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terça-feira, 15 de dezembro de 2020

As raízes católicas do panetone

Brent Hofacker | Shutterstock
por V. M. Traverso

O surgimento do bolo especial remonta a um chef que servia um Papa da era renascentista e a um internato católico do século 16.

O panetone é uma daquelas coisas que lembram o Natal. Em muitos países, por exemplo, as pessoas podam árvores, celebram com canções de Natal e criam presépios para anunciar a vinda do menino Jesus.

Mas para os italianos, o Natal não seria o mesmo sem o panetone, o icônico bolo de Natal em forma de cúpula. Datado da época romana, este bolo de pão doce e macio originalmente recheado com passas, nozes e frutas cristalizadas deve muito do seu desenvolvimento a figuras católicas.

Sabemos por evidências históricas que, para suas celebrações, os antigos romanos costumavam assar um tipo de pão fermentado (panem triticum) com ovos, mel e passas. Mas só no Renascimento é que temos a prova de uma receita de panetone semelhante à das confeitarias contemporâneas.

Livros de receitas do século XVI de Bartolomeo Scappi, um chef que servia o Papa Pio V, mostram que um bolo de pão recheado com passas fazia parte do menu que ele preparava para o chefe da Igreja. Além disso, o panetone também aparece em uma pintura do século 16 de Pieter Brueghel, o Velho.

As lendas sobre o panetone

Portanto, graças a essas pistas, sabemos que um ancestral do panetone de hoje era comum durante o Renascimento. Mas quando ele se tornou, de fato, um bolo de Natal? Tal como acontece com muitos alimentos icônicos, surgiram lendas e mitos sobre a origem do panetone como bolo de Natal.

A lenda mais popular diz que o panetone foi inventado numa véspera de Natal do século 15 na corte de Ludovico il Moro, em Milão. O chef preparou um pudim de Natal, mas a especiaria queimou no forno. No entanto, um padeiro chamado Toni salvou o jantar graças à sua engenhosidade. Ele, então, decidiu rechear um pão com passas, açúcar e nozes. Ludovico il Morolik gostou tanto do pão que o chamou de “Pan de Toni” (pão de Toni).

Verdadeira ou não, a lenda parece estar enraizada em alguma realidade. Graças aos registros mantidos por um internato católico, a escola Borromeo de Pavia, sabemos que por volta de 1500 o panetone se tornou uma tradição de Natal.

Fundado pelo cardeal milanês Saint Carlo Borromeo em 1561 e definido como “o palácio do conhecimento” pelo historiador da arte Giorgio Vasari, o Borromeo College recebia estudantes promissores de origens pobres. Os alunos eram hospedados e treinados por padres e professores católicos e muitos teólogos notáveis, médicos e advogados graduados nesta escola. Os registros meticulosos mostram que em 1599 a escola servia aos alunos um “pão de Natal” feito com manteiga, passas e especiarias.

Tradição natalina

Além disso, registros que datam do século 16 mostram que os padeiros milaneses costumavam fazer panetones nas semanas anteriores ao Natal. Rompendo o hábito tradicional de assar pão branco para clientes ricos e pão de milheto para os mais pobres, o panetone ia tanto para ricos quanto para pobres.

Durante o século 18, o panetone se tornou uma tradição natalina em Milão. Mas foi só na década de 1920 que o famoso bolo ganhou sua atual aparência em forma de cúpula. Devemos isso ao padeiro milanês Angelo Motta, membro da Ordem Eqüestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, que imitou o kulic, um bolo tradicional russo geralmente feito para a Páscoa.

Hoje, os italianos compram cerca de 54 milhões de panetones durante as férias. O Papa Francisco se tornou um fã da tradição. Desde o início de seu papado, em 2013, ele recebe um panetone especial, criado para o papa pelo chef siciliano Nicola Fiasconaro. O bolo é feito com o “maná” a famosa substância bíblica.

Aleteia

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF