Ir. Maria Laura Mainetti. Crédito: Diocese de Como |
Roma, 22 out. 20 / 11:03 am (ACI).- Enquanto a matávamos, “ela nos perdoava”, é o testemunho de Milena, a então adolescente que, com outras duas jovens, assassinou a irmã Maria Laura Mainetti em um ritual satânico há 20 anos.
A religiosa foi assassinada com 19 facadas na noite de 6 para 7 de junho de 2000, em Chiavenna, por três moças, duas de 17 anos e uma de 16, durante um rito satânico.
Enquanto morria, encontrou forças para rezar pelas jovens e perdoá-las. Esta informação foi revelada nos interrogatórios às assassinas, que disseram que Ir. Maria Laura disse antes de morrer: “Senhor, perdoa-lhes”.
A primeira ideia do assassinato não era 19 facadas, mas 18, seis cada uma pelo "número da besta" (666) de que fala o livro do Apocalipse.
Originalmente, o alvo do ritual satânico era um sacerdote, Mons. Ambrogio Balatti, que era o arcipreste de Chiavenna San Lorenzo. As jovens desistiram de matá-lo porque viram que ele era grande e isso as complicaria. Por isso, finalmente, decidiram matara a religiosa a quem vigiaram por vários meses, de acordo com um meio de comunicação local.
Em 6 de junho de 2000, a religiosa recebeu um telefonema no convento por volta das 23h50, em que uma jovem lhe pedia ajuda. Irmã Maria Laura informou ao arcipreste, Mons. Ambrogio, que ia encontrar a menina.
Conforme descreveu outro jornal local, o ataque começou com um golpe de tijolo na cabeça de Ir. Maria Laura e, durante o homicídio, tocavam algumas canções de Marilyn Manson, um polêmico músico norte-americano que tem entre seus álbuns um intitulado "Anticristo Superstar".
As jovens esfaquearam a religiosa com uma faca de cozinha depois de passar várias horas bebendo cerveja em um bar de uma pequena cidade.
Ambra Gianasso, Milena De Giambattista e Verónica Pietrobelli foram declaradas culpadas da morte e condenadas à prisão.
Alguns anos depois, saíram da prisão e participaram de programas de serviço comunitário. Agora, com novas identidades, puderam reconstruir suas vidas.
Ambra estudou direito na universidade, Verónica coordena uma creche, é casada e tem dois filhos, e Milena esteve em uma comunidade para viciados coordenada por Pe. Antonio Mazzi.
De fato, Pe. Mazzi disse que Milena "tem plena consciência do que fez e que ao mesmo tempo está arrependida e convicta de que pode renascer e se recuperar".
De acordo com a mídia local, Milena foi a única das três jovens que voltou uma vez a Chiavenna para ser testemunha no casamento de sua irmã, fato que gerou muitas polêmicas.
Por sua vez, os sobrinhos de Irmã Maria Laura, Stefano e Marcellina Mainetti, destacaram que a futura Beata perdoou suas assassinas e disseram que se unem “à oração e à memória de quem a amou”.
“O vazio que deixou em nossa família continua intransponível hoje. A memória dela vive em nossos corações. Foi uma pessoa acolhedora e devota, dedicou-se sem reservas aos outros. Deixou uma marca indelével na vida de todos aqueles que a conheceram”, disseram os filhos de Giovanni, irmão da religiosa.
Além disso, o Bispo de Como, Dom Alessandro Maggiolini destacou que “as pessoas simples já perceberam uma aura de santidade” e acrescentou que “não é por acaso que se entregam a Deus por intercessão desta vítima e que enfeitam o local do crime com flores frescas”.
Foi o que indicou Dom Maggiolini no prefácio do volume “Maria Laura Mainetti. A Irmã de Chiavenna”, escrita em 2005 por Ir. Beniamina Mariani, e que inclui vários testemunhos, como o de Milena.
Milena escreveu também à comunidade das religiosas de Chiavenna e reconheceu que “nós a enganamos com uma armadilha e depois a matamos e, enquanto fazíamos isso, ela nos perdava”.
“Eu só posso manter uma memória de amor dela. Além disso, isso me permitiu acreditar em algo que não é Deus nem Satanás, mas uma simples mulher que venceu o mal”, assinalou Milena, acrescentando que “agora encontro nela consolo e graça para suportar tudo. Sempre rezo e tenho certeza de que ela vai me ajudar a ser uma pessoa melhor”.
Por sua vez, a superiora geral da congregação, Ir. Ketty Hiriart-Urruty, disse em uma carta enviada a todas as irmãs da congregação para anunciar a morte de Ir. Maria Laura que, “da vida desta irmã brota um manancial, um jorro de vida evangélica”, e acrescentou que “este manancial nos fala da nossa consagração, da nossa vida ofertada à Trindade, do nosso desejo de nos identificarmos com Jesus Cristo, da nossa opção pelos mais pobres, das feridas da vida”.
“Isso nos leva às origens da Congregação. Demonstrou que o nosso carisma está vivo e é muito atual… Com este estilo de amor e de entrega, deu-se a si mesma, sem cálculos, exatamente como quem sabe que tudo o que possui é dom de amor, que deve ser compartilhado e fazer frutificar”, advertiu Ir. Ketty Hiriart-Urruty.
Entre os testemunhos das religiosas de sua Congregação, Ir. Beniamina Mariani destacou que “nutria uma predileção particular pelos jovens. Sentia-se à vontade com eles e gostava e sentia prazer nos encontros programados e nos casuais”. “Só Deus pode saber o quanto se sacrificou pelos jovens!”.
“Encontros, colóquios, acampamentos, jornadas mundiais da juventude, catequese, acompanhamento individual”.
Em um de seus escritos, Ir. Maria Laura Manietti rezou: “Dá-me os teus sentimentos, Jesus, os sentimentos das Bem-aventuranças: o pobre que se confia, se abandona, o filho que se sente amado, a aflição que é a participação na vida de Cristo e é salvação, a misericórdia, a benevolência, a pureza de corpo e coração, a humildade”.
Irmã Maria Laura, cujo primeiro nome era Teresina, nasceu em Colico, Lecco (Itália), em 20 de agosto de 1939.
No momento de sua morte era superiora da Comunidade das Filhas da Cruz, no Instituto Maria Imaculada de Chiavenna.
A Santa Sé promulgou o decreto de beatificação em 19 de junho.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.
ACI Digital
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