mola dramática (acidente, aparecimento de um monstro etc.), um elemento de resolução e um resultado.
Portanto, uma história é como um espelho da realidade, oferecendo toda uma gama de experiências e personagens arquetípicos (o astuto, o franco, o bravo, dentre outros).
Imaginação fértil
Ao contrário de muitos pais, inventar histórias nunca foi um problema para Alexandra, mãe de três filhos que agora são adolescentes. Nada poderia conter a imaginação fértil dessa amante do teatro.
“Que risadas memoráveis! Um dia, cansei de ler as mesmas histórias indefinidamente. Então fui em frente, inspirando-me no início em meus livros favoritos. Então comecei a bordar a minha própria história. Também aproveitei muito a oportunidade para lembrar o dia deles de forma vívida ou dissipar certos medos”.
E um terror noturno? “Contei uma história num ambiente de acampamento, usando minicenários de quadrinhos! Até hoje eles comentam sobre isso”. “Seja nas montanhas ou na floresta, uma história é um bom combustível para pés cansados”, acrescenta Marcos.
Momentos assim são o suficiente para ajudar as crianças a extrair delas mesmas os recursos para superar a frustração e o tédio.
“No entanto, existem dois pré-requisitos essenciais para um contador de histórias: tempo e observação”, continua Jacques de Coulon.
“Penso no meu avô, apaixonado pela natureza, que regularmente nos levava para observar a raposa e os pássaros com binóculos. A vida era mais simples, com mais momentos reservados à contemplação e ao devaneio. O mundo estava menos saturado de objetos que roubavam nossa atenção”.
Mas o que fazer para ganhar tempo em nossas agendas lotadas? Este é o verdadeiro desafio!
Como começar?
Primeiramente, é preferível recorrer ao repertório existente (tramas de livros, contos, desenhos animados, histórias bíblicas ou mitológicas).
Depois você pode contar a história oralmente, tornando-a sua, modificando o final ou um detalhe, acrescentando um personagem excêntrico, misturando várias histórias.
“Inventar é antes de tudo copiar”, explica Laure de Cazenove e Alice Le Guiffant. Outra recomendação: use expressões, imagens, rimas, poemas ou objetos infantis.
Na verdade, podemos também envolver as crianças (uma boa forma de as treinar para fazer descrições) fazendo-as desenhar três ou quatro imagens sobre as quais teremos que criar a história: uma nuvem, um castelo, um barco, um foguete, dentre outras.
Por fim, cabe a elas criar uma história com esses elementos!
Aleteia
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