Dom Paulo Cezar Costa Arcebispo de Brasília |
Jesus, na sinagoga de Cafarnaum
O texto de Mc 1, 21-28 nos apresenta Jesus na sinagoga de Cafarnaum. A cidade de Cafarnaum é o lugar onde, a partir de um certo momento, Jesus escolhe para habitar (Mt 4, 13). Jesus, muitas vezes deve ter freqüentado a sinagoga desta cidade. O texto é composto por duas cenas. Primeiro, Jesus ensina e seu ensinamento causa a admiração das pessoas (Mc 1, 21-22), depois, Jesus expulsa um demônio (Mc 1, 23-28). Logo após chamar seus quatro primeiros discípulos, Jesus entra na cidade de Cafarnaum. A cena situa-se num dia de sábado, na sinagoga de Cafarnaum. Sábado era o dia em que os judeus iam à sinagoga para ouvir e meditar a Palavra de Deus. A Palavra de Deus estava no centro da vida do judeu piedoso.
Na sinagoga Jesus ensina, mas seu ensinamento não era como o dos mestres da Lei da época, “pois ensinava como quem tem autoridade e não como os mestres da Lei” (Mc 1, 22). A autoridade do ensinamento de Jesus vem daquilo que ele é, o Filho de Deus. Os rabinos citavam os antigos mestres e os doutores do passado, Jesus lê a vontade de Deus e a interpreta sem intermediários, pois ele está intimamente unido ao Pai, toda a sua vida está repleta de Deus. Daí vem o poder (eksousía) de Jesus. A atitude das pessoas que se encontravam na sinagoga era de admiração com o seu ensinamento. A capacidade de admirar é fundamental na vida humana. Admira-se diante daquilo que Deus fez na história da Salvação e continua a fazer, hoje, na vida das pessoas e na história.
Agora, encontramos o confronto de Jesus com o espírito impuro. A primeira luta de Jesus, no Evangelho de São Marcos, não é contra os seus habituais adversários, mas contra o espírito do mau, aquele espírito que aliena o ser humano. Estava na sinagoga um homem possuído por um espírito impuro. No mundo judaico era opinião comum que o demônio podia tomar posse de uma pessoa. Também certas doenças psíquicas eram, nesta época, tidas como possessão diabólica. O demônio sabe quem é Jesus: “tu és o santo de Deus”. No Evangelho de São Marcos a luta de Jesus contra os espíritos impuros é constante, pois é uma das formas de mostrar a sua messianidade. Jesus não dialoga com espírito impuro, mas manda com autoridade: “Cala-te e sai dele”. Diz o texto bíblico que o “espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu” (Mc 1, 26). Jesus liberta esse homem. O ser humano não foi feito para ser aprisionado pelo mau, mas foi criado para viver livre como filhos (as) amados de Deus. De novo, a atitude das pessoas é de espanto. Jesus fala com autoridade e age com autoridade. Ele manda até nos espíritos maus e eles obedecem.
Jesus é o profeta como Moisés que fala e age com autoridade. A sua salvação encontra a pessoa humana lá onde ela está necessitada. Ele quer continuar a pronunciar uma Palavra de salvação para a nossa vida lá onde nos encontramos, lá onde a nossa vida precisa de salvação, de libertação. A sua salvação quer continuar a nos tocar no hoje da história.
Folheto: O Povo de Deus
Arquidiocese de Brasília
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