EAST NEWS |
Que as palavras dos três recentes sucessores de Pedro nos anime a seguir as pegadas de Charles de Foucauld, hoje e sempre.
Este artigo traz alguns pronunciamentos dos três Papas recentes sobre Charles de Foucauld (1858-1916) – celebrado em 1º de dezembro – que deverá ser, em breve, canonizado.
João Paulo II
São João Paulo II assim se dirigia às Irmãzinhas de Jesus, em 16 de setembro de 1979: “Como o Irmão Charles de Jesus, vós consagrais longos momentos à oração, silenciosa e desinteressada, frequentemente diante do Santíssimo Sacramento, e rezais com quem vos rodeia. Sede, diante do Salvador — na adoração, no louvor ou na intercessão — as embaixatrizes destes irmãos e irmãs, dos seus desejos e das suas necessidades. É a característica da vossa oração, aquilo que lhe dá toda a sua força” (Discurso de João Paulo II às Irmãzinhas de Jesus, 16/09/1979, online).
No centenário de sua ordenação sacerdotal, o Santo Pontífice escrevia ao bispo de Viviers: “Enquanto dou graças pelo testemunho do Padre Charles de Foucauld, encorajo todas as pessoas que hoje se inspiram no seu carisma, a continuar o seu apostolado numa unidade cada vez maior entre os diferentes Institutos, e a seguir, com generosidade e audácia, a sua mensagem e o seu exemplo. […] Fiéis à Eucaristia, eles estarão próximos de todos os homens e serão capazes de amar à maneira de Jesus. Fiéis ao seu compromisso junto dos pobres, hão de testemunhar o amor de Deus, lançando ‘na história aqueles germens do Reino de Deus, que foram visíveis na vida terrena de Jesus, ao acolher a quantos recorriam a Ele para todas as necessidades espirituais e materiais” (Carta de 8 de Abril de 1905, ao Abade Caron, 49).
Bento XVI
Bento XVI afirmava, dois anos depois, aos Bispos da Conferência Episcopal do Norte da África: “O encontro fraterno dos homens e das mulheres entre os quais viveis é um dos temas que vos apraz desenvolver para expressar a missão da Igreja na vossa região. Nesta perspectiva, encorajo-vos vivamente a guiar os fiéis para um encontro autêntico com o Senhor, que os guia ao encontro dos seus irmãos e irmãs, ele que já está misteriosamente presente no coração de cada um e na busca que cada homem faz da verdade e do bem-estar (cf. Ad gentes, 11). Para esta finalidade, como a viveu intensamente o Padre Charles de Foucauld, que as vossas Igrejas diocesanas tiveram a alegria de ver beatificado há alguns meses, possa a Eucaristia ser o centro da vida das vossas comunidades. De fato, tanto na celebração deste grande mistério como na adoração eucarística, que são atos de encontro pessoal com o Senhor, amadurece um acolhimento profundo e verdadeiro do aspecto da missão que consiste em abater as barreiras entre o Senhor e nós, assim como as que nos separam uns dos outros” (9/6/2007, online).
Papa Francisco
O Santo Padre, o Papa Francisco tem se referido, sempre que possível, ao Beato Charles de Foucauld com grande apreço e devoção. Na sua encíclica Fratelli Tutti, n. 286-287, voltou a relembrar o eremita do Saara ao escrever: “quero terminar lembrando uma outra pessoa de profunda fé, que, a partir da sua intensa experiência de Deus, realizou um caminho de transformação até se sentir irmão de todos. Refiro-me ao Beato Carlos de Foucauld. O seu ideal duma entrega total a Deus encaminhou-o para uma identificação com os últimos, os mais abandonados no interior do deserto africano. Naquele contexto, afloravam os seus desejos de sentir todo o ser humano como um irmão, e pedia a um amigo: ‘Peça a Deus que eu seja realmente o irmão de todos’. Enfim queria ser ‘o irmão universal’. Mas somente identificando-se com os últimos é que chegou a ser irmão de todos. Que Deus inspire este ideal a cada um de nós. Amém”.
Que as palavras dos três recentes sucessores de Pedro nos anime a seguir as pegadas de Charles de Foucauld, hoje e sempre, a fim de que, por meio da oração e da acolhida, sejamos sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13).
Quem foi Charles de Foucauld?
Seus filhos e filhas espirituais estão espalhados pelo mundo em muitas ramificações.
