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Ora, uma vez que Deus e sua Igreja não erram, como pode ser o casamento uma instituição falida?
Enquanto estávamos, minha esposa e eu, em preparação para o matrimônio, um conhecido nos disse, em um ambiente de conversa informal, que pensássemos bem, pois o matrimônio era uma instituição falida. Essa afirmação causou-nos uma grande surpresa, pois, estando em fase de noivado, já havíamos tomado a decisão de receber esse sacramento. Colocando, entretanto, o espanto de lado, é interessante perguntarmos o porquê tal alegação foi feita.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que se constitui uma das principais fontes de dados do Brasil, os brasileiros estão se casando cada vez menos. Em 2019, foram registrados 1.024.676 casamentos civis, o que representa uma redução de 2,7% em relação ao ano anterior. Desse total, 9.056 ocorreram entre pessoas do mesmo sexo. O número de casamentos registrados em cartório recuou em todas as regiões, com mais intensidade no Sudeste (-4,0%) e menos no Norte (-0,3%). Além disso, houve também uma diminuição no tempo de duração do casamento na última década. Em 2019, o tempo médio entre a data do casamento e o divórcio foi de 13,8 anos; em 2009, era de 17,5 anos. Acrescenta-se ainda a esse dado que 48,2% dos divórcios ocorreram após menos de 10 anos de casamento. Parece-nos que os brasileiros estão cada vez menos motivados a se casar, e, quando se casam, estão menos motivados a manter a promessa feita “até que a morte os separe”.
Para proceder a uma análise do ponto de vista da fé, devemos primeiro ter em mente que o matrimônio não é uma instituição humana, mas, sim, divina. Este foi instituído por Cristo, de modo que São Paulo, em sua carta aos Gálatas, vai explanar sobre o mistério no qual um homem e uma mulher são chamados a se amar “como Cristo amou a Igreja” (Ef 5,22-33). Ora, uma vez que Deus e sua Igreja não erram, como pode ser o casamento uma instituição falida? Resposta: não é uma instituição falida! Pelo contrário é a única instituição na qual o homem pode ser verdadeiramente feliz, seja por meio do matrimônio entre um homem e uma mulher, seja pelo matrimônio espiritual entre um(a) vocacionado(a) e Deus.
Sacramento
O que acontece, todavia, é que grande parte dos casais não tem em mente essa dimensão divina do sacramento do matrimônio, seja por má-formação na fé, seja pela cultura moderna que atribui status de cárcere ao casamento. Muitos são os que se unem por um mero formalismo social. Nessa dimensão, abre-se espaço para o egoísmo, para o individualismo e para o egocentrismo, de modo a culminar na descrença para com a união marital e, muitas vezes, em seu término. Vale lembrar que estamos versando sobre as uniões válidas, pois há inúmeras que são inválidas perante a Igreja (cf. Nulidade matrimonial: Impedimentos, publicado por Vanderlei de Lima, no Aleteia, em 24/01/2020). Sendo inválida uma união, não há como se argumentar perante os ensinamentos da Igreja, pois trata-se de uma instância jurídica social e não de um sacramento.
O Concílio Vaticano II vai nos ensinar que “a comunidade profunda de vida e de amor constituída pelo casal foi fundada e dotada de suas leis próprias pelo Criador: está estabelecida sobre a aliança dos conjugues, quer dizer, sobre o seu consentimento pessoal e irrevogável”. Sendo algo perpétuo, para que seja vivido do modo como Cristo ensinou, deve ser bem preparado e não se pode pular etapas. Da mesma forma como um sacerdote tem de se preparar para a ordenação por meio do seminário e das faculdades de filosofia e teologia, também um casal deve ser preparar para o matrimônio. Deve-se ter um namoro santo, orientado por um bom sacerdote e um bom apoio familiar. Passa-se, após esse tempo de discernimento, à etapa do noivado, que é quando noivos e famílias se unem de modo mais visível, dialogando sobre os valores e sonhos em comum. Dado esse tempo, toma-se o passo do matrimônio, que deve ser a etapa final de concretização de um plano de vida, no qual Deus é o alicerce e diretor. Sobre essa base alicerçar-se-ão os filhos que Deus vier a conceder e, em última instância, a própria sociedade e a Igreja, pois são as famílias as células tanto do corpo social quanto do corpo místico de Cristo, que é sua Igreja.
O que Deus uniu, nada separa. Para isso temos de caminhar conforme os caminhos que Ele intuiu à sua Igreja, sem pular etapas, para que não caiamos também na falácia de acreditar ser o casamento uma instituição falida.
Aleteia
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