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Quando pensamos em “papas”, geralmente nos vem à mente a imagem homens brancos. De fato, a realidade dos últimos séculos confirma esse imaginário.
Mas nem sempre foi assim. Nos primeiros séculos da cristandade, foram eleitos três papas africanos:
- São Victor I, o 14º papa, no século II;
- São Miltíades, o 32º papa, no século IV;
- São Gelásio, o 49º papa, no século V.
São Victor nasceu no norte da África, enquanto São Miltíades e São Gelásio nasceram em Roma, tendo pais africanos.
Algum desses três papas era negro? É possível, mas não há como ter certeza. Afinal, os territórios do Império Romano na África eram um mosaico de etnias.
Qual a razão de o último papa africano ter sido eleito no século V? O primeiro fator é que o catolicismo foi praticamente banido da África em meados no século V. Foi quando a tribo germânica dos vândalos invadiu o Norte da África e estabeleceu ali o seu reino.
Depois, durante o período de dominação bizantina do papado – o chamado Papado Bizantino, entre os anos 537 e 752 –, subiram ao trono de Pedro mais de trinta papas do Oriente. Eles eram católicos de língua grega, e eram indicados pelo Imperador bizantino. Muito provavelmente, tinham a pele mais escura.
Desde então, praticamente todos os papas eleitos foram europeus ocidentais. O motivo não tem nada a ver com questões raciais, mas sim com geografia e política. Vamos explicar...
Os papas eram muitas vezes eleitos por aclamação popular: o povão nas ruas de Roma e começava a gritar o nome de algum favorito. Com esse método, era impossível que elegessem algum cristão que fosse de algum país longínquo.
Também havia a eleição papal por meio do sínodo de bispos, que geralmente só envolvia alguns bispos das regiões próximas. Novamente, era quase impossível que algum cristão não europeu fosse eleito, já que eles só votavam naqueles que conheciam – e não tinham internet para conhecer o trabalho dos bispos de países distantes.
O primeiro papa eleito por um conclave (reunião fechada de cardeais, numa sala fechada “com chave”) foi Celestino IV, em 1241.
A ideia do conclave é que todos os cardeais votantes participassem da eleição de cada novo pontífice. Mas, na prática, a grande demora no deslocamento (não existia avião) impedia que os cardeais de países longínquos chegassem a Roma a tempo.
Com isso, a imensa maioria dos papas eram italianos (brancos), e alguns poucos eram de países vizinhos. Pois somente os cardeais da Itália e adjacências efetivamente compareciam aos conclaves.
Isso sem falar do período em que famílias poderosas de Roma dominavam o andamento das eleições papais (saiba mais no nosso livro "As Verdades que nunca te contaram sobre a Igreja Católica"). Não tinha como o papa não ser italiano!
Nos séculos X e XI alguns alemães se tornaram vigários de Cristo, devido à influência do Imperador Sacro Império Romano Germânico.
A combinação de todos esses fatores deu esse resultado: dos mais de 260 papas já eleitos, 217 foram italianos.
O Papa Francisco, argentino, foi o primeiro papa das Américas. E, apesar da grande influência dos Estados Unidos em Roma, nenhum prelado estadunidense subiu ao trono de Pedro até hoje.
Para vocês terem uma ideia mais clara do “problema”: em 1922, dois cardeais americanos ficaram muito aborrecidos por terem viajado em vão até o Vaticano: William O’Connell, de Boston, e Dennis Dougherty, da Filadélfia. Eles não conseguiram chegar a tempo no conclave que elegeu Pio XI.
Essa situação levou Pio XI a mudar as regras do conclave, para garantir que os cardeais de países de fora da Europa tivessem mais tempo para viajar e participar da votação.
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