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quinta-feira, 29 de outubro de 2020

O relacionamento com Deus é gratuito, é uma relação de amizade

Papa Francisco | Capela Santa Marta
15 de maio de 2020

Introdução

Hoje é o Dia mundial da família. Oremos pelas famílias, para que o Espírito do Senhor, o espírito de amor, respeito e liberdade, possa crescer nas famílias.

Homilia

No Livro dos Atos dos Apóstolos vemos que na Igreja, no início, houve tempos de paz, como o diz tantas vezes: a Igreja crescia em paz e o Espírito do Senhor difundia-se (cf. At 9, 31); tempos de paz! Houve também tempos de perseguição, começando com a perseguição de Estêvão (cf. capp. 6-7); depois Paulo, perseguidor, convertido e em seguida também perseguido... Tempos de paz, tempos de perseguição, e houve também tempos de perturbação. Este é o tema da primeira Leitura de hoje: um período de perturbação (cf. At 15, 22-31). «Porquanto ouvimos que alguns que saíram dentre nós - os apóstolos escrevem aos cristãos que vieram do paganismo - ouvimos que alguns de nós, a quem não tínhamos dado incumbência alguma, viemos para vos perturbar - para vos perturbar - com discursos que transtornaram as vossas almas» (v. 24).

O que tinha acontecido? Aqueles cristãos que vieram dos pagãos acreditaram em Jesus Cristo, receberam o batismo e estavam felizes: receberam o Espírito Santo. Do paganismo para o cristianismo, sem qualquer etapa intermédia. Ao contrário, aqueles que eram chamados “judaizantes” alegavam que não se podia fazer assim. Se alguém era pagão, primeiro tinha que se tornar judeu, um bom judeu, e depois tornar-se cristão, para estar na linha da eleição do povo de Deus. E aqueles cristãos não compreendiam isto: “Mas como, nós somos cristãos de segunda classe? Não se pode passar diretamente do paganismo para o cristianismo? A ressurreição de Cristo não dissolveu a lei antiga, levando-a a uma plenitude ainda maior?”. Estavam perturbados e havia muitas discussões entre eles. E aqueles que o queriam eram pessoas que, com argumentos pastorais, teológicos e alguns até morais, afirmavam que não: que deviam dar aquele passo! E isto questionava a liberdade do Espírito Santo, até a gratuidade da ressurreição e da graça de Cristo. Eram metódicos. E também rígidos.

Deles, dos seus mestres, dos doutores da Lei, Jesus dizia: «Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, pois percorreis mares e terras para fazer um só prosélito; e, quando o conseguis, fazeis dele um filho do inferno duas vezes pior do que vós mesmos». Jesus diz mais ou menos isto no capítulo 23 de Mateus (cf. v. 15). Essas pessoas, que eram “ideológicas” mais do que “dogmáticas”, “ideológicas”, reduziam a Lei, o dogma, a uma ideologia: “Deve-se fazer isto, isso e aquilo”... Uma religião de prescrições, e com isto tiravam a liberdade do Espírito. E as pessoas que os seguiam eram rígidas, pessoas que não se sentiam à-vontade, que não conheciam a alegria do Evangelho. A perfeição do caminho para seguir Jesus era a rigidez: “Há que fazer isto, isso, aquilo...”. Essas pessoas, esses doutores “manipulavam” as consciências dos fiéis, e ou tornavam-se rígidos... ou iam embora.

Por esta razão, repito muitas vezes, a rigidez não é do Espírito bom, porque questiona a gratuidade da redenção, a gratuidade da ressurreição de Cristo. E isto é algo antigo: isto repete-se durante a história da Igreja. Pensemos nos pelagianos, nestes... nesses rígidos famosos. E também no nosso tempo vimos algumas organizações apostólicas que pareciam realmente bem constituídas, que funcionavam bem... mas todas rígidas, todas iguais umas às outras, e depois ficamos a saber da corrupção que havia dentro, até nos fundadores.

Onde há rigidez, não há Espírito de Deus, porque o Espírito de Deus é liberdade. E essas pessoas queriam dar passos, tirando a liberdade do Espírito de Deus e a gratuidade da redenção: “Para seres justificado, deves fazer isto, isso e aquilo...”. A justificação é gratuita. A morte e a ressurreição de Cristo são gratuitas. Não se pagam, não se compram: são um dom! E eles não queriam fazer isto.

O caminho [o modo de proceder] é bom: os apóstolos reúnem-se em concílio e no final escrevem uma carta que começa assim: «Na verdade, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais incumbência alguma» (At 15, 28), e conferem estas obrigações mais morais, de bom senso: não confundir o cristianismo com o paganismo, com a abstenção da carne oferecida aos ídolos, etc. E no final, os cristãos que estavam perturbados, reunidos em assembleia, receberam a carta e «quando a leram, alegraram-se pela exortação que ela infundia» (v. 31) . Da perturbação à alegria. O espírito de rigidez leva-nos sempre à perturbação: “Mas será que fiz bem isto? Não o fiz bem?”. O escrúpulo. O espírito de liberdade evangélica leva-vos à alegria, porque foi precisamente isto que Jesus fez com a sua ressurreição: Ele trouxe alegria! O relacionamento com Deus, a relação com Jesus não é assim, de “fazer coisas”: “Eu faço isto e tu dás-me aquilo”. Uma relação, digo eu - perdoai-me Senhor - comercial: não! É gratuito, tal como é gratuita a relação de Jesus com os discípulos. «Sois meus amigos» (Jo 15, 14). «Não vos chamo servos, chamo-vos amigos» (cf. v. 15). «Não fostes vós que me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi» (v. 16). Tal é a gratuidade!

Peçamos ao Senhor que nos ajude a discernir entre os frutos da gratuidade evangélica e os frutos da rigidez não evangélica, e que nos liberte de toda a perturbação daqueles que colocam a fé, a vida de fé sob as prescrições da casuística, as prescrições que não têm sentido. Refiro-me às prescrições que não têm sentido, não aos Mandamentos. Que nos liberte deste espírito de rigidez, o qual nos tira a liberdade.

Oração para fazer a Comunhão espiritual

As pessoas que não podem receber a Eucaristia, agora fazem a Comunhão espiritual

Ó meu Jesus, prostro-me aos vossos pés e ofereço-vos o arrependimento do meu coração contrito que mergulha no vosso coração e na vossa santa presença. Adoro-vos no Sacramento do vosso amor, a inefável Eucaristia. Desejo receber-vos na pobre morada que o meu coração vos oferece. À espera da felicidade da Comunhão sacramental, quero possuir-vos em espírito. Vinde a mim, ó meu Jesus, e que eu venha a Vós. Que o vosso amor possa inflamar todo o meu ser, na vida e na morte. Creio em Vós, espero em Vós, amo-vos. Assim seja!

L'Osservatore Romano

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF