Apologistas da Fé Católica |
• O milenarismo, Espera de um reino deste mundo, reino que seria
uma espécie de paraíso terrestre reencontrado, está, por definição mesma,
estreitamente ligado à noção de uma idade de ouro desaparecida. assim ele
existiu sobretudo entre os povos e nas religiões que afirmaram a existência de
um mundo auroral e perfeito tal como existia antes que o tempo ocorreu esse e a
história o aviltasse.
• No cristianismo, deve-se chamar de milenarismo a crença no
reino terrestre vindouro de Cristo e de seus eleitos — reino este que deve
durar mil anos, entendidos seja literalmente, seja simbolicamente. O advento do
milênio foi concebido como devendo situar-se entre uma primeira ressurreição —
a dos eleitos já mortos — e uma segunda — a de todos os outros homens na hora de
seu o julgamento. O milênio deve, portanto, intercalar-se entre o tempo da
história e a descida da Jerusalém Celeste. Dois períodos de provações irão
emquadrá-lo. o primeiro verá o reino do anticristo e as atribulações dos fiéis
de Jesus que, com este, triunfarão das forças do mal e estabeleceram o reino de
paz e de felicidade. O segundo, mais breve, verá uma nova liberação das forças
demoníacas, que serão vencidas no último combate.
• AS PROMESSAS DO ANTIGO TESTAMENTO
• Numerosos são os registros do antigo Testamento que anunciam
ao povo Judeu em perigo, perseguido ou humilhado, um futuro repleto de
felicidade. A prova final de Amós é esta:
• Naquele dia, levantarei a cabana arruinada de Davi. […] Eis
que vêm dias. Oráculo do Senhor, em que [ …] As montanhas fazem correr o mundo
e toda colina Jorra. Mudo o destino de Israel, meu povo: eles reconstroem as
cidades devastadas para nelas morar, plantam vinhas para beber seu vinho,
cultivam jardins para comer seus frutos; eu os planto em sua terra: eles não mais
serão arrancados da terra que deitei. [19,11-15]
• O mesmo final em oseias:
“Serei para Israel como o orvalho, ele florescerá como o lírio […]. Eles farão
reviver o trigo, florescerão como a vinha” (14, 6-8). Joel anuncia por sua vez:
“Naquela dia as montanhas farão escorrer vinho novo, as colinas farão jorrar
leite; em todos os riachos de Judá as águas correrão” (4,18).
• Zacarias, profetizando o que será “o dia do Senhor” assegura:
• Depois o Senhor meu Deus chegará, acompanhado de todos os seus
santos. Naquele dia, não haverá mais luminária, nem frio, nem gelo. Será um dia
único — o Senhor o conhece. Não haverá mais dia nem noite, mas na hora da noite
trabalhará a luz. […] Então o Senhor se mostrará o rei da terra. Naquele dia, o
senhor será o único e seu nome único. [14, 5-9]
• A literatura milenarismo Cristã estou esses textos. Porém,
mais ainda, recorreu a Isaías, de quem é necessário citar aqui alguns trechos
exaltantes:
• Acontecerá no futuro que a montanha do templo do Senhor estará
no cume das montanhas e dominará as colinas. Todas as nações afluirão para ela,
povos numerosos se colocaram em marcha ir dirão. “Vinde, subamos à montanha do
Senhor, ao templo do Deus de Jacó […]”. Ele será o juiz das nações, o árbitro
da multidão dos povos. De suas espadas eles formarão relhas de arado, e de suas
lanças, foices. uma nação não levantará mais a espada contra outra, elas não
serão mais arrastadas à guerra [2, 1-5]
• Um ramo brotará do tronco de Jessé […]. A justiça será o cinto
de seus quadris […]. Então o lobo habitará com o cordeiro, o leopardo se
deitará junto ao cabrito. O bezerro e o leãozinho serão alimentados juntos, um
menino pequeno os conduzirá. A vaca e a ursa terão o mesmo alimento, suas crias
o mesmo abrigo. O leão comerá forragem com o boi. A criança de peito brincará
junto ao ninho da cobra. Sobre a toca da víbora a criança pequena estender a
mão. Não se fará mal nem destruição na montanha Santa, pois a terra está
repleta do conhecimento do Senhor. [11, 1-9]
• Naquele dia, o Senhor, Deus do universo, preparará para todos
os povos, na montanha, um festin de carnes gordas e de vinhos capitosos, um
festin de carnes suculentas e vizinhos decantados. Retirará o réu de luto que
envolvia todos os povos e a mortalha que cobria todas as nações. Destruirá a
morte para sempre. O senhor enxugará as lágrimas em todos os rostos, e por toda
a terra apagará a humilhação do seu povo; porque o prometeu.. [25,6-9]
• É de fato no júbilo que partireis, e na paz que sereis
conduzidos. À vossa passagem, montanhas e Colinas iromperão em aclamações,
todas as árvores do campo baterão Palmas. No lugar do espinheiro crescerá o
cipreste, no lugar da urtiga crescerá a Murta… [55,12-3]
• E venho para reunir todas as nações de todas as línguas; elas
virão e verão minha glória […] Sim, como os céus novos e a terra nova que faço
permanecem firmes diante de mim — oráculo do Senhor —, assim permanecerão
firmes vossa descendência e vosso nome! E assim, de lua Nova em lua nova e de
Sabá em Sabá toda carne virá prosternar-se diante de mim, diz o Senhor.
[66,18-23]
• Essas profecias bíblicas fazem compreender como o milenarismo
cristão enraizou-se na espera vetero-testamentária que divisava no horizonte a
Vitória definitiva do Senhor, a regeneração completa de Israel e, ao mesmo
tempo, a paz e a felicidade estendidas na terra a todas as nações. Do mesmo
modo, Ezequiel sonhou com a cidade onde um dia haveria de se estabelecer sua
nação ressuscitada. Em sua visão, ele contempla a cidade do futuro onde seria
chamado a viver o povo dos tempos escatológicos. Sua descrição minuciosa do
tempo Novo (40-8) almejava ser uma evocação da cidade do futuro, cujo nome
seria “IHVH-Shamma”, isto é, “o Senhor está aí”. na documentação dos textos do
antigo Testamento que marcaram profundamente o quiliasmo cristão, é preciso dar
um destaque especial ao célebre sonho de Nabucodonosor que Daniel explicou ao
soberano:
• Tu, ó rei, observavas; e eis uma grande estátua. Essa estátua
era muito alta e seu esplendor extraordinário. Ela se erguia diante de ti e seu
aspecto era aterrador. Essa estátua tinha a cabeça de fino ouro, o peito e os
braços de prata, o ventre e as coxas de bronze, as pernas de ferro, os pés em
parte de ferro em parte de cerâmica. Tu observavas, quando uma pedra rolou da
montanha sem intervenção de mão alguma; bateu nos pés de ferro e de cerâmica da
estátua e os pulverizou. Então foram pulverizadas juntos o ferro, a cerâmica, o
bronze, a prata e o ouro; eles se tornaram como a palha que voa pelos ares no
verão: o vento os levou e deles mais nenhum traço se descobriu. Quanto à pedra
que havia atingido à estátua, tornou-se uma grande montanha e ocupou a terra
inteira [2,31-6]
• Daniel deu a Nabucodonosor a chave para compreender esse
sonho: a estátua composta de cinco materiais de valor decrescente simboliza os
“grandes reinos” que, sucessivamente, serão derrubados pela pedra rolada da
montanha. eles darão lugar a “um reino que jamais será destruído e cuja
soberania não passará a outro povo” (2,42). Os milenaristas cristãos de todos
os séculos incansavelmente comentaram esse texto de Daniel.
• A esperança vetero-testamentária de um reino messiânico
terrestre, que libertaria o povo eleito de seus perseguidores e asseguraria seu
triunfo e sua felicidade, fora expressa já antes de Jesus em especulações cifradas.
Daniel havia indicado o quê, nas provações que procedem o triunfo final, os
santos serão entregues às mãos de um rei ímpio, “durante um período, dois
períodos e um meio período”(7,25); que “setenta semanas” eram dadas ao povo e à
cidade santa para pôr fim à essas transgressões e para selar os pecados”
(9,24); enfim, que “a abominação da desolação” duraria 1290 dias e que a
resistência exigida dos fiéis seria de 1335 dias (12, 11-2).
• Quanto à focalização do número mil, ela se explica por uma
convergência de influências e de textos. O salmo 90 (89), no versículo 4,
afirma: “Senhor […], Mil anos, a teus olhos, são como contém; um dia passa como
uma hora da noite”. Por muito tempo, aliás, a tradução mais habitual foi “mil
anos são como um dia”. Todavia, a divisão das épocas do mundo em milênios de
anos parece ter sido estranha ao antigo testamento, que calculava o tempo em
semanas de semanas — os jubileus. A origem dos milênios se situaria na
Babilônia no Irã. O primeiro texto em que eles são evocados é precisamente o
livro dos jubileus, IV, 29-31 (anterior a 100 A.C.), onde se escreve: Adão
morreu 70 anos antes de ter atingido 1000 anos. Pois mil anos são como um dia
no céu; e isto por causa do que está escrito acerca da árvore do conhecimento:
“no dia em que dela comeres, morrerás”. Por essa razão, Adão morreu antes de
ter completado quantos anos desse dia, portanto aos 930 anos. Essa argumentação
reaparecerá textualmente em Justino e Irineu.
• Delumeau, Jean, Mil anos de felicidade, São Paulo, companhia
das Letras, 1997.
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