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quinta-feira, 12 de novembro de 2020

O ponto exclamativo

Vatican Media
Cartas do Diretor
25 agosto 2020

Há alguns dias li no perfil de Facebook a afirmação de uma competente colega jornalista que dizia que não suportava os pontos de exclamação: «Cheguei a tirá-los do teclado do meu computador». A frase terminava, compreensivelmente, sem o ponto de exclamação. Esta afirmação fez-me pensar. E os meus pensamentos chegaram a duas conclusões, opostas entre si, por vezes pode acontecer. A primeira conclusão é a seguinte: bem dito, cara colega! (ups) Chega com estas contínuas exclamações, não há nada a enfatizar, um pouco de sobriedade não nos faria mal. Com efeito, precisamos de uma abordagem mais calma, mais “laica”, diria, menos retórica, sim, é verdade, a exclamação parece-se tanto com propaganda! (ups novamente). Olhai para as publicidades, não acabam todas com grandes pontos de exclamação? Não querem elas convencer-nos, manipular-nos, tornar-nos todos nós consumidores? E aqui joguei o ás do ponto de interrogação, grande antagonista do seu colega de exclamação. Sim, disse a mim mesmo, uma vida feita de perguntas é muito mais verdadeira, mais honesta e também saudável, porque leva à dúvida, «um dos nomes da inteligência» segundo Borges, e portanto ao diálogo, no fundo ao desarmamento e à paz. “Entusiasmei-me” muito com esta minha reflexão, estaria pronto a discutir, até a argumentar para defender esta conclusão a que tinha chegado graças à postagem da minha colega.

A segunda conclusão chegou mais tarde, e parece exatamente o contrário. Sim, está bem, a pergunta é boa, mas se vivêssemos unicamente de perguntas, que vida seria? E se não houvesse descoberta alguma? Afinal, a exclamação nasce da admiração, da maravilha, da alegria de uma descoberta... mas será que se pode viver sem esta explosão? Nem sempre, mas pelo menos de vez em quando. Abolir o ponto de exclamação, chegando a tirá-lo do nosso teclado, da nossa linguagem, parece um pouco exagerado, diria quase ideológico, e não é exatamente assim?

E depois o pensamento continuava a fazer floreios: é bonito o sinal do ponto de interrogação, tão refinado, articulado, um pouco barroco com aquele caracol que se enrola em espiral de forma quase infinita. Ao contrário, como é simples o ponto de exclamação, simples, simplório, até banal, arrogante na sua ignorância que evita qualquer complexidade, a qual aliás é o verdadeiro caráter da existência.

Muito bem, mas para mim o sinal do ponto de interrogação traz-me à mente o homo curvatus do qual Santo Agostinho fala. O homem que olha para si mesmo, para o seu umbigo, o homem que portanto não é simples. Uma palavra hoje quase perigosa, que do ponto de vista etimológico, indica precisamente quem não tem «implicações» nem «complicações». O homem simples é o oposto do homem que sofre de narcisismo, enquanto que a verdadeira simplicidade é marcada pelo ser nós mesmos, permanecendo tensos unicamente para o outro. Uma coisa é estar tenso, outra é ser rígido, o ponto de exclamação é tenso, está em tensão, enquanto que a interrogação pode perder a sua força e enrijecer num labirinto incrustado de insensatez, sem qualquer rumo.

A 12 de setembro de 2006, durante a homilia, Bento xvi perguntava-se: «Que significa crer?», e respondeu que a fé «no seu núcleo é muito simples. Com efeito, o Senhor fala acerca disto com o Pai, dizendo: “Quiseste revelar estas coisas aos simples” — aos que são capazes de ver com o coração (cf. Mt 11, 25). [...] E a fé é amor, porque o amor de Deus nos quer “contagiar”».

Assim, é preciso ter cuidado para não confundir simplicidade com simplificação. Esta última tem a ver com o uso errado do ponto de exclamação, aquele que me levou à minha primeira conclusão. Hoje em dia a simplificação está muito na moda e com pontos de exclamação corremos o risco de “nos armar”, a nós mesmos e aos outros, para enfrentar a vida como uma guerra na qual temos de saber gritar mais alto para nos afirmarmos, para vencer. Mas tudo isto não pode levar à abolição da exclamação, que ao contrário é um sinal de surpresa e, portanto, de alegria. Com efeito, a descontração da exclamação consiste precisamente no soltar-se, no relaxar-se e no expandir-se, de forma luminosa e acolhedora, próprio do amor, como disse Bento, que dissipa todas as dúvidas, todas as interrogações. Não é verdade?

Andrea Monda

L'Osservatore Romano

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF