Dom José Aparecido ADM. APOST. ARQUIDIOCESE DE BRASÍLIA |
ALEGRAI-VOS E EXULTAI…
Inicialmente, a tradição bíblica reservou o título de “Santo” somente a Deus. Mas em toda a história de Israel, Javé gosta de ser chamado o Santo de Israel “Porque eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador” (Is 43,3). A santidade de Deus suscita um santo temor. Contudo, o Seu desígnio de salvação ao eleger Israel comportou o sonho de comunicar a Sua santidade ao povo, o qual se torna um povo santo, diferente de todos os povos, porque caminha na Sua presença.
No Novo Testamento as promessas messiânicas se cumprem. Pelo mistério da redenção e a comunicação do Espírito Santo, os discípulos passam a ser chamados “santos”, tal era a convicção de que a graça comunicada no batismo é a semente de santidade a que todos os povos são chamados.
A primeira Leitura (Ap7,2-4.9-14) nos apresenta “a multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar”. O sinal na fronte e as vestes cândidas são uma clara alusão ao batismo pelo qual Deus imprime em nós a marca da Sua santidade, o selo de que pertencemos a Cristo. A santidade humana nada mais é do que a maturação da graça concedida no batismo. Os santos que a Igreja festeja hoje – não só os canonizados – são aqueles que procuram “com o auxilio de Deus, manter e aperfeiçoar, durante a vida, a santidade recebida no batismo” (Lumen gentium, 40). Para alcançar a glória, todos passam pela grande tribulação, passam pelo mistério redentor da Cruz, associando-se à Paixão Redentora de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Na segunda Leitura o Apóstolo do amor nos ajuda a compreender que a santidade comunicada pela graça de Deus se traduz em termos de filiação: Deus nos quis filhos Seus: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus!”. E completa radiante: “E nós o somos!” (I Jo 3,1). E vibra ainda mais ao falar da visão beatífica do rosto de Jesus: “seremos semelhantes a Ele porque o veremos como Ele é” (v.2). Trata-se da glória comunicada pelo fulgor infinito da Trindade Beatíssima.
No Evangelho de São Mateus, o próprio Jesus fala do céu que deve começar na terra: as Bem-Aventuranças. A santidade já não é vista como no Antigo Testamento como a separação, a absoluta alteridade… é a partir da vida comum, das circunstâncias concretas da vida presente, especialmente as árduas e dolorosas – como a perseguição por causa da fé –que vêm a ser remidas. O Papa Francisco assim nos exorta a partir da última Bem-Aventurança: “«Alegrai-vos e exultai » (Mt 5, 12), diz Jesus a quantos são perseguidos ou humilhados por causa d’Ele. O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados. Quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa” (Gaudete et exsultate, n.1). É muito estimulante e consolador comentário que a partir do n. 63 o Santo Padre faz das Bem-Aventuranças após falar dos obstáculos à santidade.
O louvor que a Igreja hoje eleva à santidade de Deus manifestada na vida dos Seus santos, refulge na Virgem Maria e nos impele a participar dessa grande aventura do amor de Deus por nós.
Folheto: "O Povo de Deus" | Arquidiocese de Brasília
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