Dom Vital Corbellini Bispo de Marabá (PA) |
A educação é uma palavra latina educatio-onis, cujo significado é trazer para fora, levantar, levar a pessoa ao conhecimento, é obra e o resultado de educar, como correção também de comportamentos. Este processo de transmissão cultural sempre esteve presente na vida do ser humano como criado à imagem e semelhança de Deus. O Papa Francisco coloca a importância da educação na vida do ser humano e na vida eclesial. É importante ver essas noções em alguns dos santos padres que foram educadores de suas comunidades e escreveram também sobre a educação.
Tertuliano, padre dos séculos II e III, do Norte africano, falou que muitos objetos utilizados na cultura em geral vieram do mundo pagão que os consideravam como deuses. No entanto são objetos no uso cristão como nos santos antigos, encontrando-os entre as coisas de Deus e no Cristo mesmo como encarnado. Tertuliano disse que Mercúrio inventou as letras do alfabeto, tão necessárias à nossa atividade e ao nosso relacionamento com Deus. Esculápio foi o primeiro encontrar os medicamentos; Minerva usou por primeiro o navio. O autor africano afirmou que os cristãos utilizaram essas coisas e que essas ainda que fossem inventadas pelas pessoas, receberam a inspiração de Deus, que por primeiro ordenou, instruiu à vida do ser humano[1].
São Gregório de Nazianzo, bispo do século IV afirmou que todos os seres humanos dotados de intelecto concordam que a educação é o primeiro dos nossos bens; não só a mais excelente que despreza toda ambição, toda sofisticação nos discursos, visa à salvação e à beleza das realidades inteligíveis, mas também aquela pagã, que diz muita coisa sobre a realidade humana. As pessoas são chamadas a estimar o céu, a terra, o ar, e as coisas que nelas pertencem não como deuses, como fizeram muitos pagãos, mas como criaturas de Deus. Os cristãos como bons educadores devem colher nas coisas o que é útil à vida e fugir aquilo que não é conforme ao Criador.
O bispo de Constantinopla e de Nazianzo afirmou também que os cristãos aceitavam as coisas provenientes das ciências pagãs, a contemplação e a investigação da natureza. A rejeição ocorria quando essas coisas levavam aos demônios, ao erro, ao abismo da perdição. O bispo reconhecia que os cristãos eram ajudados pela verdadeira religiosidade, porque daquilo que é inferior os cristãos eram conduzidos ao conhecimento daquilo que é superior, tendo feito de sua debilidade a força da nossa doutrina. Desta forma não se deve desprezar a sua educação como fazem alguns, mas a educação pagã deve ser levada em consideração para que com a sua forma de educar possam chegar até Deus, e assim fugir da condenação[2].
São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla no século V dizia que a educação é dada também na imitação, no caso de São Paulo que foi fiel discípulo do Senhor, e andava muito nas comunidades para a evangelização. A educação é dada na família, na comunidade e nos diversos setores da sociedade. É preciso ter em mente a melhor educação que é dada pela obediência aos superiores, aos familiares, aos ministros, aos educadores, na superação da ignorância, para levar as pessoas ao temor do Senhor Deus[3].
São João Crisóstomo colocou a importância de educar os filhos com grande solicitude, advertindo-os no Senhor. A juventude é uma etapa importante na vida de modo que é preciso corrigi-la, nutri-la, acompanhá-la, com muita atenção e muita luta. Será muito importante formar o caráter na juventude para que possa enfrentar as tentações, os problemas sendo uma pessoa que ama a Deus, ao próximo como a si mesmo. É preciso formar os filhos e as filhas nas virtudes para que vivam bem os compromissos que eles e elas assumirão com o tempo nas suas famílias, nas comunidades e na sociedade. Todas as filhas e filhos devem ser educados na sabedoria como um fermento transforma toda a massa na sua beleza[4].
Ainda em São João Crisóstomo, realçou a importância da educação nos filhos, porque uma vez que essa ocorra, outras coisas passam em segundo plano. Será preciso educá-los na obediência, na fé e no amor. Se os pais querem que os seus filhos sejam obedientes, o bispo de Constantinopla afirmou que é preciso desde o início educá-los no bem, e adverti-los no Senhor (cfr. Ef 6,4). A palavra de Deus será muito importante na vida deles para que caminhem bem nas suas vidas. São João entendeu que é preciso tornar cristãos os filhos, seguidores do Senhor Jesus Cristo e da Igreja. Será importante apresentar a Sagrada Escritura para eles e elas, como forma de instrução e de seguimento à palavra de Deus. Os bons frutos virão nas pessoas, se forem educadas pelas Sagradas Escrituras, de modo que é preciso dar o exemplo, fazer com que desde a primeira idade, eles e elas se apliquem à leitura das Escrituras. É preciso educá-los nas coisas sábias que levam ao sacrifício, ao amor pela vida, à renúncia das coisas fáceis e não simplesmente dar-lhes as coisas que solicitam em tudo. As glórias terrenas passam de modo que é preciso que olhem as coisas futuras com Deus. Não será preciso que tenham uma vida longa, mas que alcancem a vida imortal, a vida sem fim[5].
São Gregório Magno, Papa dos séculos VI e VII afirmou que era importante na educação instruir com amor as pessoas e não pela dureza porque a hostilidade não leva a abraçar as coisas com alegria e com amor. A educação é dada no amor em vista da unidade com Deus e com o povo[6].
Nós vimos a educação como maneira de levar as pessoas até Deus e às pessoas para que educadas nas virtudes cristãs, participem um dia da vida eterna.
[1] Cfr. Tertulliano, La Corona, 8. In: La teologia dei padri, v. III. Città Nuova Editrice, Roma, 1982, pg. 30.
[2] Cfr. Gregorio di Naziano, Discorso funebre in onore di Basilio il Grande, 11. In: Idem, pg. 27..
[3] Cfr. Giovanni Crisostomo, Commento alla lettera ai Romani, 1,2. In: Idem, pgs. 250-251.
[4] Cfr. Giovanni Crisostomo, Omelie sulla prima lettera a Timoteo, 9,2. idem, pgs. 381-382.
[5] Cfr. Giovanni Crisostomo, Omelie sulla lettera agli Efesini, 21,1-2. Idem, pgs, 383-385.
[6] Cfr. Gregorio Magno, Lettere, 12 (A Pascasio, vescovo di Napoli), Idem, pg. 33.
CNBB
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