Editora Cléofas |
São João Paulo II, caríssimo amigo, eu lhe escrevo esta carta com o intuito de lhe agradecer os inúmeros conselhos, admoestações, carinhos e apreço que você demonstrou por mim, pelos jovens, pelas famílias e por toda a humanidade. Por saber corresponder, como poucos, à vontade de nosso Senhor Jesus Cristo, você passou pelo mundo fazendo o bem, distribuindo entusiasmo e demonstrando o caminho da santidade. Com você, eu aprendi a servir à Igreja com a alegria e a fé com que ela quer ser servida. Com você, eu aprendi a não ter medo de anunciar o Evangelho, a denunciar todos os atentados contra a vida e a acolher e a perdoar ao meu próximo.
São João Paulo II, amado amigo, com renovada emoção, hoje eu me recordo de que, nos inícios dos anos 90, eu ainda estava engatinhando no caminho da fé. Como uma criança, eu estava precisando de um pai que segurasse minhas mãos e me conduzisse em direção ao Rumo Certo. Eu estava carecendo de um pai que me acompanhasse em meus questionamentos de vida e nos meus questionamentos de fé. Dia feliz da minha vida foi aquele em que eu pude ouvir você me dizer: “Não tolerem que seus ideais cristãos sejam, como se diz nesta terra, fogo de palha. Combatam o bom combate da fé, do amor e da santidade”. Com essas palavras, você fez brotar no meu íntimo a mais pura vontade de ser sempre fiel no apostolado, na coerência cristã, na prática da santidade e no aprendizado da misericórdia e da caridade.
Admirando o seu amor e desvelo pela juventude, adentrei aos poucos e cada vez mais no conhecimento dos inúmeros presentes que você não se cansava de me ofertar. Em suas Encíclicas, Cartas Apostólicas, Exortações e Audiências, você sempre tinha uma frase, uma mensagem ou uma simples palavra que tocava e renovava o meu amor por nosso Redentor e pela Sua Igreja.
Estimado amigo, hoje, minha alma precisa lhe dizer que você está muito próximo do meu coração. De coração, eu lhe agradeço, de modo especial, por você ter me desafiado a vencer o medo de ser impopular por ser fiel à Boa Nova de Cristo. Agradeço-lhe também pela devoção mariana que você infundiu em minha espiritualidade. Com a sua preciosa ajuda, quando eu rezo o terço, entre uma dezena e outra do santo Rosário, tenho o bom costume de dizer essa jaculatória que aprendi de seus lábios: “Totus tuus ego sum!”. Como é bom poder meditar nessa jaculatória e adentrar profundamente os mistérios marianos da nossa fé!
Quero ainda lhe dizer que os seus sofrimentos e sua identificação com o Cristo sofredor me marcaram profundamente. A partir de seus ensinamentos sobre a dor, a doença e a morte eu passei a ver que, somente unido ao Cristo, eu poderei transformar o sofrimento em uma profunda oração. Tenho em minha carteira e em minha escrivaninha uma foto sua e, quando a vejo, eu me sinto tocado a não pôr limites à minha vida de oração e de identificação com o nosso Redentor.
Amado amigo, eu não pude conter as minhas lágrimas naquele Domingo de Páscoa de 2005, quando você tentou nos dar uma mensagem pascal, mas o som das suas palavras não se fez ouvir. Aprendi que, mais do que nunca, eu tinha que lhe emprestar a minha voz, as minhas palavras e o meu amor, para que você pudesse continuar professando aos jovens que é necessário que sejamos amigos do Amigo. Inspirado em seu amor pela juventude, eu continuo sentindo a necessidade de escrever palavras de conforto e de acolhimento aos fiéis cristãos, e em especial aos jovens, por meio de artigos, de poemas, de orações e até por meio de crônicas.
Amigo Wojtyla, porque você foi um constante companheiro em minha jornada da fé, eu procurei acompanhar os seus últimos dias aqui na terra com minhas orações. Recordo-me que aqueles dias foram marcados pela emoção e pelo reconhecimento de que, em Sua misericórdia, utilizando os mais modernos meios de comunicação, Deus me concedeu a graça de poder ouvir, ler, meditar e ponderar os ensinamentos de um santo.
Como um bom amigo, eu não poderia deixar de acompanhar e vivenciar, bem de perto, os seus últimos momentos. No dia de sua morte, eu estava na igreja mãe da Arquidiocese a que eu pertenço, rezando o santo Rosário em suas intenções. Naquele dia, junto aos jovens, casais, sacerdotes, seminaristas e inúmeros leigos, chorando, eu cantava com uma voz embargada que fluía do fundo da minha alma: “Chagas abertas. Oh, coração ferido. Sangue de Cristo, estás entre nós e o perigo!” Às 17:00h, iniciamos a celebração da Santa Missa, e pouco depois, no início da homilia, o Núncio-Apostólico que servia no meu país nos comunicou que você tinha acabado de falecer. Seguiram-se muitas e muitas emoções. Eu e outros amigos não parávamos de chorar e, no silêncio do nosso coração, entoávamos a Deus o nosso Te Deum, em agradecimento por Ele ter nos reunido naquela Comunhão Eucarística para agradecer o precioso dom de sua vida.
Hoje, prezado amigo, decorridos quinze anos de seu falecimento, eu o trato como um santo. Inúmeras vezes, eu recorro à sua poderosa intercessão, para que você me ajude a continuar descobrindo as maravilhas e as surpresas que o Cristo me concede em todos os momentos da minha vida. Renovo minha gratidão a Deus por ter nos dado, em sua pessoa, amigo Wojtyla, um atento pai e um precioso irmão que não mediu distâncias físicas para nos visitar. Saudoso amigo, seus ensinamentos e seu amor pelo nosso Redentor permanecem vivos em minha mente.
São João Paulo II, inestimável amigo, eu vou terminar estas lembranças solicitando a sua bênção. Abençoe-nos, santo amigo! Assim como você, eu quero colocar os meus dons e talentos a serviço da concretização do Reino de Deus. Assim como você, eu quero trabalhar, incansavelmente, no constante resgate dos jovens e de tantos outros batizados que estão afastados da Casa do Pai. Eu creio que, com sua poderosa intercessão, eu continuarei, nas pequenas e grandes coisas, vivenciando a fidelidade ao amor de Cristo! Um abraço!
Aloísio Parreiras
(Escritor e membro do Movimento de Emaús)
Arquidiocese de Brasília
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