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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

PAIS DA IGREJA: Sobre a Vida de Moisés (Parte 18/20)

São GREGÓRIO DE NISSA

(Aprox. 330-395)

Sobre a Vida de Moisés

Tradução segundo a Patrologia Grega de Migne
com base na versão de D. Lucas F. Mateo

História de Moisés

Capítulo 44

Que a serpente levantada no deserto é símbolo do mistério da cruz o ensina abertamente a palavra do Senhor quando diz: Da mesma forma que Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do homem (Jo 3, 14). Novamente marcha o pecado por seu caminho habitual, avançando regularmente em uma concatenação malvada, com uma lógica perversa. E o Legislador, como um médico, amplia a cura conforme o progresso do mal. Posto que a mordida das serpentes se havia tornado ineficaz para os que olhavam para a figura da serpente, pelo já explicado entendes bem o simbolismo, aquele que maquina enganos tão diversos contra nós inventa outro caminho para o pecado. Também agora podemos observar que isto mesmo sucede a muitos. Com efeito, muitos que reprimem a paixão da concupiscência por meio de uma vida mais sensata, cheios de soberba, se lançam ao sacerdócio contra o plano de Deus, por esforços humanos e intrigas para ser escolhidos. Aquele a quem o relato acusa de fazer o mal aos homens é o que empurra a esta perversa cadeia de pecados. Com efeito, depois que, por causa da fé naquele que está elevado sobre o madeiro, cessou a terra de dar a luz serpentes contra os que estavam cheios de concupiscência, e eles se acreditaram mais fortes que as mordidas venenosas, então, quando se ultrapassa a paixão relativa à concupiscência, se apresenta a enfermidade do orgulho. Julgando que é pouco estar no lugar em que foram colocados, se lançam à dignidade do sacerdócio, intrigando para afastar aqueles que receberam por sorte esta função sagrada da parte de Deus. Estes desaparecem deglutidos pelo abismo. Os que haviam de seu grupo sobre a terra foram abrasados por raios (Nm 16, 31-35). Penso que com este relato a palavra ensina que o final da exaltação própria do orgulho é a descida para debaixo da terra. Talvez alguém, inspirando-se nestas coisas defina a soberba, não sem razão, como uma subida para baixo. Não estranhes se este pensamento está em contradição com o sentir de muitos. As pessoas pensam que com o nome soberba se designa o estar acima dos demais. A verdade do que foi aqui narrado confirma nossa definição. Com efeito, se os que se elevaram a si mesmos acima dos demais se afundaram no abismo da terra aberta debaixo deles, talvez ninguém repudie a descrição que define o orgulho como uma caída ao mais baixo. Moisés ensina a quem contempla estas coisas a ser comedidos e a não envaidecer-se com os êxitos, mas a administrar sempre bem o presente. Pois ainda que hajas sido mais forte que os prazeres, não por isso estás isento de ser preso por outra forma de paixão. Toda paixão é uma caída enquanto é paixão. Não há nenhuma diferença de caída na diversidade de paixões: quem resvalou na suavidade do prazer, caiu; e quem foi derrubado pelo orgulho, caiu. Para quem tem inteligência não é desejável nenhuma forma de caída, pois toda caída, enquanto caída, deve ser igualmente evitada. Por esta razão, se agora vês em algum lugar alguém que se purificou da debilidade dos prazeres, porem que se lança de novo com afã ao sacerdócio por julgar que está acima dos demais, pensa que, na mesma elevação do orgulho, o vês cair terra abaixo. No que segue a continuação, a Lei ensina que o sacerdócio é um assunto divino, não humano. O ensina desta forma: Havendo marcado as varas de cada tribo com o nome dos que as haviam oferecido, Moisés as colocou sobre o altar de Deus, de forma que a vara distinguida das outras por um prodígio divino fosse o testemunho da eleição do céu (Nm 17, 6 -11). Feito isto, as varas dos demais permaneceram como estavam, porem a vara do sacerdote, que havia lançado raízes em si mesma não por uma umidade vinda de fora, mas pela força metida por Deus dentro dela, germinou ramos e frutos, e o fruto, - era uma amêndoa-, chegou a amadurecer. Este acontecimento ensinou a todo o povo a permanecer submisso em boa ordem. No fruto que produziu a vara de Aarão, podemos ver como a vida no sacerdócio deve ser continente, severa e dura na manifestação externa da conduta, porem levando por dentro, no oculto e invisível, o fruto que se come, o qual se mostra quando, com o tempo, amadurece o comestível, parte-se a casca rugosa e se abre a envoltura lenhosa do fruto.

Capítulo 45

Se chegasses a saber que a vida de um sacerdote é doce, folgada e cor de rosa, como aqueles que se vestem de linho e púrpura e engordam em mesas esplêndidas (Lc 16, 19), que bebem vinho filtrado, estão ungidos com o melhores perfumes e reúnem para si tudo o que parece suave ao gosto superficial dos que desfrutam de uma vida mole, poderias aplicar com toda exatidão o dito evangélico: olhando o fruto, não reconheço a árvore sacerdotal, pois um é o fruto do sacerdócio e outro muito diferente este (Lc 6, 43-44). Aquele fruto é a continência, este é a moleza; aquele não está alimentado por umidade terrestre, a este regam muitos arroios de prazeres daqui de baixo, graças aos quais nesta hora o fruto de vida se colore de rosa. Uma vez que o povo se tenha purificado também desta paixão, atravessa a vida estrangeira guiando-o a Lei pelo caminho real, sem desviar-se de um lado ou de outro (Nm 20, 17). É perigoso para o caminhante desviar-se para qualquer lado. Quando dois precipícios se estreitam no caminho de um rompente elevado, é perigoso para quem marcha por ele desviar-se para uma parte ou outra, pois o abismo do precipício traga igualmente a quem se desvia de um lado ou de outro; assim a Lei quer que quem segue suas pegadas não abandone o caminho, o qual, como diz o Senhor, é estreito e empinado (Mt 7, 14), isto é, que não se desvie nem à esquerda, nem à direita. Esta palavra, ao definir que as virtudes se encontram no meio, contem este ensinamento: todo vício nasce ou por falta ou por excesso no fazer em relação à virtude. Assim com respeito ao valor, a covardia é uma falta de virtude, e a temeridade um excesso: o que está livre destes extremos se encontra situado no meio dos vícios que se encontram em seus flancos. Isto precisamente é a virtude. Da mesma forma todas as demais coisas se encontram, em sua relação com o bem, no meio de vizinhos perigosos. A sabedoria ocupa o lugar intermediário entre a astúcia e a candura: nem a astúcia da serpente é aprovada, nem a candura da pomba, se tomarmos cada uma delas separadamente em si mesma (Mt 10, 16), pois a virtude consiste na disposição intermediária que modera estas duas. O que está falho de temperança é um libertino, enquanto que quem se excede em sua prática cauteriza a própria consciência, como declara o Apóstolo (1Tm 4, 2): um, de fato, se entregou voluntariamente aos prazeres, enquanto o outro sente horror ante o matrimônio, como se fosse adultério. A disposição intermediária entre estes dois é a temperança. Posto que, como diz o Senhor, este mundo está sob o poder do maligno (1Jo 5, 19), e para quem segue a Lei tudo quanto se opões à virtude - isto é, a maldade - lhe resulta estranho, aquele que marcha através deste mundo levará a bom termo durante sua vida este caminho da virtude, se não perder a grande estrada, pisada e abrandada pela virtude, sem desviar-se pelo vício para caminhos impraticáveis que estão aos lados. Como já foi dito, a tentação do adversário - que, em qualquer situação, encontra ocasiões para desviar-nos para o mal - cresce juntamente com o progresso da virtude. Na hora que o povo cresceu muito na vida segundo Deus é quando o inimigo tenta atacar com outra forma de tentação segundo o uso de melhores estratégias. Estes quando julgam difícil vencer a frente do exército do inimigo, superior em forças, o combatem com emboscadas e enganos. Por esta razão, a estratégia do mal não apresenta frontalmente sua força contra aqueles que estão robustecidos pela Lei e a virtude, mas realiza a tentação veladamente, com emboscadas. Chama agora a magia como aliada para atacar. O relato diz que era um adivinho e um investigador do vôo das aves, o qual tinha um poder daninho contra os adversários, sem dúvida por alguma força dos demônios. Este estava sendo pago pelo chefe dos madianitas para danar com maldições os que viviam para Deus, porem trocou a maldição em benção (Nm 22, 2-35). Nós, por coerência com nossa exegese anterior, interpretamos que nem sequer a magia tem força contra quem vive na virtude; quem está fortalecido pela ajuda de Deus vence toda tentação.

ECCLESIA Brasil

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF