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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Onde realmente começa a minha liberdade?

Serhii Brovko|Shutterstock
por Jeanne Larghero

Liberdade não significa ter infinitas opções, mas poder escolher o que é certo.

Diz-se que “a liberdade de uma pessoa termina onde começa a da outra …” Mas de onde vem essa fórmula? É a melhor definição de liberdade?

Este ditado vem direto das chamadas filosofias “contratualistas” do Iluminismo. Ele pressupõe um mundo onde todos cuidam de si mesmos e onde todos têm as mesmas necessidades básicas. Nesse contexto, se todos adquirirem o hábito de fazer absolutamente o que gostam, ninguém terá muito ou nada.

Por exemplo: em um mundo onde todos esperam viver com boa saúde pelo maior tempo possível, é do interesse de todos parar de cuspir germes no rosto um do outro, mesmo porque ninguém gosta de cobrir o nariz com uma máscara de manhã até noite.

Liberdade e segurança

De fato, qualquer um pode entender o que Hobbes, Rousseau ou Kant quiseram dizer. A liberdade absoluta para todos é o fim da segurança de todos. Portanto, cada indivíduo deve renunciar à liberdade absoluta de vontade, tanto por interesse próprio quanto por ajuda mútua.

É preciso, então, adotar regras que garantam a segurança de todos e que nos protejam de nosso apetite pelo poder. Uma vez que essas regras tenham sido adotadas, a defesa das liberdades pode ser organizada: liberdades de opinião, expressão, associação, movimento e assim por diante.

A liberdade e o outro

Você pode fazer o que quiser, desde que não incomode ninguém?

Esta máxima visa o convívio em paz e permite que sejam lançadas as bases de um sistema democrático. Devemos nos surpreender que se tornou o início e o fim da conduta individual e coletiva.

Muitas pessoas parecem pensar: “Faça o que quiser, desde que não incomode ninguém!” Ou: “Explore todas as possibilidades, desde que a outra pessoa conceda consentimento”. De acordo com essa visão do mundo, “Eu sou livre” se traduz em “Eu faço tudo o que gosto, desde que não infrinja a liberdade dos outros”.

Essa ideia, entretanto, deixa de lado duas considerações críticas.

1 –  Compromisso

Primeiro, nossa liberdade não é automaticamente maior à medida que nosso campo de possibilidades se expande. Aquele que tem tudo ao seu alcance, mas nunca escolhe nada – diante de quem todas as portas se abrem, mas que nunca empurra nenhuma – está exatamente na mesma situação que um homem impedido de abrir qualquer porta.

Tal pessoa não faz nada, não porque a ação seja impossível, mas por impotência. Ele é incapaz de querer, de escolher, de se comprometer.

Na realidade, quanto mais livres queremos ser mais temos de ser capazes de nos comprometer. Uma capacidade forte, sólida e vigorosa de tomar decisões permite-nos escolher bem, e isso é a verdadeira liberdade.

2-  A serviço de um bem

Em segundo lugar, a liberdade não é medida pela quantidade de escolhas disponíveis para nós.

A pergunta que devemos fazer não é: “Até onde pode ir a liberdade – de opinião, de expressão, de movimento?” A única pergunta que realmente vale a pena fazer é: “Como devemos usar nossa liberdade de escolha?”

O que nos torna livres é a capacidade de criar e escolher projetos pelos quais valha a pena defender e lutar. Paradoxalmente, ser livre é estar sempre a serviço de um bem: luz para a inteligência e ímpeto para a vontade.

Portanto, vão vamos defender as liberdades com o objetivo estéril de autopreservação. A liberdade é comprovada e testada no compromisso, e o compromisso é acionado quando o amor entra em ação.

Assim, minha liberdade não termina onde começa a das outras pessoas. Ela termina quando não tenho nada para amar, quando não vejo mais nada que valha a pena salvar.

Decidir amar a vida e desejar um mundo onde cada um não cuide apenas de si mesmo é o coração da liberdade. É o valor de nossos objetivos que é a verdadeira medida de nossa liberdade.

Aleteia

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF