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Redação (17/11/2020 21:03, 18/11/2020 13:02 Gaudium Press) A França, berço da ‘laicidade’, é também, neste momento, um campo de batalha sobre como esta deve ser interpretada. Evidentemente, aqueles menos favoráveis à religião entenderão (a laicidade) como a proibição de qualquer prática de culto que transcenda os limites do individual.
Parece que esta é a linha de interpretação de alguns jornalistas dedicados, nesses últimos dias, a ‘caçar’ qualquer manifestação de fé que façam os católicos no espaço público, após o decreto do segundo confinamento, pelo qual o governo fechou suas igrejas para as missas presenciais.
No domingo passado, houve manifestações em toda a França, pedindo que o governo voltasse a autorizar as missas presenciais. E, numa delas, em Rennes, ocorreu um fato que justifica os que afirmam que muitos meios de comunicação são agentes bastante ideológicos.
Em frente à catedral
Estavam os católicos reunidos em frente à Catedral de São Pedro, em Rennes, quando uma repórter do Quotidien se dirige aos jovens organizadores, que expressam seu desejo de respeitar as medidas de biossegurança, e – é claro – de fazer suas reivindicações.
https://twitter.com/i/status/1329098048081956866
Ela espera que mais pessoas cheguem e faz uma pergunta sugestiva: “O que é legal? O que não é?” Volta-se, então, para os policiais, e, já completamente fora de seu papel, afirma que “o ministro do interior queria que se autuasse, a partir deste fim de semana, os fieis que rezassem diante das igrejas”.
A excitação da repórter chega ao auge quando a multidão começa a rezar o Pai-Nosso: “Eles estão rezando!” Não há necessidade de mais provas, diziam os fariseus ante a declaração da divindade de Jesus.
“Então este é o tom da reivindicação? Para mim, trata-se de cantos religiosos”, insiste a senhora.
Nas redes sociais, a jornalista foi bastante criticada. Entre outras coisas, perguntaram-lhe se ela teria a mesma “valentia” com os muçulmanos que entoassem suas orações. Ou também se o que estava acontecendo na França era um volta à época da ditadura soviética.
“Jornalista, auxiliar de polícia?”, perguntava-se inclusive um jornalista de esquerda.
O debate sobre o papel orientador ou ideológico da mídia é global. Nos EUA, por exemplo, nas últimas eleições, muitos americanos não procuram estes ou aqueles meios de comunicação, mas escolhem-nos de acordo com sua tendência ou preferem informações alternativas. O papel da imprensa como difusora de informação veraz está sendo muito questionada, e, em muitas mentes, substituída pelos impulsionadores de uma agenda. Bem, talvez seja melhor, porque as máscaras caem e pode-se ver o rosto, sendo mais fácil decidir se agrada ou não.
A questão da laicidade
O assunto laicidade continua: cantos ou orações podem ser entoados em vias públicas? Para a jornalista-auxiliar de polícia isso é mais do que uma blasfêmia contra o dogma da laicidade.
No entanto, muitos pensam diferente, como Dom Xavier Malle, Bispo de Gap, esclarecendo que as procissões são permitidas nas ruas.
Mas o fanatismo já aparece por inteiro quando em Strasbourg, as autoridades proibiram até mesmo de “rezar em silêncio”. Não, não é brincadeira.
Ante essas situações, Grégor Puppinck, Doutor em Direito e Presidente do European Center for Law and Justice afirma: “Evidentemente, todas essas ordens (de nenhuma manifestação de fé na via pública) são ilegais. São ilegais, porque são contrárias às leis da República (em particular, à lei de 1905), aos direitos do homem (em particular, às liberdades de expressão e de religião), e, sobretudo, à lei de Deus (em particular, ao primeiro mandamento do decálogo)”.
Por enquanto, as autoridades governamentais passaram da prudência à ameaça e, em seguida, ao oferecimento de um diálogo. No país de Robespierre, elas são elegantes e eloquentes quando querem. Mas podem também ser violentas. A partida está interessante.
(Gaudium Press / Saul Castiblanco)
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