Charles de Foucauld foi um eremita (monge solitário) que morreu assassinado por um adolescente, no dia 1º de dezembro de 1916, em Tamanrasset, região do Saara, na Argélia. Sua beatificação se deu, no dia 13 de novembro de 2005, em Roma.
Nasceu ele, em Estrasburgo, na França, no dia 15 de setembro de 1858, em um lar católico e abastado, mas aos 6 anos perdeu o pai e a mãe no prazo de 6 meses. O avô materno o acolheu e educou. Embora tímido, era inteligente e apaixonado pela leitura.
Entre os 15 e 16 anos, perdeu a fé e passou 12 anos imerso na busca de prazeres efêmeros. Aos 20 anos, tornou-se militar em Saint-Cyr, mas sua permanência aí durou apenas 6 meses. Apesar de continuar apaixonado pelos estudos e um tanto propenso à vida militar, era boêmio. Chegou a ter uma jovem como amante, embora ele a apresentasse como sua legítima esposa.
Em 1830, a França moveu uma guerra de conquista na Argélia. Foucauld foi e, contra a disciplina militar, levou a amante. Devido a essas e outras insubordinações, o comandante o mandou de volta para a França. Ele obedeceu, mas, apaixonado pelo risco e pela aventura, solicitou e foi aceito em outro Regimento, no Sul da Argélia, onde deveria ajudar a apaziguar uma rebelião dos habitantes da região. Nessa expedição, se apaixonou pela África. Ela parecia a terra apropriada a um geógrafo como ele. Pediu, então, dispensa definitiva do Exército a fim de, disfarçado de rabino, tornar-se explorador do Marrocos. Sua obra Reconnaissance au Maroc o fez ganhar a medalha de ouro da Sociedade Geográfica de Paris, em 1885, quando tinha apenas 27 anos. Continuou, no entanto, firme no estudo da língua e dos costumes árabes, pois muito o impressionaram. Queria, de novo, encontrar a Deus e pensou até em fazer-se muçulmano
Contudo, nessa época, mais precisamente em 1886, ouviu falar no Padre Huvelin, de Paris, a quem ele procurou a fim de debater sobre religião, mas, na mesma hora em que encontrou o sacerdote, se confessou e comungou. Firme na fé e na moral católica, por um conselho do padre que o atendera, em 1888, embarcou, em peregrinação, à Terra Santa. Lá, Nazaré o encantou. Afinal, ali Cristo viveu por 30 anos na oração, no silêncio e no trabalho manual. Quis, então, tornar-se monge.
Sob a orientação segura do Padre Huvelin, ingressou na Trapa, Ordem de vida austera nascida, na França do século XVI, e aprovada pelo Papa Leão XIII, no século XIX. Aí habitou até 1897. Nesse ano, saiu a fim de viver uma vida simples, pobre, recolhida, orante e trabalhadora como foi a de Jesus em Nazaré. Voltou à Terra Santa e se empregou em um mosteiro de monjas clarissas. Morava numa choupana muito modesta. Veio-lhe à mente o desejo de ser eremita. Padre Huvelin aprovou.
Em 1901, voltou, então, à França e, após a devida preparação, no mosteiro de Notre-Dame des Neiges, foi ordenado sacerdote para a Diocese francesa de Viviers, mas com licença de morar na África. Como eremita-sacerdote, tentou evangelizar por meio do exemplo e da caridade. Lia, meditava e traduzia os Evangelhos para os tuaregues da região, compunha dicionários, denunciava, com ardor, a escravidão reinante, celebrava a Santa Missa, recitava a Liturgia das Horas, passava tempos em adoração a Jesus Eucarístico, rezava o Rosário, praticava a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e atendia até 100 pessoas (a maioria pobres e militares franceses) que, diariamente, o procuravam. Manteve-se fiel à Igreja na obediência ao Bispo e ao Padre Huvelin, seu diretor espiritual.
Em 1º de dezembro de 1916, um grupo de rebeldes atacou o eremitério em que ele vivia a fim de fazê-lo refém e um adolescente do grupo rebelde o assassinou. Foi beatificado (passo anterior à canonização), em 13 de novembro de 2005, em Roma. Sua memória é celebrada em 1º de dezembro. Seus filhos e filhas espirituais estão espalhados pelo mundo em muitas ramificações que tentam, com a graça de Deus, seguir o exemplo de fé, oração, trabalho, estudo, simplicidade, caridade e muito amor à Igreja como ensinou Charles de Foucauld, o penitente, místico e apostólico eremita do Saara.
Aleteia
Nenhum comentário:
Postar um comentário