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Redação (29/10/2020 08:38, Gaudium Press) Temos visto como, aos poucos, as rigorosas leis acerca dos cuidados sanitários contra a Covid-19 – aliás, indispensáveis – têm sido mitigadas em diversos países. Passados muitos meses, quase um ano, desde que o vírus começou a fazer seus estragos na saúde corporal, psicológica e espiritual, pode-se comprovar, com infelicidade, o descaso sacramental em que muitos fieis se encontram.
Embora devesse ser o contrário, o adensamento do caos mundial concorreu em larga medida para isto: a soma de ocorrências telúricas, escândalos financeiros e muito silêncio por parte daqueles que devem apontar os rumos dos fatos, cada cristão confessa estar “desnorteado”. Muitos se perguntam: “Em que direções da rosa dos ventos estará carregado os céus?!
No entanto, o que causa realmente perplexidade é constatar que, ou há uma incidência de fatos muito casual, ou é-se levado a crer haver rumos bem delineados, cujo rabisco, embora traçado no papel da Providência, é feito pelo homem.
As igrejas, desde há muito tempo não cheias, terminam de se esvaziar. Contudo, só pode entrar nelas o vírus: talvez seja ele a “expressão da catolicidade atual”.
Estaremos, pois, diante de um “vírus católico”?
Num outro viés, amadurece a ideia de desordem comum, preparatória do “advento duma República Universal, baseada nos princípios da igualdade absoluta dos homens e na comunhão dos bens, da qual seja banida qualquer distinção de nacionalidades e que não reconhece nem a autoridade do pai sobre os filhos, nem a do poder público sobre os cidadãos, nem a de Deus sobre a sociedade humana. Postas em prática, tais teorias devem desencadear um regime de inaudito terror”…[1]
Estaria sendo desbancada a autoridade suprema de nosso Senhor Jesus Cristo da face da terra? E, portanto, posto em xeque o sentido do pecado e a gravidade da ofensa a Deus?
Cabe ressaltar que quem realmente dita os acontecimentos e detém o timão da História são os justos; são eles que têm suplicado a Deus a implantação da verdadeira ordem das coisas. E, assim, como para deixar algo limpo, é necessário, antes, esfregar muito, a Providência parece estar esfregando muitas consciências, apontando para a autoridade verdadeira, a única capaz de deixar limpo um mundo, helás, imundo.
Com muito estro e precisão, afirmou certo autor: “Cada época é salva pelo santo que mais a contradiz”.[2]
De fato, os bons remédios são com frequência amargos na boca, mas curam. Se Santa Catarina de Siena, por exemplo, tivesse preferido ser doce, quando de suas repreensivas cartas a Gregório XI, os destinos da barca de Pedro teriam ido à deriva. Embora as circunstâncias, em nada, depusessem em favor da Mantellata[3], ela foi de uma severidade e rigor implacáveis – “em certos casos, a única forma de amar os homens é revestir de aço a alma mais delicada e feri-los em cheio no rosto”.[4]
Os santos são, pois, a verdadeira autoridade. Saibamos reconhecê-los, e não estaremos sujeitos a algum vírus universal, afastados de Cristo e de sua Igreja. Caso contrário, nos entregaremos a um novo regime de “inaudito terror”, como apontado por Bento XV.
Por Bonifácio Silvestre
[1] Bento XV, Motu proprio Bonum Sane de 25 de julho de 1920. Disponível em: http://www.vatican.va/content/benedict-xv/it/motu_proprio/documents/hf_ben-xv_motu-proprio_19200725_bonum-sane.html
[2] G. K. Chesterton. Suplementos Vida Nueva, nº. 1917, 23 de outubro de 1993.
[3] Por andar vestida de branca com uma capa negra, os italianos apelidaram a Santa Catarina de Siena de la mantellata.
[4] ROPS. Daniel. A igreja da Renascença e da Reforma (II A Reforma Católica). São Paulo: Quadrante, 1996, p. 20.
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