S. Gregório de Nissa Veritatis Splendor |
Para o monge Olímpio:
Introdução
[960A] A forma desse volume, se alguém pode julgar pelo título, é aparentemente epistolar, mas este volume excede o de uma carta, estendendo como faz na extensão de um livro. Minha apologia deve ser que o assunto no qual tu me ofereceste escrever é maior do que pode ser condensado nos limites de uma carta.
Tenho certeza que tu não esqueces do nosso encontro, quando, no meu caminho para Jerusalém, no prosseguimento de um voto, para ver as relíquias da permanência do Senhor na carne e nas marcas atuais. Eu te procurei na cidade de Antioquia, e tu deves lembrar-te de todas as diferentes conversas que tivemos, pois não era usual que o nosso encontro fosse silencioso, quando a sua sagacidade fornecia tantos assuntos para a conversa. Como sempre acontece nesses momentos, a [960B] conversa fluiu até que nós viemos a discutir a vida de algumas pessoas famosas.
Nesse caso, foi uma mulher que nos forneceu o nosso assunto; se, de fato, ela devia ser uma mulher de estilo, eu não sei se é conveniente designá-la pelo seu sexo, a quem ultrapassou tanto o seu sexo. Nosso interesse por ela não foi baseado na narrativa de outros, mas nossa conversa foi uma descrição acurada daquilo que aprendemos pela experiência pessoal, nem precisava ser autorizada por estranhos. Nem mesmo a referida virgem era desconhecida no nosso círculo familiar para fazer necessário aprender as maravilhas da sua vida através dos outros, mas ela veio dos mesmos pais que nós sendo então que falaremos da primeira fruta ofertada, porque ela foi a primeira nascida do útero de minha mãe.
Então, tu decidiste que a história de sua nobre carreira vale a pena ser contada para evitar que tal vida seja desconhecida no nosso tempo, e que o registro de uma mulher que cresceu [960C] pela filosofia para a maior elevação da virtude humana passando pelas sombras do esquecimento inútil, eu acho por bem obedecer a ti e, em poucas palavras, como eu posso melhor contar a história dela de uma maneira não meditada e num estilo simples.
Os pais de Macrina
O nome da virgem era Macrina; ela foi assim chamada por seus pais depois de uma famosa Macrina algum tempo antes na família do pai da nossa mãe que tinha confessado a Cristo [962A] como um bom atleta no tempo das perseguições. Este, de fato, era o seu nome para o mundo externo, aquele usado pelos seus amigos. Mas outro nome tinha sido dado a ela privadamente como resultado de uma visão antes do seu nascimento neste mundo. Porque, de fato, sua mãe era tão virtuosa que ela havia sido guiada em todas as ocasiões pela vontade divina.
Particularmente, ela amava tanto um modo de vida puro e sem mancha que ela não queria se casar. Mas desde que ela perdeu ambos os pais, e ela havia desabrochado na sua beleza de juventude e, a fama da sua boa aparência estava atraindo muitos pretendentes e havia muito perigo nisso, se ela não tivesse um companheiro de boa vontade, ela poderia sofrer algum fato não desejado, vendo que alguns homens, inflamados pela sua beleza, estavam prontos para seqüestrá-la, por causa disso ela escolheu para seu marido um homem que era conhecido e aprovado pela seriedade de sua conduta e assim ganhou o protetor de sua vida.
O nascimento de Macrina
No seu primeiro parto ela se tornou mãe de Macrina. Quando veio a hora devida, as dores agudas do parto terminaram, ela adormeceu e parecia estar carregando em suas mãos aquilo que ainda estava em seu útero. E alguém com forma e brilho mais esplêndido que um ser humano apareceu e dirigiu-se à criança que ela estava carregando pelo nome de Thecla, que Thecla, eu quero dizer, que é tão famosa entre as virgens.
Depois de fazer isto e testemunhar isso três vezes, ele partiu da sua vista e deu a ela um parto fácil, de maneira que, naquele momento, ela acordou do sono e viu seu sonho realizado. Agora, esse nome era usado apenas em segredo. Mas [962C] parece-me que a aparição não fala tanto para guiar a mãe para a escolha certa do nome, mas para prever a vida da jovem criança e para indicar pelo nome que ela deveria seguir o modo de vida do nome.
