Povo Guajajara é vacinado no interior do Maranhão |
Muitos
indígenas no país já comemoram a chegada do Plano Nacional de Vacinação contra
a Covid-19 nas aldeias, apesar da desinformação que desestimula indígenas a se
vacinarem, mas como “um sinal de esperança para ter o povo vivo por mais
tempo”, declara uma indígena Guajajara do Maranhão. Isso nas aldeias, porque os
indígenas que vivem em contexto urbano são excluídos do cronograma prioritário
de imunização - cerca de 46% da população indígena no Brasil. Dom Roque
Paloschi, presidente do Cimi, pede “urgência" em "reconhecer o total
desse grupo prioritário e alcançá-lo em sua totalidade”.
Andressa Collet - Vatican News
Os indígenas fazem parte dos grupos prioritários
para receber a vacina contra a Covid-19 no Brasil, segundo o Plano Nacional de
Vacinação apresentado pelo governo federal. Porém, dom Roque Paloschi,
presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), organismo vinculado à
CNBB que atua em defesa dos direitos dos povos indígenas, recorda que o
cronograma de imunização prioritária que contempla pouco mais de 410 mil
indígenas “não inclui a totalidade da população indígena que vive no Brasil”
porque exclui quem vive nas aldeias urbanas:
“O critério adotado demonstra racismo
institucional, uma vez que define como indígenas apenas povos que vivem em
aldeias de terras indígenas homologadas, ignorando os povos que vivem em
contexto urbano que, segundo dados do Censo IBGE, de 2010, são cerca de 46% da
população indígena no Brasil. O termo usado pelo ministro da Saúde, ‘indígenas
aldeados’, nos remete ao período da ditadura militar que representa uma
discriminação, onde o governo pretende definir de forma arbitrária quem é e
quem não é índio, estabelecendo assim um conflito com a Constituição
Brasileira, com os marcos legais nacionais e internacionais, e com o Movimento
Indígena. O Censo populacional de 2010 indica a existência de quase 900 mil
indígenas no Brasil. O Plano Nacional de Vacinação, portanto, precisa
reconhecer o total desse grupo prioritário e alcançá-lo em sua totalidade.”
A declaração de dom Roque é um reforço à uma nota divulgada pelo Cimi em 18 de janeiro quando se
posiciona sobre essa “exclusão de indígenas” do Plano de Vacinação do país e,
assim, ao acesso à saúde pública. O texto ainda recorda que indígenas que vivem
no contexto urbano, em grande parte, foram expulsos dos seus territórios por
invasores, o que não justificaria a exclusão no cronograma de vacinação: “o
fato do indígena estar fora da aldeia não faz com que ele deixe de ser
indígena”, salienta a nota do Cimi.
O conselho também traz dados de um estudo da
Universidade Federal de Pelotas em que aponta que a prevalência do coronavírus
entre a população indígena urbana (5,4%) é cinco vezes maior do que a
encontrada na população não indígena (1,1%). Por isso, o presidente do Cimi
fala em nome do Movimento Indigenista e pede “urgência na vacinação de toda a
população indígena do país”.
O lado mais vulnerável da pandemia
Em quase um ano de pandemia, de acordo com os dados
do Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena, integrado por lideranças
indígenas, 46.508 indígenas foram contaminados pela Covid-19 e 929 faleceram em
decorrência da doença, afetando diretamente 161 povos em todo o Brasil. A
vacina, portanto, através da imunização em massa, vai ajudar a combater a
disseminação do coronavírus sobretudo nos grupos mais vulneráveis, como dos
indígenas.
“Essa
vacina é a esperança da nossa sobrevivência.”
Tomar a vacina também é combater contra a desinformação nas aldeias |
A vacina da sobrevivência
No interior do Maranhão, no Território Indígena do
Rio Pindaré, que fica no município de Bom Jardim, a mais de 200 Km de São Luís,
a vacina já é uma realidade para o povo Guajajara, apesar dos desafios
enfrentados dentro das aldeias para combater um outro vírus, o da desinformação
que desestimula indígenas a se vacinarem. Em depoimento a Genilson Guajajara,
que participa do Coletivo de Comunicação Pinga-pinga das comunidades
tradicionais do Maranhão, a Arlete Viana dos Santos Guajajara contou sobre o
momento histórico e de esperança vivido na terra indígena. Ela é a atual
presidente da Associação Indígena Comunitária Mainumy:
“Pra
mim e acredito que para muitos parentes, a chegada dessa vacina dentro dos
territórios indígenas é sinal de esperança de ter o nosso povo vivo por mais
tempo. Porque, essa maldita doença, ela já matou muitos e muitos parentes.
Então, para gente é uma esperança muito grande de ter o nosso povo vivo por
mais tempo. É uma pena que existe muito fake News. Tem pessoas que acham que
estão vivendo somente para espalhar essas fake News, tanto no Brasil quanto no
mundo inteiro. Então, isso acaba atrapalhando muita a questão da vacinação
dentro dos territórios. Mas, assim, nós enquanto lideranças, temos esse papel
de, na verdade, fazer articulação e desmentir essas fake news dentro dos
territórios. Como podemos fazer isso? Chamando os parentes, conversando e
explicando como é que funciona a vacina. Enfim, fazendo a nossa parte mesmo
para o bem de toda a nossa população, porque essa vacina ela é a esperança de
sobrevivência nossa.”
Vatican News
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