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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

PAIS DA IGREJA: Catequeses Mistagógicas (Parte 6/8)

São Cirilo de Jerusalém (313-350)

Catequeses Mistagógicas

IV. Terceira Catequese Mistagógica 

Sobre a Crisma e leitura da primeira epístola de São João, a começar com: «Vós tendes a unção de Deus e conheceis todas as coisas», até: «e por Ele não sejamos confundidos na sua vinda».

IV.1 Significação espiritual

1. Batizados em Cristo e dele revestidos, vos tornastes conformes ao Filho de Deus. Em verdade, Deus, predestinando-nos à adoção de filhos, nos fez conformes ao corpo glorioso de Cristo. Feitos, pois, participes de Cristo, não sem razão, sois chamados cristos e é de vós que Deus disse: «Não toqueis os meus cristos».5 Ora, vós vos tornastes cristos, recebendo o sinal do Espírito Santo, e tudo se cumpriu em vós em imagem, pois sois imagens de Cristo.

Ele, quando banhado no rio Jordão e comunicando às águas a força da Divindade, delas saiu e se produziu sobre ele a vinda substancial do Espírito Santo, pousando igual sobre igual. Também a vós, ao sairdes das águas sagradas da piscina, se concede a unção, figura daquela com que Cristo foi ungido. Refiro-me ao Espírito Santo, do qual o bem-aventurado Isaías, na profecia a respeito dele, disse, na pessoa do Senhor: «O Espírito do Senhor [repousa] sobre mim, pelo que me ungiu; enviou-me para levar a boa-nova aos pobres». 6

2. Na verdade, Cristo não foi ungido com óleo ou ungüento material por um homem. Mas foi o Pai que, estabelecendo-o com antecedência como Salvador de todo o universo, o ungiu com o Espírito Santo, conforme diz Pedro: «Jesus de Nazaré, a quem Deus ungiu com o Espírito Santo». E o profeta Davi exclamou: «Teu trono, ó Deus, é para os séculos dos séculos; cetro de retidão, o cetro de tua realeza. Amaste a justiça e por isso te ungiu Deus, teu Deus, com o óleo da alegria, mais que teus companheiros». E como Cristo foi verdadeiramente crucificado e sepultado e ressuscitou, e vós, pelo batismo, fostes, por semelhança, tidos por dignos de com ele ser crucificados, sepultados e ressuscitados, assim também na unção do crisma. Ele foi ungido com o óleo espiritual da alegria, isto é, com o Espírito Santo, chamado óleo de alegria, por ser causa da alegria espiritual. Vós fostes ungidos com o óleo, feitos, partícipes e companheiros de Cristo.

3. Vê, porém, que não imagines ser um simples ungüento. Pois, como o pão da Eucaristia, depois de epíclese do Espírito Santo, já não é simples pão, mas o corpo de Cristo, assim também este santo ungüento, com a epíclese, já não é puro e simples ungüento, mas é dom de Cristo e obra do Espírito Santo, pela presença de sua divindade. Com ele se unge simbolicamente tua fronte e os outros sentidos. Se, por um lado, o corpo é ungido com o ungüento sensível, por outro, a alma é santificada pelo santo e vivificado Espírito.

IV.2 O rito da unção

4. E primeiro sois ungidos na fronte para serdes libertados da vergonha que o primeiro homem transgressor levou por toda parte9 e para que, de face descoberta, contempleis a glória do Senhor. 10 Depois nos ouvidos, para terdes ouvidos conforme disse Isaías: «E o Senhor me deu um ouvido para ouvir» e o Senhor no Evangelho: «Quem tem ouvidos para ouvir que ouça». Em seguida nas narinas, para que, ao receberdes este divino ungüento, possais dizer: «Somos para Deus, entre os que se salvam, o bom odor de Cristo». Depois no peito, a fim de que, «tendo revestido a couraça da justiça, resistais aos artifícios do diabo». 14 Como na verdade o Salvador, após seu batismo e a descida do Espírito Santo, saiu a combater o adversário, assim também vós, depois do santo batismo e da mística unção, revestidos da armadura do Espírito Santo, resistis à força inimiga e a venceis dizendo: «Tudo posso naquele que me conforta, Cristo».