A infância de Macrina
Bem, a criança foi educada. Embora ela tivesse a sua própria ama-seca, ainda como regra sua mãe tomou os seus cuidados com suas próprias mãos. Depois de passado o estágio da infância, ela mostrou-se com talento para aprender e os seu poderes naturais foram mostrados em todo o estudo no qual seus pais julgaram dirigi-la. A educação da criança era tarefa da mãe. Ela não utilizou, no entanto, o método mundano de educação o qual utiliza a prática do uso de poesia como meio de treinamento nos primeiros anos da crianças.
Seu contrato de casamento
Preenchendo seu tempo com estas e ocupações similares, e atingindo então uma considerável proficiência no trabalho da lã, a menina em crescimento atingiu seu décimo segundo ano, a idade quando o florescimento da adolescência começa a aparecer. Com relação a isso, é digno de nota que a beleza da menina não podia ser ocultada, apesar dos esforços para escondê-la. Nem em todo o campo, parece, existia algo tão maravilhoso quanto a sua beleza, em comparação com a das outras.
Tão justa era ela que mesmo as mãos dos pintores não podiam fazer justiça à sua [964B] graça; a arte, que inventa todas as coisas e tenta as grandes tarefas, mesmo como modelar uma imitação e figuras dos corpos celestes, não poderia reproduzir com precisão a beleza de sua forma. Em conseqüência, um grande enxame de pretendentes, propondo casamento, ajuntavam-se ao redor de seus pais. Mas seu pai, um homem astuto, com reputação de tomar boas decisões, retirou do resto um jovem relacionado à família, que acabara de deixar a escola, de bom nascimento e notável equilíbrio, e decidiu dar sua filha em contrato de casamento a ele, tão logo ela fosse madura o suficiente.
Nesse meio tempo, ele desenvolveu grandes esperanças, e ofereceu a seu futuro sogro sua fama em falar em público como se fosse um de seus dons; ele exibia o [964C] poder da sua eloqüência em controvérsias forenses em favor dos erros dos culpados.
A morte de um jovem
Mas a inveja cessou essas brilhantes esperanças jogando para longe o pobre rapaz da vida. Agora, Macrina não era ignorante ao esquema de seu pai, mas quando o plano formado para ela foi despedaçado pela morte do jovem, ela disse que a intenção de seu pai era equivalente ao casamento e decidiu permanecer solteira daí em diante, como se a intenção tivesse realizado o fato.
E, de fato, a sua determinação foi mais firme do que poderia ser esperado para a sua idade. Por que quando seus pais traziam-lhe propostas de casamento, como sempre acontecia devido ao grande número de pretendentes que vinham atraídos pela fama de sua beleza, ela dizia que era absurdo e contra a lei não ser fiel ao casamento que havia sido arranjado para ela por seu pai, mas ser compelida a considerar outro; porque na natureza das coisas havia apenas um casamento, como há um nascimento e uma morte.
Ela persistiu que o homem que havia estado ligado a ela pelo [964D] arranjo de seus pais não estava morto, mas que ela considerava que ele vivia para Deus, graças à esperança da ressurreição que estava somente ausente, não morto; era errado não manter a fé com o noivo que estava longe.
Macrina decide nunca deixar sua mãe
Com tais palavras, repelindo aqueles que tentavam fazê-la mudar de idéia, ela manteve a sua boa resolução em salvaguarda e resolveu não se separar de sua mãe em nenhum momento da vida. De maneira que sua mãe dizia sempre que ela havia carregado o resto de suas crianças na sua barriga por um tempo definitivo, mas que ela criou sempre Macrina, porque, de alguma maneira ela sempre carregou Macrina consigo. Mas a companhia da filha não era infrutífera, nem um fardo para a mãe.
Porque eram válidas muitas daquelas atenções e trabalhos servis recebidos de sua filha [966A], e os benefícios eram mútuos. Porque a mãe tomava conta da alma da menina e a menina tomava conta da alma da mãe, e em todos os aspectos preenchia os serviços requeridos, chegando mesmo a preparar as refeições para sua mãe com suas próprias mãos. Não que ela fizesse disso a sua atividade principal. Mas depois que ela havia ungido suas mãos pelo desempenho de tarefas religiosas porque julgou que o zelo por isto era consistente com os princípios de sua vida no tempo que foi deixado, ela preparava comida para sua mãe com sua própria labuta.
E não apenas isso, mas ela ajudava sua mãe a manter o seu fardo de responsabilidade. Por que ela tinha quatro irmãos e cinco irmãs e pagava taxas para três governos diferentes porque sua propriedade estava espalhada em vários distritos. Em conseqüência [966B], sua mãe estar distraída com várias ansiedades, porque o seu pai tinha nesta época partido dessa vida. Por todos esses problemas, ela dividia a labuta de sua mãe, dividindo seus cuidados com ela e iluminando a sua pesada carga de sofrimentos.
