Papa Leão XII. Crédito: domínio público |
Roma, 05 fev. 21 / 10:03 am (ACI).- Nos últimos dias, circulou nas redes sociais uma fake news segundo a qual o Papa Leão XII se opôs à vacina contra a varíola. Nesta nota, contaremos como essa farsa ou notícia falsa aconteceu.
A fake news se baseia em uma frase atribuída ao Papa que liderou a Igreja entre 1823 e 1829, e que diz: “Quem participa da vacinação deixa de ser filho de Deus: a varíola é um castigo querido por Deus, a vacina é um desafio contra o Céu”.
“A frase aparece em uma longa sequência de citações na literatura científica da segunda metade do século XIX, mas a origem das citações não tem uma fonte para atribuí-la a Leão XII”, explica Illaria Fiumi Sermattei, integrante do Faculdade de História e Bens Culturais da Igreja, da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
A fake news diz que o Papa também teria dito que a vacina contra a varíola era um “enxerto bestial”, já que a que Edward Jenner introduziu no final do século XVIII previa a inoculação de pus da varíola das vacas leiteiras, método que foi mais eficaz e seguro do que a inoculação de pus de varíola humana.
A especialista lembra que a fake news, além de “não estar documentada”, foi na verdade “uma notícia divulgada de segunda mão durante o conclave de 1823 pelo embaixador austríaco em Roma. Para este último, o futuro Leão XII era um candidato indesejável, porque era contrário à ingerência do poder europeu no governo da Igreja e por isso não agradava ao tribunal de Viena”.
Fiumi indica ainda que “o argumento da suposta proibição da vacinação querida por Leão XII para anular o que foi conquistado por seu antecessor Pio VII e seu secretário de Estado, o Cardeal Ercole Consalvi, não corresponde à realidade histórica, em linha com as inovações introduzida na Itália durante a ocupação francesa”.
“Esta informação não é exata porque na realidade, em 1824, Leão XII não proibiu, mas tornou opcional a vacinação, que se espalhou em Roma e nos Estados Pontifícios desde os primeiros anos do século XIX, sem suscitar escrúpulos morais ou religiosos por parte das autoridades, mas encontrando certa desconfiança em amplos setores da população”, disse a especialista.
“A confusão sobre a introdução de humores animais no corpo humano foi reforçada por alguns incidentes ocorridos durante as vacinações e que impressionaram a opinião pública, dificultando a disseminação ampla e rápida dessa prática no território”.
A especialista indicou que, de acordo com as disposições napoleônicas, posteriormente confirmadas "pelo edito consalviano de 1822, a vacinação era regularmente estruturada e fortemente recomendada, embora não fosse estritamente obrigatória".
Dado que houve algumas resistências à vacina contra a varíola, o Papa Leão XII decidiu torná-la opcional, “mantendo, como atestam fontes contemporâneas, a obrigação dos médicos de administrar a vacina gratuitamente a quem a solicitar”.
Fiumi destaca que o Papa, reconhecendo a importância da vacinação, conferiu o prêmio Esperón de Ouro ao médico da Lombardia chamado Luigi Sacco, “verdadeiro pioneiro da vacinação em massa da população”.
A especialista afirma que “a notícia do Papa antivacinas é, portanto, uma fake news”.
“Este engano que carece de qualquer fundamento histórico, teve, no entanto, extraordinário sucesso, em uma desordem frenética de textos científicos e populares, sites, blogs e filmes de autor” que promovem “a imagem de uma Igreja Católica oposta programaticamente ao progresso científico e civil, representada exemplarmente pela figura obscurantista Leão XII”, conclui a especialista.
Publicado originalmente por ACI Stampa.
ACI Digital
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