5. Feitos dignos desta santa unção, sois chamados cristãos. Assim, pela regeneração, mostra ser de direito o nome [de cristãos]. Antes, pois, de serdes declarados dignos do batismo e da graça do Espírito Santo, não éreis dignos deste nome, mas estáveis a caminho de serdes cristãos.

IV.3 Prefigurações escriturísticas

6. É necessário que saibais que há ó símbolo desta unção na Escritura Antiga. E na verdade, quando Moisés comunicou ao irmão a ordem de Deus e o estabeleceu sumo sacerdote, depois de lavar-se com água, o ungiu e foi ele chamado cristo, em virtude, evidentemente, da unção figurativa. Do mesmo modo, o sumo sacerdote, ao elevar Salomão à dignidade de rei, o ungiu, depois de lavar-se no Gion. Mas essas coisas lhes aconteceram em figura. A vós, porém, não em figura, mas, em verdade. Isso, já que o começo de vossa salvação remonta àquele que foi ungido pelo Espírito Santo. Cristo é realmente as primícias, e vós sois a massa: mas se as primícias são santas, é evidente que a santidade também passa à massa.

7. Guardai imaculada esta unção: ensinar-vos-á todas as coisas, se permanecer em vós, como ouvistes há pouco dizer o bem-aventurado João, explicando muitas coisas sobre a unção. Esta unção é a salvaguarda espiritual do corpo e a salvação da alma.

Foi isto que desde tempos antigos o santo Isaías profetizou, dizendo: «E preparará o Senhor para todos os povos nesta montanha». 24 Por montanha ele designa a Igreja, como outras vezes quando diz: «E nos últimos dias será visível a montanha do Senhor»; «Beberão vinho, beberão a alegria, serão ungidos de ungüento». E para que mais te assegures, ouve o que diz sobre este ungüento em sentido místico: «Transmite tudo isso às nações, pois o desígnio do Senhor se estende sobre todos os povos». 27

Assim, pois, ungidos com este santo crisma, guardai-o sem mancha e irrepreensível em vós, progredindo em boas obras e tornando-vos agradáveis ao autor de nossa salvação, Cristo Jesus, a quem a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

V. Quarta Catequese Mistagógica

Sobre o Corpo e Sangue de Cristo e leitura da primeira epistola aos Corintios: «Porque eu recebi do Senhor o que vos transmiti» 1, etc.

1. Este ensinamento do bem-aventurado Paulo foi estabelecido como suficiente para vos assegurar acerca dos divinos mistérios, dos quais tendo sido julgados dignos, vos tornastes con-corpóreos e consangüíneos com Cristo. O próprio Paulo proclama precisamente: «Na noite em que foi entregue, Nosso Senhor Jesus Cristo, tomando o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e o deu a seus discípulos, dizendo: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E tomando o cálice e tendo dado graças, disse: Tomai, bebei, isto é o meu sangue». 2 Se ele em pessoa declarou e disse do pão: «Isto é o meu corpo», quem se atreveria a duvidar doravante? E quando ele afirma categoricamente e diz: «Isto é o meu sangue», quem duvidaria dizendo não ser seu sangue?

2. Outrora, em Caná da Galiléia, por própria autoridade, transformou a água em vinho. Não será digno de fé quando transforma o vinho em sangue? Convidado às bodas corporais, realizou, este milagre maravilhoso. Aos companheiros do esposo não se concederá, com muito mais razão, a alegria de desfrutar do seu corpo e sangue?