No mesmo momento, graças à proteção de sua mãe, ela estava vivendo sua própria vida sem culpa, de modo que o olhar de sua mãe direcionou e testemunhou tudo o que ela fez; e também por sua própria vida instruiu grandemente sua mãe, levando-a para a mesma marca, quero dizer, aquela da filosofia, e gradualmente conduzindo-a para a vida imaterial e mais perfeita.
Basil retorna da universidade
Quando a mãe tinha providenciado excelentes casamentos para as outras irmãs, como era melhor em cada caso, o irmão de Macrina, o grande Basil, retornou depois de seu longo período de [966C] educação, já um hábil retórico. Ele estava envaidecido além da medida com o orgulho da oratória e desprezava os dignitários locais, superando em sua própria avaliação todos os homens de liderança e posição.
No entanto, Macrina o tomou pela mão, e com tal rapidez levou-o também em direção à marca da filosofia, que ele renunciou às glórias deste mundo e desprezou a fama ganha pelo discurso, e desertou disso para a sua vida ocupada onde a labuta de um é feita com as mãos de outro.
Sua renúncia à propriedade foi completa, para que nada devesse impedir a vida de virtude. Mas, de fato, sua vida e os atos subseqüentes, pelos quais tornou-se renomado por todo o mundo e colocou-o à sombra de todos aqueles que haviam ganho renome por sua virtude, iria [966D] necessitar de uma longa descrição e de muito tempo. Mas eu devo desviar minha história para a sua tarefa determinada.
Agora que todas as desordens da vida material haviam sido removidas, Macrina persuadiu sua mãe a desistir da vida comum e todo o estilo de vida ostentoso e os serviços domésticos aos quais ela estava acostumada antes, e trouxe a ela o seu ponto de vista para aquele das massas, e partilhou a vida das servas, tratando todas as suas escravas e criados como se eles fossem irmãos e pertencessem à mesma condição social que ela.
Mas, nesse ponto, eu gostaria de inserir um pequeno parênteses à minha narrativa e não deixar de relatar tal questão como a que se segue, na qual o sublime caráter da donzela é exibido.
A história de Naucratius
Segundo de quatro irmãos, de nome Naucratius, que veio logo depois do grande Basil, superava o resto em dons naturais, em beleza física, força, rapidez e habilidade para aprimorar sua mão para qualquer coisa. Quando [968A] ele atingiu seu vigésimo primeiro ano e havia dado tal demonstração de seus estudos ao falar em público que toda a audiência no teatro estava emocionada, ele foi guiado pela Divina Providência para desprezar tudo que já estava ao seu alcance e, levado por um irresistível impulso, retirou-se para uma vida de solidão e pobreza. Ele não levou nada consigo, somente si mesmo, salvo aquele de seus servos chamado Chrysapius, que o seguiu por causa da afeição que ele tinha para com o seu patrão e a intenção que havia formado de levar a mesma vida.
Então, ele viveu por si mesmo, tendo encontrado um lugar solitário às margens do rio Íris, um rio fluindo através do centro do Ponto. Ele nasce realmente na Armênia, passa através de nossas partes e descarrega sua corrente no [968B] Mar Negro. Próximo dali, um jovem encontrou um lugar com um crescimento luxuriante de árvores e um vale, debaixo do qual havia um ninho de passarinhos projetando-se sobre a massa de uma montanha.
Ali ele vivia longe, afastado dos barulhos da cidade e das desordens que cercavam as vidas, tanto do soldado quanto do advogado das cortes da lei. Tendo então se libertado do atordoamento de cuidados que impedem o homem de uma vida mais alta, com suas próprias mãos, ele procurou alguns idosos que estavam vivendo na pobreza e debilidade, considerando apropriado para seu modo de vida fazer de tal trabalho seu cuidado.
Então, o generoso jovem ia em expedições de pesca, e como ele era um perito em todo tipo de esporte, ele fornecia comida por todos os meios para os seus gratos clientes. E, ao mesmo tempo, por tais exercícios, estava domesticando sua própria humanidade.
Além disso, alegremente ele também obedecia aos desejos de sua mãe sempre que ela pedia. E então, dessas duas maneiras, ele guiou sua vida, [968C] a natureza de sua juventude pelas labutas e cuidado assíduo com sua mãe, e, além de manter os mandamentos divinos, estava viajando para a casa de Deus.
Deste modo, completou o quinto ano de sua vida como filósofo, pelo qual fez sua mãe feliz, tanto pelo modo no qual adornou sua própria vida pela continência, e pela devoção de todos os seus poderes para fazer o desejo dela que o criou.
A trágica morte de Naucratius
Então, caiu sobre a mãe uma dolorosa e trágica aflição, arquitetada, eu acho, pela adversidade, que trouxe problemas e tristeza para a família. Porque ele foi arrebatado repentinamente da vida. Nenhuma doença prévia lhes havia preparado para a desgraça, nem nenhuma dos usuais e conhecidos infortúnios trouxeram a morte para o jovem. [968D] Tendo iniciado uma das expedições pela qual ele fornecia as coisas necessárias para os idosos, ele foi trazido para a casa morto, juntamente com aquele Chrysapius, com quem dividia a sua vida. Sua mãe estava longe, três dias distante da cena da tragédia. Alguém veio a ela contando as más notícias.
Embora ela fosse perfeita na virtude, a natureza dominou-a como faz com os outros. Pois ela desmaiou. E, em um momento, perdeu a fala e a respiração, já que a razão lhe falhou sob o desastre, e ela foi jogada ao solo pelo assalto das marés do mal, como alguns nobres atletas batidos por uma inesperada desgraça.
Macrina, aquela que deu amparo à sua mãe
E agora, a virtude da grande Macrina foi exibida. Enfrentando o desastre com [970A] espírito racional, ela se preservou do colapso, e se tornou o suporte na fraqueza de sua mãe, elevando-a do abismo da dor, e, por sua própria firmeza e imperturbabilidade, ensinou à alma de sua mãe a ser corajosa. Em conseqüência, sua mãe não foi oprimida pela aflição, nem se comportou de maneira ignóbil e de modo feminino, como gritar à calamidade, ou rasgar seu vestido, ou lamentar sobre o problema, ou principiar cantos fúnebres com melodias pesarosas.
Pelo contrário, ela resistiu aos impulsos da natureza, e se aquietou tanto por reflexões que lhe ocorreram espontaneamente, como por aquelas que eram aplicadas por sua filha para curar a doença. Pois então, a nobreza do espírito de Macrina foi visível mais que tudo; já que [970B] a afeição natural a estava fazer sofrer. Pois ele era um irmão, e um irmão favorito, que havia sido arrebatado de tal forma pela morte.
No entanto, conquistando a natureza, ela tanto sustentou sua mãe com seus argumentos que ela, também, ergueu-se superior ao seu sofrimento. Além do que, a elevação moral sempre mantida pela vida de Macrina deu à sua mãe a oportunidade de rejubilar-se pelas bênçãos que possuía mais do que a dor do que havia perdido.
Mãe e filha fazem mais progressos na vida ascética
Quando os cuidados de conduzir uma família e as ansiedades por sua educação e estabelecimento na vida tiveram um fim, e a propriedade, uma causa freqüente do conhecimento mundano, tinha sido em sua maior parte dividida entre os filhos, então, como eu disse acima, a vida da virgem tornou-se o guia de sua mãe e conduziu-a para este filosófico e espiritual [970C] modo de vida.
E, afastando-a de todos os luxos costumeiros, Macrina continuou dirigindo a mãe a adotar o seu próprio ideal de humildade. Induziu-a a viver em pé de igualdade com o séquito de servas, também partilhava com elas a mesma comida, o mesmo tipo de cama em todas as necessidades da vida, sem nenhuma consideração com as diferenças de posição social.
Assim era o modo de suas vidas, tão grande a altura de sua filosofia, e tão sagrada sua conduta dia e noite faz a descrição verbal inadequada. Pois somente como almas livres do corpo pela morte são salvas dos cuidados desta vida, eram suas vidas removidas muito longe de todas as preocupações terrenas e ordenadas com a visão de imitar a vida angélica. Pois nem raiva ou inveja, ódio ou orgulho foi observado em seu meio, nem nada desta natureza, já que elas abandonaram todos os desejos vãos por honra e glória, todas as vaidades, arrogâncias e similares. A continência era o seu luxo, e a obscuridade a sua glória.
Pobreza, e a retirada de todas as materialidades supérfluas de seus corpos como poeira era a sua riqueza. De fato, todas as coisas que os homens perseguem obstinadamente em suas vidas, não eram nada, elas podiam facilmente dispensar. Tudo foi deixado, exceto o cuidado com as coisas divinas e a incessante ladainha de orações e hinos, co-extensivas no tempo, praticadas noite e dia. De forma que, para elas, significava trabalho, e o resto era assim chamado trabalho. O que as palavras humanas podem te fazer pretender com uma vida como esta, uma vida na fronteira entre natureza humana e espiritual?
Pois que a natureza esteja livre das fraquezas humanas é mais do que pode ser esperado da humanidade. Mas estas mulheres não alcançaram a natureza angélica e imaterial apenas na medida em que (estas) apareciam em forma corporal, e estavam contidas numa estrutura humana, e eram dependentes dos órgãos dos sentidos. Talvez alguns pudessem mesmo ousar dizer que a diferença não lhes estava em desvantagem, já que, ao viver num corpo e ainda ter semelhanças com seres imateriais, elas não haviam sido submetidas ao peso do corpo, mas suas vidas eram exaltadas aos céus e [972B] caminhavam para o alto na companhia dos poderes do céu.
O período coberto por este modo de vida não foi curto, e com um lapso de tempo seus sucessos aumentaram, como sua filosofia cresceu continuamente mais purificada com a descoberta de novas bênçãos.
Pedro, o irmão mais novo
Macrina foi ajudada principalmente por seu irmão Pedro para atingir o grande objetivo de sua vida. Com ele, as angústias da mãe cessaram, pois ele foi o último nascido na família. De imediato, recebeu os nomes de filho e órfão, porque quando entrou nesta vida seu pai passou do tempo dela.
Porém, a mais velha da família, assunto da nossa história, levou-o logo após o nascimento para uma ama de leite, que criou-o e educou-o [972C] num sublime sistema de treinamento, exercitando-o desde a infância nos estudos sagrados para não dar à sua alma a ociosidade que o levaria às coisas vãs. Assim, tendo sido todas as coisas para o jovem ? pai, professora, tutora, mãe, doadora de todos os bons conselhos ? ela produziu tais resultados que, antes que a idade da puerícia tivesse passado, quando ele ainda estava despindo o primeiro florescimento da tenra juventude, aspirou à alta marca da filosofia.
E, graças ao seus dons naturais, ele possuía talento em toda arte que envolvia trabalho manual, de forma que, sem nenhuma orientação, atingiu um completo e acurado conhecimento de tudo o que as pessoas comuns aprendem com tempo e dificuldade. Desdenhando ocupar [972D] seu tempo com estudos do mundo, e tendo em sua (própria) natureza um instrutor suficiente em todos os bons conhecimentos, e sempre procurando como modelo tudo o que era bom, avançou para tal altura de virtude que, em sua vida subseqüente, ele não pareceu nada inferior ao grande Basil.
Mas, neste momento, com sua mãe e irmã, ele estava cooperando completamente com elas na busca da vida angélica. Uma vez, quando uma severa fome ocorreu e as multidões de todos os quarteirões estavam freqüentando o retiro onde elas moravam, dirigidas pela fama de sua benevolência, a bondade de Pedro supriu com uma tal abundância de comida que o deserto parecia uma cidade por causa do número de visitantes.
A morte da mãe
[974A] Foi por volta dessa época que a mãe morreu, honrada por todos e foi para Deus, deixando sua vida nos braços de seus dois filhos. É válido dar as palavras de bênção que ela transmitiu a seus filhos, mencionando cada um dos ausentes com uma lembrança amorosa, de maneira que nenhum foi desprovido da bênção e encomendou especialmente a Deus em suas orações aqueles que estavam presentes com ela.
Pois quando aqueles dois sentavam próximo a ela em cada lado da cama, ela os tocou com suas mãos e pronunciou essas orações a Deus com suas palavras agonizantes: ?Para Ti, ó Senhor, eu dou o fruto do meu útero ambos tanto como as primícias quanto os décimos. Pois o meu mais velho é a primícia e o meu último nascido é o décimo. Cada um é santificado por Ti pela Lei, e eles são oferendas votivas para ti. Portanto, deixe Tua santificação [974B] descer sobre meu primeiro e meu décimo.?
Enquanto ela falava, indicava por gestos sua filha e filho. Então, após cessar a bênção, ela deixou de viver, tendo primeiramente ordenado a seus filhos colocar seu corpo no sepulcro de seu pai. Mas eles, após cumprirem a ordem, mantiveram-se fiéis à filosofia com ainda mais sublime resolução, até mesmo esforçando-se contra sua própria vida e eclipsando seu registro prévio pelos seus sucessos subseqüentes.
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