Image Point Fr | Shutterstock |
Nota vaticana esclarece que as pessoas não podem ser obrigadas a se vacinar. Contudo, deve-se levar em consideração a exigência superior do bem comum.
A população brasileira, nessa passagem de ano, está indo da euforia à apreensão com a vacinação contra a Covid-19. Não bastasse as dúvidas sobre a eficácia e mesmo sobre os riscos das diferentes vacinas (em grande parte oriundas de fake news e alarmismos infundados, que já abordamos em outro artigo), agora temos também a dúvida sobre sua disponibilidade para a população. Primeiro, o problema parecia ser burocrático, de lentidão de aprovação pela agência reguladora nacional, a Anvisa, depois vieram as dúvidas sobre a viabilidade de distribuição de algumas marcas que precisam ser armazenadas a baixas temperaturas, a falta de seringas e até a proibição de exportações por parte de países onde as vacinas estão sendo produzidas. Tudo isso no meio de bate-bocas entre políticos, disputas de egos e batalhas comerciais.
A Nota sobre a moralidade do uso de algumas vacinas anticovid-19
Em meio a tudo isso, a Congregação para a Doutrina da Fé publicou uma Nota sobre a moralidade do uso das vacinas, já apresentada em outros artigos da Aleteia. Em síntese, o documento esclarece que o fato de algumas vacinas terem sido desenvolvidas com experimentos que usavam células humanas, obtidas, vários anos atrás, a partir de abortos provocados, não implica em cooperação para com o aumento de abortos. Em outras palavras, não haverá mais abortos, no presente, porque as pessoas estão usando vacinas que, ao serem criadas em laboratório, empregaram essas células. Importante frisar que o material advindo dos abortos não é diretamente empregado na produção da vacina.
Além disso, a Nota esclarece que as pessoas não podem ser obrigadas a se vacinar. Contudo, deve-se levar em consideração a exigência superior do bem comum. Uma pessoa não deve por em risco toda a sua comunidade e, por isso, a Nota indica que aqueles que não se vacinarem devem ter cuidado redobrado para não se tornarem transmissores da Covid-19.
Uma questão de tempo
O início das campanhas de vacinação não nos livrará da necessidade de usarmos máscaras e manter o distanciamento social. A vacina protege a pessoa, que uma vez infectada pelo vírus conseguirá resistir, mas não impede que ela carregue esses vírus por certo tempo, podendo transmiti-lo para as demais. Somente quando grande parte da população estiver vacinada teremos a tão falada “imunidade de rebanho”, isso é, o vírus terá muito pouca possibilidade de encontrar pessoas suscetíveis à doença e não teremos mais surtos epidêmicos (as famosas “ondas” da doença).
Para chegarmos a esse nível de imunização da população, será necessário tempo. Particularmente num país de grandes proporções e muito populoso, como o Brasil, o fator tempo é ainda mais crítico. Não é só uma questão de vontade política ou de competência técnica, as dificuldades de logística e investimento financeiro são objetivas. Além disso, dependeremos não só de produção nacional, mas também de importações, um fator complicador a mais.
Evidentemente, consideradas todas essas dificuldades, quanto menos politicagem, mais competência e maior volume de recursos investidos, menos tempo será necessário para alcançarmos um grau satisfatório de imunização da população.
A solidariedade continua necessária
Sendo assim, a vacinação não nos desobriga da solidariedade. Em primeiro lugar, continuando a seguir as regras de distanciamento social e a usar máscaras (ainda com mais rigor se somos do grupo que não quer se vacinar). Mas não só isso…
Enquanto a vacinação não é acessível para toda a população, temos que batalhar para que ela esteja disponível para aqueles que enfrentam mais riscos por sua ocupação. Profissionais da saúde, professores e mesmo trabalhadores que têm muitos contatos interpessoais (como entregadores, motoristas de ônibus, garçons, etc.) terão que ter uma prioridade em relação àqueles que podem trabalhar em suas casas. Seguindo a mesma lógica, se houverem vacinas com graus diferentes de eficiência, é justo dar as vacinas mais eficientes àqueles que correm mais riscos. Idosos, indígenas e populações confinadas, como os presos, também tem direito a atendimento prioritário (e isso pode ser muito questionado, pelos que tem uma posição anticristã, particularmente em relação aos presidiários).
A comercialização também pode levar a uma corrida pelas vacinas e, caso seu preço seja definido pelas leis de oferta e procura, os ricos acabarão tendo acesso à vacinação em detrimento dos pobres, independentemente dos interesses do bem comum. Isso não implica que particulares não possam fazer a distribuição da vacina, mas devem ser criadas normas que garantam o acesso de todos à vacinação.
O Estado tem um papel em todo esse processo, mas os cidadãos também têm sua contribuição a dar. Quanto mais reconhecermos e defendermos que as regras de distribuição das vacinas devem levar em conta o bem comum e atender àqueles que estão em maior risco ou são mais suscetíveis à doença, mais facilmente esses critérios serão adotados pelos governantes.
Aleteia
Nenhum comentário:
Postar um comentário