V.1 Presença real de Cristo

3. Portanto, com toda certeza recebemo-los como corpo e sangue de Cristo. Em forma de pão te é dado o corpo, e em forma de vinho o sangue, para que te tornes, tomando o corpo e o sangue de Cristo, con-corpóreo e consangüíneo com Cristo. Assim nos tornamos portadores de Cristo (cristóforos), sendo nossos membros penetrados por seu corpo e sangue. Desse modo, como diz o bem-aventurado Pedro, «tornamo-nos participes da natureza divina». 54 Falando, outrora, aos judeus Cristo dizia: «Se não comerdes minha carne e não beberdes meu sangue, não tereis a vida em vós».6 Como não entendessem espiritualmente o que era dito, escandalizados, se retiraram, imaginando que o Salvador os incitava a comer carne humana.

5. Também no Antigo Testamento havia pães de proposição. Mas esses pães, por pertencerem à antiga aliança, tiveram fim. Na nova aliança o pão celeste e o cálice de salvação santificam a alma e o corpo. Pois, como o pão se adequa ao corpo, assim o Verbo se harmoniza com a alma.

6. Não consideres, portanto, o pão e o vinho como simples elementos. São, conforme a afirmação do Mestre, corpo e sangue. Se os sentidos isto te sugerem, a fé te confirma. Não julgues o que se propõe segundo o gosto, mas pela fé tem firme certeza de que foste julgado digno do corpo e sangue de Cristo.

V.2 Prefigurações escriturísticas

7. O bem-aventurado Davi te anuncia a força [deste mistério] dizendo: «Preparaste para mim a mesa à vista de meus inimigos». 10 Com isso ele quer dizer: Antes de tua vinda os demônios preparavam para os homens uma mesa contaminada e manchada, cheia de poder diabólico. Mas depois de tua vinda, ó Senhor, tu preparaste diante de mim uma mesa. Quando o homem diz a Deus: «Tu preparaste diante de mim uma mesa», que outra coisa quer ele insinuar, senão a mística e espiritual mesa, que Deus nos preparou em oposição ao adversário, isto é, em oposição ao demônio? Sim, é isso mesmo. Pois a primeira mesa tinha comunhão com os demônios, essa, ao contrário, comunhão com Deus. «Ungiste de óleo minha cabeça». Com o óleo te ungiu a cabeça, sobre a fronte, pelo sinal que tens de Deus, a fim de que te tornes assinalado santo de Deus. «E teu cálice inebria-me como o melhor». Vês aqui mencionado o cálice que Jesus tomou em suas mãos e sobre o qual rendeu graças dizendo: «Este é o meu sangue, que é derramado por todos, em remissão dos pecados».

8. Por isso também Salomão, aludindo a essa graça, disse: «Vem, come teu pão na alegria», o pão espiritual. «Vem» designa o apelo salutar e que faz bem-aventurado. «E bebe, de bom coração, teu vinho», o vinho espiritual. «Derrama o óleo sobre tua cabeça (vês aqui mais uma alusão à unção mística?) Traja sempre vestes brancas, já que Deus sempre favorece as tuas obras». «Pois agora Deus se agradou de tuas obras. Antes de te aproximares da graça eram tuas obras «vaidade das vaidades».

Todavia agora, tendo despido as velhas vestes e revestido espiritualmente a veste branca, é necessário estar sempre vestido de branco. Não dizemos isso absolutamente porque é preciso estar trajado de branco, mas porque deves, em realidade, revestir a veste branca, brilhante e espiritual, a fim de dizeres com o bem-aventurado Isaías: «Com grande alegria me rejubilei no Senhor, porque me fez revestir a vestimenta da salvação e me cobriu com a túnica da alegria». 19

9. Tendo aprendido e estando seguro de que o que parece pão não é pão, ainda que pareça pelo gosto, mas o corpo de Cristo, e o que parece vinho não é vinho, mesmo que o gosto o queira, mas o sangue de Cristo – e porque sobre isto dizia vibrando Davi: «O pão fortalece o coração do homem, para que no óleo se regozije o semblante» – fortalece o teu coração, tomando este pão como espiritual e regozije-se o semblante de tua alma. Oxalá, tendo a face descoberta, em consciência pura, contempleis a glória do Senhor, para ir de glória em glória, em Cristo Jesus Senhor Nosso, a quem a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

ECCLESIA

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF